quarta-feira, junho 28

Ó do Borogodó

Só mesmo o Ó do Borogodó (que vcs podem ver na foto acima) pra proporcionar encontros como o da noite passada. Zé Barbeiro, Alessandro Penezzi, Eu - Roberta Valente e D. Inah, os músicos fixos da terça-feira, e nosso convidado da noite, o João Poleto, recebemos a visita dos grandes músicos Arismar do Espírito Santo, Proveta, Alessandro Kramer (o Bebê) e Yamandu Costa. Todos tocaram, lindamente, como de costume. Paramos às 4 da manhã, preciso falar mais? Ainda tive a honra de receber meus amigos Regina Braga e Drauzio Varella, de quem sou fã no úrtimo. Além de outros amigos queridos que apareceram por lá. Foi uma noite mágica, pra poucos privilegiados.

Agradeço diariamente pela existência do Ó do Borogodó. Obrigada Ste, obrigada, Leo. Minha admiração por vcs aumenta cada vez mais.

Ah, sim, e nessa noite maravilhosa aproveitamos pra comemorar: o nosso CD Baba de Calango (Grupo Choro RAsgado) foi indicado pro Prêmio Tim na categoria REvelação. Bão, né?

domingo, junho 18

Esta semana...

...começou como a marchinha do carnaval de 55:

Ressaca
(Zé da Zilda e Zilda do Zé)

"Tá todo mundo de ressaca
Ressaca, ressaca, ressaca
Ninguém agüenta mais
Eu vou mandar parar
Vai todo mundo pra casa curar..."

O que me deixou triste, pois não pude ir no churrasco dos meus amigos Stê, Fer e Léo, pra ver o jogo com eles. Nem na feijoada do Bira e do Henrique, nem pra São Matheus com a Beth (eu ia em todos, juro!).
É que estou descobrindo os prazeres do vinho... um perigo!

A alguns amigos que me perguntaram: não vou tocar no Ó esta terça, porque vou tocar com Luis Nassif (não deixem de conhecer seu blog) num evento da ABI. Mas vou pra lá depois tomar um vinhozinho ;-)

Na quinta vou tocar no Sesc Catanduva com minha querida amiga Anaí Rosa, Zé Barbeiro e João Poleto. Na sexta vamos tocar em ? - esqueci o nome da cidade. É perto de Catanduva. Sábado tenho uma festona de aniversário de um grande amigo (o único leitor aqui do Coisas Nossas ;-) e domingo "Tá todo mundo de ressaca..." de novo!

Hoje aproveito pra comentar sobre um CD que eu amo. Há uns dois meses, conversando com um amigo, o escritor Tony Monti, lembrei desse disco, que eu curti demais (na época em LP) lá pelos idos de 1985, 86: Os grandes sucessos do grupo America (1975). Como gosto desse disco. As minhas prediletas:

Lonely People
(Peek & Peek)

This is for all the lonely people
Thinking that life has passed them by
Don't give up until you
Drink from the silver cup
And ride that highway in the sky

This is for all the single people
Thinking that love has left them dry
Don't give up until you
Drink from the silver cup
You never know until you try

Well, I'm on my way
Yes, I'm back to stay
Well, I'm on my way back home

This is for all the lonely people
Thinking that life has passed them by
Do'nt give up until you
Drink from the silver cup
And never take you down or never give you up
You never know until you try.
____________________________________
I Need You
(Beckley)

We used to laugh, we used to cry
We used to bow our heads then
Wonder why
But now you're gone
I guess I'll carry on
And make the best of what you left to me
Left to me, left to me

I need you like the flower needs the rain
You know I need you
Guess I'll start it all again
You know I need you
Like the winter needs the spring
You know I need you, I need you

And every day, I'd laugh the hours away
Just knowing you were thinking of me
Then it came that I was put to blame
For every story told about me
About me, about me.
_______________________________________________________
A Horse With no Name
(Bunnell)

On the first part of the journey
I was looking at all the life
There were plants and birds and rocks and things
There was sand and hills and rings
The first thing I met was a fly with a buzz
And the sky with no clouds
The heat was hot and the ground was dry
But the air was full of sound

I've been through the desert
On a horse with no name
It felt good to be out of the rain
In the desert you can remember your name
'Cause there ain't no one for to give you no pain

After two days in the desert sun
My skin began to turn red
After three days in the desert fun
I was looking at a river bed
And the story it told of a river that flowed
Made me sad to think it was dead

After nine days I let the horse run free
'Cause the desert had turned to sea
There were plants and birds
And rocks and things
There was sand and hills and rings
The ocean is a desert with its life underground
And a perfect disguise above
Under the cities lies a heart made of ground
But the humans will give no love.
___________________________________________
Ventura Highway
(Bunnell)

Chewing on a piece of grass
Walking down the road
Tell me, how long you gonna stay here Joe?
Some people say this town don't look
Good in snow
You don't care, I know

Ventura Highway in the sunshine
Where the days are longer
The nights are stronger
Than moonshine
You're gonna go I know

'Cause the free wind is blowin' through
Your hair
And the days surround
your daylight there
Seasons crying no despair
Alligator lizards in the air

Wishin' on a falling star
Watchin' for the early train
Sorry boy, but I've been hit by
Purple rain
Aw, come on Joe, you can always
Change your name
Thanks a lot son, just the same.
________________________________________________
Tin Man
(Bunnell)

