segunda-feira, fevereiro 26

Bons tempos...

Gabriela
(Antônio Carlos Jobim)

Vim do Norte, vim de longe
De um lugar que já nem há
Vim dormindo pela estrada
Vim parar neste lugar
Meu cheiro é de cravo
Minha cor de canela
A minha bandeira
É verde e amarela
Pimenta de cheiro
Cebola em rodela
Um beijo na boca
Feijão na panela
Gabriela
Sempre Gabriela

Passei um café inda escuro
E logo me pus a caminho
Eu quero rever Gabriela
De novo provar seu cheirinho
Manhã bem cedinho na mata
O sol derramou seu carinho
Um brilho na folha da jaca
Pensei em rever meu benzinho
Gabriela

Se ainda sobrasse um dinheiro
Podia comprar-te um vestido
E mais um vidrinho de cheiro
Contar-te um segredo no ouvido
Te trouxe um anel verdadeiro
Sonhei que era teu preferido
Pensei, repensei tanta coisa
Ah, me deixa ser teu marido
Pensei, repensei tanta coisa
Queria casar-me contigo
Gabriela, Gabriela

Todos os dias esta saudade
Felicidade, cadê você
Já não consigo viver sem ela
Eu vim à cidade pra ver Gabriela
Tenho pensado muito na vida
Volta, bandida, mata essa dor
Volta pra casa, fica comigo
Eu te perdôo com raiva e amor

Chega mais perto moço bonito
Chega mais perto meu raio de sol
A minha casa é um escuro deserto
Mas com você ela é cheia de sol
Molha tua boca na minha boca
A tua boca é meu doce, é meu sal
Mas quem sou eu nesta vida tão louca
Mais um palhaço no teu carnaval

Casa de sombra, vida de monge
Quanta cachaça na minha dor
Volta pra casa, fica comigo
Vem que eu te espero tremendo de amor

Em noite sem lua, pulei a cancela
Caí do cavalo, perdi Gabriela
Oh, lua de cera, oh, lua singela
Lua feiticeira, cadê Gabriela.

Ontem vim de lá do Pilar
Ainda ontem vim de lá do Pilar
Ontem vim do lado de lá
Ainda ontem vim do lado de lá
Já tô com vontade de ir por aí
É na corda da viola todo mundo samba
É na corda da viola todo mundo samba
Todo mundo samba, todo mundo samba
Quebra perna...
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Quando eu tinha uns 13, 14 anos, vivia enfiada na floricultura da minha vizinha. Adorava ficar lá admirando as flores e ouvindo música. E foi lá que ouvi, pela primeira vez, Tema de Amor de Gabriela, do Tom Jobim. No radinho de pilha deles, sempre sintonizado na minha rádio predileta, Cultura Am. Me lembro como se fosse hoje: fiquei imóvel, me apaixonei completamente por aquela música. Ficava o dia inteiro ouvindo rádio pra ver se tocava aquela obra-prima. E, alguns anos depois, em 1989, comprei o disco do Tom com essa pérola. Trata-se do Passarim, considero este o melhor disco do Jobim. Mais três que eu amo:

Passarim
(Tom Jobim)

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro partiu mas não pegou
Passarinho me conta, então, me diz
Por que que eu também não fui feliz
Me diz o que eu faço da paixão
Que me devora o coração
Que me devora o coração
Que me maltrata o coração
Que me maltrata o coração

E o mato que é bom o fogo queimou
Cadê o fogo, a água apagou
E cadê a água, o boi bebeu
Cadê o amor, gato comeu
E a cinza se espalhou
E a chuva carregou
Cadê meu amor que o vento levou

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho me conta, então, me diz
Por que que eu também não fui feliz
Cadê meu amor, minha canção
Que me alegrava o coração
Que me alegrava o coração
Que iluminava o coração
Que iluminava a escuridão
Cadê meu caminho, a água levou
Cadê meu rastro, a chuva apagou
E a minha casa o rio carregou
E o meu amor me abandonou
Voou, voou, voou
Voou, voou, voou
E passou o tempo e o vento levou

E a luz da manhã, o dia queimou
Cadê o dia, envelheceu
E a tarde caiu e o sol morreu
E de repente escureceu
E a lua então brilhou
Depois sumiu no breu
E ficou tão frio que amanheceu
Passarim quis pousar, não deu, voou
Voou, voou, voou, voou...

Bebel
(Tom Jobim)

Pra que tentar mais uma vez
Pra que lembrar aquela vez
O que você Bebel me fez
Como esquecer aquela vez
Bebel, Bebel
Bebel você é muito mais do que
Eu já sonhei e até
Até pensei me apaixonar
Porque você, sorrindo
É muito mais que lindo
Mas é bonita mesmo
É uma beleza, força da natureza

Bebel encostada no muro
Sonhando no escuro
À luz do luar
Bebel esta coisa mais louca
Esse beijo na boca
Que eu vou te dar
Você vai sonhar
Vai se apaixonar
Você vai chorar
Não chora Bel
Não chora Bebel
Não chora, não chora
Não chora, não Bebel

Bebel de cabelo molhado
Escorrido lavado
Nessas ondas de um mar de sul
Bebel que se volta de lado
E me encara com olhos
De inesperado azul
Você vai sonhar
Vai se apaixonar
Você vai chorar
Não chora José, não chora Zé
Não chora
Não chora
Não chora Bebel...