Sometimes late when things are real
And people share the gift of gab
Between themselves
Some are quick to take the bait
And catch the perfect prize that waits
Among the shells

But Oz never did give nothing to the Tin Man
That he didnt, didnt already have
And 'cause never was the reason for the evening
Or the tropic of Sir Galahad
So please believe in me

When I say I'm spinning round
Round, round, round
Smoke glass stain'd bright colors
Image going down, down, down, down
Soapsuds green like bubbles.
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Daisy Jane
(Beckley)

Flyin' me back to Memphis
Gotta find my Daisy Jane
Well, the summer's gone
And I hope she's feelin' the same

Well, I left her just to roam the city
Thinkin' it would ease the pain
I'm a crazy man
And I'm playin' my crazy game, game

Does she really love me
I think she does
Like the stars above me
I know because
When the sky is bright
Everything's all right

Flyin' me back to Memphis
Honey, keep the oven warm
All the clouds are clearin'
And I think we're over the storm
Well, I've been pickin' it up around me
Daisy, I think I'm sane
And I'm awful glad
And I guess you're really to blame, blame

Do you really love me
I hope you do
Like the stars above me
How I love you
When its cold at night
Everything's all right.
____________________________________________
Aproveito pra divulgar aqui um site que eu adorei, que me foi indicado por uma amiga: BricABrac.
Boa semana a todos!

sábado, junho 17

Alguns disquinhos etc. e tal

* Lucinha Bastos Canta a Amazônia II (gravado ao vivo em 2000): bonito CD da cantora paraense, traz músicas de Nilson Chaves, Vital Lima, Maria Lídia, Ruy Barata, Paulo André, etc. Algumas das que eu mais gosto:

Não Vou Sair
(Celso Viáfora)

A geração da gente
Não teve muita chance
De se afirmar, de arrasar, de ser feliz
Sem nada pela frente, pintou aquele lance
De se mudar, de se mandar desse país

E aí você partiu pro Canadá
Mas eu fiquei no "já vou já"
Pois quando tava me arrumando pra ir
Bati com os olhos no luar
E a lua foi bater no mar
E eu fui que fui ficando

Distante tantas milhas
São tristes os invernos
Não vou sair, tá mau aqui
Mas vai mudar
Os velhos de Brasília
Não podem ser eternos
Pior que foi, pior que tá não vai ficar

Não vou sair, melhor você voltar pra cá
Não vou deixar esse lugar
Pois quando tava me arrumando pra ir
Bati com os olhos no luar
A lua foi bater no mar
E eu fui que fui ficando...
_____________________________________
Flor do destino
(Nilson Chaves e Vital Lima)

Te amei assim como água de chuva
Que vai penetrando pra dentro do mundo
Te bebi assim como poço de rua
Que eu olhava dentro mas não via o fundo
Tu me deste um sonho
Eu te trouxe um gosto de tucumã
Tu me deste um beijo
E a gente se amou até de manhã
Veio o sol batendo
E nos despertou
Da gente virando terra, mato
Galho e flor
Água de riacho é clara e limpinha
Mas às vezes turva com a chuva violenta
Teu amor é um papagaio que "xina"
Dentro do silêncio da tarde cinzenta
E o amor é um rio, profundo rio
De muitos sinais
Onde os barcos passam
Conforme o vento deseja e faz
Ai, que inda me lembro
Disso que ficou
Da gente virando terra, mato
Galho e flor...
_____________________________
Foi Assim

Foi assim
Como um resto de sol no mar
Como a brisa na préamar
Nós chegamos ao fim

Foi assim
Quando a flor ao luar se deu
Quando o mundo era quase meu
Tu te fostes de mim

Volta meu bem, murmurei
Volta meu bem, repeti
Não há canção nos teus olhos
Nem amanhã nesse adeus

Horas, dias, meses se passando
E nesse passar, uma ilusão guardei
Ver-te novamente na varanda
A voz sumida em quase pranto
A me dizer, meu bem, voltei

Hoje esta ilusão se fez em nada
E a te beijar, outra mulher eu vi
Vi no seu olhar envenenado
O mesmo olhar do meu passado
E soube então, que te perdi

Pauapixuna

Uma cantiga de amor se mexendo
Uma tapuia no porto a cantar
Um pedacinho de lua nascendo
Uma cachaça de papo pro ar
Um não sei que de saudade doendo
Uma saudade sem tempo ou lugar
Uma saudade querendo, querendo
Querendo ir e querendo ficar

Uma leira, uma esteira
uma beira de rio
um cavalo no pasto
uma égua no cio
um princípio de noite
um caminho vazio
uma leira, uma esteira
uma beira de rio

E no silêncio uma folha caída
uma batida de remo a passar
um candeeiro de manga comprida
um cheiro bom de peixada no ar

Uma pimenta no prato espremida
outra lambada depois do jantar
uma viola de corda curtida
nesta sofrida sofrência de amar

E o vento espalhado na capoeira
a lua na cuia do bamburral
a vaca mugindo lá na porteira
e o macho fungando cá no curral

O tempo tem tempo de tempo ser
o tempo tem tempo de tempo dar
ao tempo da noite que vai correr
o tempo do dia que vai chegar.
___________________________________
Estas duas músicas de Ruy Guilherme Paranatinga Barata(1920-1990) e seu filho, Paulo André, ficaram famosas na voz de Fafá de Belém. A primeira foi tema da novela "Te contei?" e foi gravada ainda pelas cantoras Celeste e Maria Thereza. A segunda também foi gravada por Paulo André Barata e Leila Pinheiro. Também foi tema de novela.

* Sanfona e Realejo - Sivuca e Rildo Hora: Traz músicas dos dois compositores, além de alguns choros, como o belo Vale Tudo, de Jacob do BAndolim, dentre outras.

* Carlos Henry - Anjo Torto: Taí um lindo disco que não estourou (como quase tudo que é bom...). O Henry é uma grande figura, um amigo querido. Vocês podem ler uma crítica do CD aqui. O CD traz um time de feras: Edmilson Capelupi, Milton de Mori, Osvaldinho da Cuíca, Léa Freire, Arismar do Espírito Santo, Guello, Silvia Goes, Proveta, Eduardo Gudin, etc., além das maravilhosas cantoras Maria Martha e Clarisse, e meu amado MPB-4, justamente na faixa mais bonita do disco, a que dá nome ao CD, com a qual Henry participou do Festival da Cultura. É uma música muuuuuuuuuito bonita:

Anjo Torto

Nessa madrugada em que ninguém
Vem reclamar meu corpo
Eu fico aqui a esfriar e a esperar
Que um anjo mau e embriagado
Um velho anjo torto
Passe por aqui só por passar

E sem olhar meus papéis
Venha me identificar
Vá me tirando os anéis
Para que eu possa voar

Um anjo em pleno cio
Que descobriu o seu par
Beijando meu corpo frio
Até me ressuscitar.

* Alaíde Costa - Tudo que o Tempo me Deixou(Lua Music): belíssimo disco, com a qual a cantora comemora cinquenta anos de carreira. O CD tem a produção (e execução) do sofisticadíssimo Gilson Peranzzetta. Algumas das mais-mais:

Voz de Mulher
(Sueli Costa e Abel Silva)

Desde que nasci
A voz da mulher
Me embala
Me alegra
Me faz chorar
Me arrepia os cabelos
Me faz dançar
Me cala ressentimentos
Me ensina a amar
Uma mulher cantando nas Antilhas
Uma voz de mulher
Nos rádios do Brasil
Minha mãe que cantava
Lembrança tão bonita
E as negras americanas
Dos hinos e dos blues
Amor, amor
Me leva essa voz
Nas asas das canções
Eu quero ouvir
Por toda minha vida
Uma mulher cantando para mim.
__________________________________
Edson Cordeiro e Leila Pinheiro também gravaram esta pérola.

Conversa com o Coração

Coração, você vê
A tristeza já tinha ido embora
Mas ela volta agora
Pra te fazer sofrer
Coração, pode crer
Que ela não tem a força de outrora
Mas pela vida afora
Vai dominar você

Se chora, que pena
Não chorar, que frieza
Chora a dor que é pequena
Chora toda a tristeza
Que a dor nos condena
Chora, coração
Pra não morrer

Coração, não se dê
Não precisa chorar como outrora
Você bem rememora
Como ficou você
Chorar vale a pena
Não chorar, que tristeza
Chora que a dor amena
Pra conservá-la presa
Que a dor envenena
Chora, coração
Pra não morrer.
________________________________
Quase chorei de emoção quando ouvi essa música regravada pela Alaíde. Conheço essa canção há muitos anos e já não me lembrava mais dela. Foi gravada originalmente pelo MPB-4 (claro!), e foi a primeira música do Guinga gravada (em 73). Outra de morrer, de tão linda:

Coração sem Saída
(Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro)

Ah, por toda vida
A vida me ensinou
Ninguém deve chorar
Por mal de amor
Mas agora você foi embora
E sem querer a lágrima rolou
Não dava pra estancar a minha dor

Minha alma ficou tão doída
Que a tristeza resolveu chegar
Coração terminou sem saída
Porque a vida
Disse que um homem não chora
Acho que agora a vida se enganou
Pois em questão de amar
Nem tudo é flor
E é bom chorar o mal de amor.

Minha Nossa Senhora
(Fátima Guedes)

Que que é isso que se costura
Na minha alma
Doce sutura, futura calma
Que a prece alcança na paz de Deus
E até mesmo se há alguém
Que pense que a morte é um sonho
Melhor viver nessa vida um sonho
Que eu possa ver pelos olhos teus

Pois sabendo que um dia
É sempre chegada a hora
Eu peço a minha Nossa Senhora
Que estenda a mão sobre o meu país

Quem te implora é outra Maria
A Maria qualquer
A Maria aprediz
Eu também quero ser, que não quer?
Quero ser feliz.
____________________________________
* Cícero Fornari - Bebê com Lobo
Cantor e compositor de Campinas, que conheci no Sesc de lá, outro dia. Dono de bonita voz.

* Radamés Gnatalli e Camerata Carioca - Vivaldi e Pixinguinha (Funarte e Atração)

* Baiano e Os Novos Caetanos - Eu prefiro o Chico Anísio com compositor do que como humorista...