Borzeguim
(Tom Jobim)

É fruta no mato...
Borzeguim, deixa as fraldas ao vento
E vem dançar
Hoje é sexta-feira de manhã
Hoje é sexta-feira
Deixa o mato crescer em paz
Deixa o mato crescer
Deixa o mato
Não quero fogo, quero água
(deixa o mato crescer em paz)
Não quero fogo, quero água
(deixa o mato crescer em paz)
Hoje é sexta-feira da paixão
Sexta-feira Santa
Todo dia é dia de perdão
Todo dia é dia santo
Todo santo dia
Ah, e vem João e vem Maria
Todo dia é dia de folia
Ah, e vem João e vem Maria
Todo dia é dia
O chão no chão
O pé na pedra
O pé no céu

Deixa o tatu-bola no lugar
Deixa a capivara atravessar
Deixa a anta cruzar o ribeirão
Deixa o índio vivo no sertão
Deixa o índio vivo nu
Deixa o índio vivo
Deixa o índio
Deixa, deixa
Escuta o mato crescendo em paz
Escuta o mato crescendo
Escuta o mato
Escuta
Escuta o vento cantando no arvoredo
Passarim passarão no passaredo
Deixa a índia criar seu curumim
Vá embora daqui coisa ruim
Some logo, vá embora
Em nome de Deus

É fruta do mato...
Borzeguim deixa as fraldas ao vento
E vem dançar
E vem dançar

O jacu já tá velho na fruteira
O lagarto teiú tá na soleira
Uiraçu foi rever a cordilheira
Gavião grande é bicho sem fronteira
Cutucurim
Gavião-zão, gavião-ão
Caapora do mato é capitão
Ele é dono da mata e do sertão
Caapora do mato é guardião
É vigia da mata e do sertão
Deixa a onça viva na floresta
Deixa o peixe n'água que é uma festa
Deixa o índio vivo
Deixa o índio
Deixa

Dizem que o sertão vai virar mar
Dizem que o mar vai virar sertão
Deixa o índio
Dizem que o mar vai virar sertão
Diz que o sertão vai virar mar
Deixa o índio
Deixa...
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Tudo isso me deu saudade de um tempo em que eu ainda acreditava nas pessoas, no amor, na verdade, na música.

sábado, fevereiro 17

Desejo

Interrompo meu 'especial Carnaval' pra publicar aqui um belo e-mail que recebi do meu querido amigo Jansen nesta semana.

"Desejo", de Victor Hugo
Adaptado por Vinícius de Moraes

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles
Haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente
Para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco
Porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito
E irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro
Não insista em rejuvenescer,
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
E é preciso deixar
Que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso
E o riso contínuo é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo
Que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes,
E que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro
Quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum
De seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje,
Amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

sexta-feira, fevereiro 16

Carnaval 3

Um samba lindo. Alô Fer, alô Ste. Mais uma da Rosa ;-)
E também mais uma de pandeiro ;-)

Coitado do Edgard
(Haroldo Lobo e Benedito Lacerda)

Edgard chorou quando viu a Rosa
Gingando toda prosa
Numa linda baiana
Que ele não deu
(Coitado do Edgard)
(Coitado do Edgard)
Chorou de dar pena
Chamou Madalena
Entregou o pandeiro
E desapareceu
(Coitado do Edgard)
(Coitado do Edgard)

Madalena disse que Edgard
Não tem razão
Aquela baiana não foi ninguém que lhe deu
Rosa trabalhou o ano inteiro
E fez serão
Não sei por que Edgard se aborreceu.
______________________________
Gravada originalmente em 1944 por Linda Batista. Como curiosidade, na primeira vez Linda canta "Rosa trabalhou o dia inteiro".

Senhorita Pimpinella
(Silvino Neto e Paulo Barbosa)

Declamado:

- ela, com sotaque italiano e voz fina: Ai, mas eu já disse pra você que não é de direito. Todas as noite você sai, vai pruma festa, vai ? , vai pra tudo lugar e me deixa sempre em casa
- ele: Eu não posso levar você comigo, minha filha, nem em festa nem em lugar nenhum. Você não tem balangandã
- ela: Eu não tenho balangandã, eu não tenho acarajé. Mas eu mostro já pra você o que é que eu tenho. Vamos, pessoar

A italiana não tem balangandã
A italiana não tem acarajé (pois é)
Mas tem ravioli, tem talharini, tem espaguete
E tem polenta para quem quiser

Eu sou a italiana
De raça napolitana
Canta, canta, canta Pimpinella
Il Trovatore, la dona Estella
Bela, bela, bela, bela, bela
Senhorita Pimpinella.
___________________________
Gravada originalmente em 1939 por Paulo Silvino, compositor e humorista. Nesta gravação ele usou as vozes de seus personagens, Anestésio e Pimpinella, italiana do Brás. Esta marcha é contra a hegemonia da baiana, tão cantada mundo afora por Carmen Miranda e outros grandes intérpretes.