Folia de Rei
(Chico Anísio e Arnaud Rodrigues)
Ai, andar, andei
Ai, como eu andei
E aprendi a nova lei
Alegria em nome da rainha
E folia em nome de rei

Ai, no mar marujei
Ai, eu naveguei
E aprendi a nova lei
Se é de terra que fique na areia
Que o mar bravo só respeita rei

Ai, voar, voei
Ai, como eu voei
E aprendi a nova lei
Alegria em nome das estrelas
E folia em nome de rei

Ai, eu partirei
Ai, eu voltarei
Vou confirmar a nova lei
Alegria em nome de Cristo
Porque Cristo foi o Rei dos reis.
__________________________________________
Esta é do meu saudoso tempo de Bom Motivo...

Ontem fui ao show dos meus queridos amigos Beth Carvalho, Quinteto em Branco e Preto, Carlinhos 7 Cordas, participação do grande Nicolas Krassik, que está tocando cada vez mais bonito, e do gato do Diogo Nogueira, que também arrasou! Que prazer poder estar ao lado dessas pessoas maravilhosas! Descobri que no site da Beth tem vários de seus sucessos com cifras. Então este tem sido meu divertimento: estudar cavaquinho ao som de Beth Carvalho, que eu amo.

Cavaquinho Camarada
Ruy Quaresma

Eu tenho um cavaquinho camarada
É ele que harmoniza a batucada
Eu tenho um cavaquinho companheiro
Irmão do tamborim e do pandeiro
Eu tenho um cavaquinho muito amigo
Que diz tudo que eu não digo
Toda vez que eu vou tocar
E sempre quando eu toco no seu braço
Eu me sinto num abraço
Que eu não sei explicar

E quando a lua é triste
E a noite é morta
Um vazio bate à porta
Vem me encher de solidão
E nessas horas quando a vida é fria
Eu me escondo na poesia
E por trás de um violão
Mas quando o amor me mata de tristeza
Eu me sento nessa mesa
Só aqui que eu sei morrer
No compasso delirante de um chorinho
Só você meu cavaquinho
Que é capaz de me entender.
________________________________________
Do disco Mundo Melhor (RCA, 1976). Gravado também por Ruth Eli.

E hoje é aniversário do meu amigo Lineu César. Pra ele, uma música do seu cantor predileto, Orlando Silva:

Atire a Primeira Pedra
(Ataulfo Alves e Mário Lago, 1943)

Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor

Eu sei que vão censurar o meu proceder
Eu sei, mulher
Que você mesma vai dizer
Que eu voltei pra me humilhar
É, mas não faz mal
Você pode até sorrir
Perdão foi feito pra gente pedir.
___________________________________________
Aparentemente o samba foi criado com analogia às citações bíblicas quando, ao defender uma mulher "pecadora", Cristo proclama: "Pois quem se julgar sem pecado que atire a primeira pedra". Recebeu diversas regravações, dentre elas: Ataulfo Alves, Waldir Azevedo, Demônios da Garoa, Elza Soares, Marlene, Isaurinha Garcia e Noite Ilustrada, Radamés Gnattali, Itamar Assunção, Tadeu Franco, etc.

E pra minha amiga carioca Paula Maia, também um samba de presente de aniversário:

Alegria
Assis Valente e Durval Maia (Carnaval de 1938)

Alegria pra cantar a batucada
As morenas vão sambar
Quem samba tem alegria
Minha gente
Era triste, amargurada
Inventou a batucada
Pra deixar de padecer
Salve o prazer, salve o prazer

Da tristeza não quero saber
A tristeza me faz padecer
Vou deixar a cruel nostalgia
Vou fazer a batucada
De noite e de dia, vou cantar

Esperando a felicidade
Para ver se eu vou melhorar
Vou cantando, fingindo alegria
Para a humanidade
Não me ver chorar.
__________________________________________________
Gravada originalmente em 1937 na RCA por Orlando Silva, acompanhado pelos Diabos do Céu com orquestração de Pixinguinha, e lançada em discos 78 rpm. Outras gravações conhecidas são as de João Nogueira (1986), Tadeu Franco (1994), Vânia Abreu, Dendê Diet (1999), entre outras.
Esse samba se chamaria Vivo triste e tinha um primeiro verso (refrão ou coro) criado por um rapaz mineiro - Durval Maia - que contou sua história - por carta, de Belo Horizonte - desde o começo: "Em 1936 eu estava servindo no Rio, no Batalhão Escola da Vila Militar, e tinha um colega de caserna, Leandro Medeiros, que gostava de samba, mas era uma pessoa que tinha trato e nível educacional. Ele fazia uns sambas, eu tocava violão. Ficamos amigos. Por iniciativa de Leandro, que já era parceiro de Assis desde 1935, cheguei até o compositor, que tinha sala alugada na cidade e um palacete em Santa Teresa... Eu já tinha feito este samba, que se chamava Vivo triste, em que eu cantava minhas tristezas, a vida dura no quartel e o que me aguardava cá fora depois que nós saíssemos da caserna. O Assis gostou e me propôs mudar a letra e o título do samba, para incluir a música num filme que uma mulher - não lembro o nome - ia fazer que teria o nome de Alegria. Foi por isso que foi feito esse Alegria que o Orlando Silva depois gravou. O filme, nunca foi feito. A música foi registrada na Vitale em janeiro, com o nome de Vivo triste, e só foi gravada em junho de 37, tendo muito boa aceitação. Assis Valente era uma pessoa difícil de lidar, porque ora estava alegre e contando anedotas, ora estava triste e deprimido, sem causa ou razão aparente."1

A música deveria ter um ritmo tendendo a um samba-canção. Foi Pixinguinha que deu um andamento mais rápido, adequando-a melhor com o espírito hilariante da letra. Apesar de ter tentado, Assis não conseguiu ganhar nenhum prêmio no carnaval com Alegria, mas, assim mesmo, transformou-se em um absoluto sucesso de "meio de ano".

Como curiosidade, podemos certamente afirmar que este título Alegria não é nada original, pois só de folhear a Discografia Brasileira 78 rpm, 1902 ~ 1964, encontramos mais 11 músicas homônimas, entre valsas, dobrado, rancheira, moda de viola, marcha, frevo-canção e mazurca.

Em seu "long-play" Sinal fechado, de 1974, onde interpreta somente músicas de outros autores, Chico Buarque de Holanda abre o disco com o samba de Caetano Veloso Festa imodesta, que por sua vez é precedida por um trecho de Alegria (minha gente... salve o prazer!).
É isso aí! Salve o compositor popular!

1. GOMES, Dulcinéia Nunes & SILVA, Francisco Duarte. A jovialidade trágica de José de Assis Valente. Martins Fontes/Funarte. Rio de Janeiro, 1988, p. 85.

quinta-feira, junho 15

Estou ouvindo você Beth, Pra Seu Governo! ;-)
Eu tocando cavaquinho! E me perguntando por que não existe um songbook da Beth Carvalho, com todas as suas músicas? Dúvida urgente!

"A saudade é um punhal cravado até o final no peito de quem ama..."

sexta-feira, junho 9

Samba da Minha Terra

Vou falar agora de um dos meus discos prediletos da coleção Revivendo, vol. 19, CD raro. Traz músicas gravadas por quatro grupos vocais: Bando da Lua, Anjos do Inferno, 4 Ases e 1 Coringa e Grupo X

Vou começar com três ótimas composições do meu tio-avô Assis Valente (brincadeirinha):

O dinheiro que ganho

O dinheiro que ganho
Não dá pra ficar no meio da rua,
Pra cá e pra lá, pra lá e pra cá,
O dinheiro que ganho só dá pra viver
No meu barracão
Sentado no chão
Comendo de mão, farinha, feijão
Olhando a cabrocha mexendo o legume
Pra não azedar

Se fico na rua, lá vem um amigo
E eu sou obrigado a lhe convidar
A tomar um traguinho, bater um papinho
Dar uma voltinha pro tempo passar
Depois do passeio, lá vem o jantar
E também o café
Lá se vai meu dinheiro
E eu vou pro Salgueiro a pé
Meu dinheiro não dá, não...
______________________________________________________________________________
Samba de 1951 gravado pelo 4 Ases e 1 Coringa. A letra mostra uma realidade na vida de Assis Valente: a falta constante de dinheiro, o que o deixava desesperado, segundo alguns amigos, e até agressivo. E o dinheiro que recebia por seu trabalho e por suas composições servia apenas para um tipo de investimento: alegrar os outros. Assis pagava jantares, noitadas, financiava shows, roupas, presenteava as pessoas de quem mais gostava e por várias vezes trocou todo o equipamento odontológico de seu consultório, ficando continuamente sem um níquel sequer, pelo contrário, era perseguido por seus credores; suas várias tentativas de suicídio foram atribuídas a suas numerosas dívidas.

Brasil Pandeiro

Chegou a hora dessa gente bronzeada
Mostrar seu valor
Eu fui à Penha e pedi à Padroeira
Para me ajudar
Salve o Morro do Vintém
Pendura a Saia, eu quero ver
Eu quero ver o tio Sam tocar pandeiro
Para o mundo sambar
O Tio Sam está querendo conhecer
A nossa batucada
Anda dizendo que o molho da baiana
Melhorou seu prato
Vai entrar no cuscuz
Acarajé e abará
Na Casa Branca já dançou a batucada
Com Ioiô, Iaiá

Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros
Que está na hora de sambar
Há quem sambe diferente
Noutras terras, outra gente
Num batuque de matar
Batucada, reuni vossos valores
Pastorinhas e cantores
Expressões que não têm par
Ó meu Brasil

Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar.
_________________________________________________________________
Gravado em 1941 pelo Anjos do Inferno. Outras gravações conhecidas são de Demônios da Garoa, Novos Baianos, Trovadores Urbanos, Paulo Moura, Rolando Boldrim, etc.

Assis Valente compôs esse samba, que incialmente chamava-se Chegou a Hora, especialmente para Carmen Miranda gravar e levar pros Estados Unidos, mas a cantora, apesar de cantar o samba nas rádios, não quis gravá-lo, e Assis nunca soube o porquê.
Abel Cardoso Junior, um dos biógrafos da cantora, acha que Carmen não quis gravar o samba porque nos versos de Brasil Pandeiro há referências a ela: "Na Casa Branca já dançou a batucada/O Tio Sam anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato". De fato, Carmen e o Bando da Lua estiveram na Casa Branca na festa do 7. aniversário de Roosevelt na presidência americana, em 1940.