quarta-feira, fevereiro 14

Carnaval 2

Andorinha
(Silvio Caldas)

Andorinha
Teu verão está longe
Longe está o meu amor
Eu canto, eu choro
E a saudade me traz
Andorinha
Bailarina serena
A saudade de alguém que partiu
Como andorinha que fugiu

Bailarina serena que traça no espaço
Uma doce esperança
Esperança brejeira que traz
A saudade primeira
De alguém que partiu
Andorinha feliz
Que o destino não quis
Devo me conformar
Sou andorinha caída
na estrada da vida
Não posso voar.
__________________________
Belíssima marcha de Silvio Caldas gravada originalmente por ele em 1940. Regravada por Elizeth Cardoso, Dalva de Oliveira, Os Três Moraes, etc.

Menina que Pinta o Sete
(Ataulfo Alves e Roberto Martins)

Pinte o que quiser, menina
Pinte até seu coração
Porém eu lhe peço, menina
Não pintar o sete
Lá no meu coração
(oi, pinte, pinte, pinte)

Menina que pinta o caneco
Na rua
É dessas que vivem no mundo
Da lua
Menina que zomba do sol de Ipanema
Somente pra ficar morena

Menina que tem um andar diferente
Que passa bulindo
Mexendo com a gente
Menina que pinta outras coisinhas mais.
___________________________
Marcha gravada pelo Bando da Lua em 1935.

Madeira que Cupim não Rói
(Capiba)

Madeira do Rosarinho
Vem à cidade sua fama mostrar
E traz com seu pessoal
Seu estandarte tão original
Não vem pra fazer barulho
Vem só dizer e com satisfação
Queiram ou não queiram os juízes
O nosso bloco é de fato campeão
E se aqui estamos, cantando esta canção
Viemos defender a nossa tradição
E dizer bem alto que a injustiça dói
Nós somos madeira de lei
Que cupim não rói.
___________________________
Frevo de bloco lindo de morrer, gravado originalmente pelo Bloco Mocambinho da Folia, em 1962. Outras gravações conhecidas: Antonio Nóbrega, Claudionor Germano, etc.
"Contam que num dos concursos realizados pela prefeitura, o Bloco Batutas de São José (mesmo não estando numa de suas melhores fases) foi escolhido como a melhor agremiação a desfilar na passarela. O concorrente Madeira do Rosarinho se vê injustiçado pela decisão dos juízes. Seus dirigentes, indignados, logo procuraram Capiba e a ele pedem que componha uma marcha de bloco em desagravo." (Revivendo, CD 229)

terça-feira, fevereiro 13

E o Carnaval se aproxima...


Bom, não sei se todos meus amigos já sabem deste detalhe do meu passado, mas eu sou co-autora de um livro de marchinhas de carnaval organizado pelo meu querido Roberto Lapiccirella (vulgo Falecido, pros íntimos ;-)
o Antologia Musical Popular Brasileira - As Marchinhas de Carnaval, vol. 1. (Musa Ed.). Pois bem! Este livro tem 108 marchinhas, foi uma seleção bem importante, mas faltam tantas, nossa, muitas. Gostaria de fazer aqui um apanhado de algumas que estão ausentes no livro e que eu adoro. Vou fazer isso aos poucos.
Aproveito para convidar quem estiver aqui em SP no carnaval pra ir se divertir com a gente no Ó do Borogodó, onde faremos baile de sexta a terça.
Começo com um lindo samba de Alcides Rosa e Sebastião Gomes chamado Nosso Amor não Morreu, gravado pela Odete Amaral (A Voz Tropical do Brasil), em 1945.
Volta pra esse lar que ainda é seu
Volta, nosso amor não morreu
Sem você já não tenho alegria
Não suporto esta casa vazia
Volta, pois o meu rouxinol
Já não canta ao romper do dia
Nosso lar alegre hoje em dia é triste
A sua ausência ninguém resiste
Nosso lar tem sido desde então
Transformado num castelo de desilusão.
Tic-Tac
(Roberto Martins e Waldemar Silva)
O moreno que passa na rua
Bem defronte ao meu portão
Sabe que eu sinto um certo tic-tac
Tic-tac no meu coração
Ele é moço pelintra
Deve amar umas trinta
É rapaz pra chuchu
Esse lindo moreno
De mim fica zombando
Quando me vê chorando
Eu acabo tomando veneno
Quando estou no portão
Rezo a minha oração
Já não posso esperar
O moreno distante
Vendo a minha vontade
Só por perversidade
Atravessa e banca o importante.
____________________________
Gravada originalmente por Aracy de Almeida, acompanhada pelos Diabos do Céu, em 1935.

quinta-feira, fevereiro 1

Maldade...

Esse You Tube é demais, vejam isto, é real, conheço a pessoa que estava gravando ;-)

http://www.youtube.com/watch?v=i_MIPrZngRI