Brasil Pandeiro fez parte da trilha sonora do filme Céu Azul (1940) e da revista Brasil Pandeiro, de Freire Junior e Luiz Peixoto.

Boneca de Pano

Boneca de pano
Gingando num cabaré
Poderia ser bonequinha de louça
Tão moça, mas não é
Poderia ser bonequinha de louça
Tão moça, mas não é

Um dia alguém a chamou de boneca
E ela, sendo mulher, acreditou
O tempo foi se passando
E ela se desmanchando
Hoje quem olha pra ela não diz quem é
Em vez de boneca de louça
Hoje é boneca de pano
De um sombrio cabaré.
__________________________________________________________________________
Gravada originalmente por 4 Ases e 1 Coringa em 1950. Outras gravações conhecidas: Noite Ilustrada, Carmen Costa, Demônios da Garoa, Miltinho, Paulo Moura, Rolando Boldrim, Titulares do Ritmo, etc.
Segundo depoimentos de amigos de Assis, a "boneca de pano" realmente existiu. E, conforme os autores do livro A Jovialidade Trágica de José de Assis Valente, Assis omitiu o nome de um parceiro nesta música, Júlio Zamorano, que ficou furioso quando o samba foi gravado.

As demais músicas do CD são:

Saudades do meu Barracão

E hoje choro com saudade do meu barracão
Toda riqueza que havia era um violão
E uma morena faceira que me desprezou, ô, ô
Só me deixando tristeza alegria levou.

E hoje mora na cidade
Essa morena bonita
Toda cheia de vaidade
Não usa mais chita
Procura tudo esquecer
E volta pro teu barracão
E ouve o que eu vou te dizer
Tudo isso é ilusão

Hoje a morena faceira
Mora num arranha-céu
E eu passo a noite inteira
Cantando ao léo,
Pobre do meu violão
Já não tem mais alegria
Triste no meu barracão
Que é só nostalgia.
__________________________________________________________
Primeiro grande sucesso de Ataulfo Alves, de 1935, Saudade do meu Barracão foi gravado originalmente pelo cantor Floriano Belham (que abandonou a carreira de cantor em 1938 e gravou apenas 16 músicas). O Bando da Lua regravou o samba em 1937, na Argentina.

Vatapá
(Dorival Caymmi)

Quem quiser vatapá, ô
Que procure fazer
Primeiro o fubá, depois o dendê
Procure uma nega baiana, ô, que saiba mexer
Que saiba mexer
Que saiba mexer

Bota castanha de caju (um bocadinho mais)
Pimenta malagueta (um bocadinho mais)
Amendoim, camarão, rala o coco
Na hora de machucar
Sal com gengibre e cebola, Iaiá
Na hora de temperar

Não pára de mexer, ô
Que é pra não embolar
Panela no fogo
Não deixa queimar
Com qualquer dez mil réis
E uma nega, ô
Se faz um vatapá
Se faz um vatapá
Se faz um vatapá.
__________________________________________________________
Gravado originalmente pelos Anjos do Inferno, em 1942. Outras gravações conhecidas:
Quarteto em Cy, Família Caymmi, Gal Costa, João Bosco, Dorival Caymmi e Rolando Boldrim.

Até a Lua Chorou
(Sylvino Netto)

ô, ô, ô, até a lua chorou
ô, ô, ô, quando você me abandonou

As estrelas se apagaram no azul da imensidão
Quando os meus olhos não acharam teu olhar
No silêncio do meu pobre barracão

Vou viver abandonado sem saber do teu amor
Relembrando que o meu sonho já morreu
E agora vou viver cheio de dor.
_______________________________________________________
Gravado pelo Grupo X em 1936.

Cabelos Brancos

Não falem dessa mulher perto de mim
Não falem pra não lembrar minha dor
Já fui moço, já gozei a mocidade
Se me lembro dela me dá saudade
Por ela vivo aos trancos e barrancos
Respeitem ao menos meus cabelos brancos
Ninguém viveu a vida que eu vivi
Ninguem sofreu na vida o que eu sofri
As lágrimas sentidas, o meu sorriso franco
Refletem-se hoje em dia
Nos meus cabelos brancos
Agora em homenagem ao meu fim
Não falem dessa mulher perto de mim.
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Gravado pelos Quatro Ases e Um Curinga em 1949. Outras gravações conhecidas: Alcides Gerardi, Silvio Caldas, Carlos Alberto, Carlos José, Carolina Cardoso de Menezes, Cauby Peixoto, Herivelto Martins, Demônios da Garoa, Paulinho Nogueira e Conjunto, Osvaldo Montenegro, Noite Ilustrada, Leal Brito (piano), Jair Rodrigues, Roberto Silva, Nelson Gonçalves, Rolando Boldrim, Grupo Coisa de Família, Tôco Preto do Cavaco, etc.

Quero Ver
(Léo Cardoso, Vicente Paiva e Adhemar Santana)

Quero ver, quero ver
Quero ver, quero ver
Teus caprichos de amor me prender
Pago com meu dinheiro, amor
E pago com meu dinheiro, amor
Quero ver, quero ver
Amor, quero ver as cadeiras bulir, remexer, ê

Quando a morena me abraça
Meu Deus, que prazer
Quero ver, amor, quero ver
Que papai nunca chega a saber

Quero ver, quero ver
Quero ver, quero ver
Teus caprichos de amor me prender
Pago com meu dinheiro, amor
E pago com meu dinheiro, amor
Quero ver, quero ver
Amor, quero ver as cadeiras bulir, remexer, ê

Tua anágua rendada me bota a perder
Quero ver, amor, quero ver
Teus oinho virar sem querer, ê

Meu coração bate tanto que chega a doer
Quero ver, amor, quero ver
Quando vai acabar de bater, ê
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Gravada pelo Bando da Lua em 1940.

Bolinha de Papel
(Geraldo Pereira)

Só tenho medo da falseta
Mas adoro a Julieta como adoro
A Papai do Céu
Quero seu amor minha santinha
Mas só não quero que me faça de bolinha de papel

Tiro você do emprego
Dou-lhe amor e sossego
Vou ao banco e tiro tudo pra gente gastar
Posso, oh Julieta, lhe mostrar a caderneta
Se você duvidar.
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Gravado originalmente pelos Anjos do Inferno em 1945. Este samba chegou aos dias de hoje graças à gravação do João Gilberto. Também foi gravada por Jards Macalé, Grupo Tarsis, João Nogueira, Roberto Menescal, Milton Banana, Bebel Gilberto e Pedrinho Rodrigues, etc.

Lembrando a Bahia
(José Marcílio)
Oi, Maria
Quando você samba
Eu me lembro da Bahia

Eu me lembro da Bahia
Terra de São Salvador
E recordo aquele dia
Que perdi o meu amor
Com o seu vestido de roda
E seu tamanco bordado
Você samba toda prosa
Deixa a gente amargurado.
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Gravado pelo Grupo X em 1937. O autor, paulista, segundo o encarte da Revivendo, mora há anos em Lima (Peru), à frente de uma orquestra.

Abandona o Preconceito
(Maércio de Azevedo e Francisco Mattoso)

Abandona o preconceito
Vem comigo à batucada
Venha ouvir como é bonito
Um samba chorado ao romper da madrugada

Um samba chorado
Cheio de harmonia
Cantado com alma
Na roda vadia
Que apesar de ser triste
Nos traz alegria
Quando um samba é cantado
Ao romper do dia

Morena bonita
Aceita a proposta
E vem para o samba
Vê se você gosta
Quem não gosta do samba
Não tem sentimento
E o teu preconceito
É fingimento.
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Gravada pelo Bando da Lua em 1934.

Rosa Morena
(Dorival Caymmi)

Rosa Morena
Aonde vais morena Rosa
Com essa rosa no cabelo
E esse andar de moça prosa
Morena, morena Rosa

Rosa Morena, o samba tá esperando
Esperando pra te ver
Deixa de parte essa coisa de dengosa
Anda Rosa, vem me ver
Deixa da lado esta pose
Vem pro samba, vem sambar
Que o pessoal tá cansado de esperar
Ô Rosa,
Que o pessoal tá cansado de esperar.
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Gravada originalmente pelos Anjos do Inferno em 1942. Outras gravações conhecidas: Elis Regina, Miltinho, Jair Rodrigues, Dorival Caymmi, Pedrinho Rodrigues e Som Sete, Emílio Santiago, Os Caretas, Cyro Monteiro e Dilermando Pinheiro, João Gilberto, Maria Creuza, Waldir Silva (cavaquinho), Ely Arcoverde, Elza Soares, Ivon Curi, Rosita Gonçales, Quarteto em Cy, Samba do Bom (instrumental), Trio Irakitan, Noite Ilustrada, Nana Caymmi, Maestro Portinho e Banda, Nelsinho e seu trombone, Celso Murilo, Ciro Monteiro, etc.

Pra Lá de Lá
(Silvino Netto)

Maria, você era tão boa
Tão boa, pra lá de lá
Maria, você era tão boa
Tão boa que até ficou má

Estou estranhando você
Pois você não era assim
E eu não sei dizer o porquê
Que afastou seu carinho de mim

Você nunca mais procurou
Agradar meu coração
Se você de mim se fartou
É favor evitar confusão.
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Gravada pelo Grupo X em 1937. Leia aqui a biografia do paulistano Silvino Netto

Você Foi Mais uma
(Cícero Nunes)

Quando você desocupou meu coração
Já havia outra esperando habitação
Você passou como outras têm passado
Você se enganou, eu não estava apaixonado

Você foi mais uma que cruzou o meu caminho
Você foi mais uma a quem dei o meu carinho
Você foi mais uma que me deu inspiração
Você foi mais uma que ficou na coleção.
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Gravada originalmente por Quatro Ases e um Coringa em 1951. OUtra gravação conhecida: Demônios da Garoa.

...E o Vento Levou
(Benedito Lacerda e Herivelto Martins)

Onde está o seu dinheiro?
O vento levou
Suas jóias, sua casa?
O vento levou
E a mulher que você tinha
Bateu asas e voou
Tudo que eu possuía
O vento levou

Já fui rico, já fui nobre
Fui grã-fino e gastador
Todos me cumprimentavam assim:
Olá, seu doutor
Até esse apelido o vento levou

Quem já foi um milionário
Quem já teve e hoje não tem
Onde eu passo todos gritam assim:
Olá, João Ninguém
Qualquer dia a ventania
Me leva também.
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Gravada pelo Bando da Lua em 1940. O título foi inspirado pela estréia do filme homônimo, no mesmo ano. Outras gravações conhecidas: Lucien Studart (piano) e Rolando Boldrim.

Bahia, oi... Bahia
(Vicente Paiva e Augusto Mesquita)

Bahia, oi, Bahia
Terra que Cristo criou
E o Senhor do Bonfim adotou
Baiano nasceu encantado
E aproveitou o ditado
"plantando dá" e plantou

Depois de ouvir um samba
Que lá da Bahia vem
Na voz da baiana bamba
Que ginga como ninguém
E saber que a Bahia
Tem os encantos que tem
Quem é que não gostaria
De ser baiano também?
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Gravada pelos Anjos do Inferno em 1939.

Adeus, Escola
(Adoniran Barbosa, Ari Machado e Nilo Silva)

Desenganado eu vou partir
Este mundo jamais me verá
Adeus, minha escola de samba
Eu vou para nunca mais voltar

Adeus, companheiros do samba
Perdão se algum dia os ofendi
Sem ter razão
Adeus escola, adeus, escola
Eu levo você no coração

O meu tamborim respeitado
Eu deixo para quem melhor
Que eu possa tocar
Adeus, escola, adeus, escola
Eu vou para nunca mais voltar.
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Gravado pelo Grupo X em 1937. Um dos primeiros sambas gravados de Adoniran.

Meu Bairro Canta
(Waldemar Ressurreição)

Eu quero enaltecer
Um bem que adoro
O meu bairro, onde moro
Meus amigos fiéis
Dizer que do meu coração não sai
Saenz Pena, rua Uruguai
A Muda, o Ponto Cem-Réis
Citar a velha fábrica das chitas
Tantas garotas bonitas
que o Salgueiro tem aos pés

E também eu quase que me esqueço
Não é só nesse endereço
Meu samba vai mais além
Eu quero relembrar por muitos anos
Salve Unidos Tijucanos
Minha gente, o que é que tem
Quando a cidade toca os seus clarins
Convocando os tamborins
Meu bairro canta também.
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Gravado pelos Quatro ASes e Um Coringa em 1950. Outra gravação conhecida: Rolando Boldrim.

Samba da Minha Terra
(Dorival Caymmi)

O samba da minha terra
deixa a gente mole
Quando se canta
todo mundo bole
Quando se canta
todo mundo bole

Eu nasci com o samba
No samba me criei
E do danado do samba
Nunca me separei

Quem não gosta de samba
Bom sujeito não é
Ou é ruim da cabeça
Ou doente do pé

Quem não pode também bole
Que mais?
Quem não gosta também bole
Que mais?
Quem não samba também bole
Que mais?
Quem requebra também bole
Que mais?
Quem não sabe também bole
Que mais?
Quem é preso também bole
Que mais?
Quem é velho também bole.
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Gravada originalmente pelo Bando da Lua em 1940. Outras gravações conhecidas: Coro Oba Oba, Titulares do Ritmo, Ivanildo (Sax), MPB-4, Trovadores Urbanos, Quarteto Novo, Tamba Trio, Jair Rodrigues, Novos Baianos, Os Cariocas, Ely Arcoverde, Milton Banana, Os Velhinhos Transviados, Os Batuqueiros, Originais do Pagode, João Gilberto, Dorival Caymmi, Baden Powell, Tom da Terra, Os Caretas, Os vocalistas modernos, Morais Moreira, Trio Irakitan, Elza Soares, André Penazzi, Mike Falcão, Luiz Bandeira, etc.

Lembrando uns Lindos Olhos
(José Marcílio)

Tenho a missão de querer, amei
Mas um dia sem saber chorei
Meus olhos se inudaram
Na dor de uma saudade
E não tive mais felicidade

Talvez você não saiba
Que eu vivo a soluçar
Lembrando uns olhos lindos
Que vinham me fitar
Hoje vejo no céu duas estrelas
E fico triste ao vê-las
Recordando seu olhar

Amei, vivi cantando
Porém amei demais
E tanto amor perdido
Me fere, são punhais
E por mais
Que disfarce esta saudade
A infelicidade
Me procura ainda mais.
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Gravada originalmente em 1936 pelo Grupo X.

quinta-feira, junho 1

Pão-Duro

(Assis Valente e Luiz Gonzaga)

Sou pão-duro, vivo bem
Não dou esmola, não faço favor
Não ajudo a ninguém
Sou pão-duro, vivo bem
Quem quiser que faça assim
Como eu também

Eu moro no morro
Em um barracão
Não tenho tapete
Eu durmo no chão
A minha comida
É uma só vez
E é muito pouquinho
Eu como de mão
Não dou endereço
Meu nome completo
Não digo a vocês
Quem me visita
Não repete outra vez

Não conto anedota
Porque não convém
A alegria que eu tenho
Não dou a ninguém
Não ando de bonde
Não ando de barca
Não ando de carro
Não ando de trem
Não dou boa-noite
Não dou boa-tarde
Não dou parabém
Enquanto isso
Vou juntando o meu vintém.
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Curiosa parceria, não? Marcha gravada por Luiz Gonzaga em 1946.