segunda-feira, fevereiro 9

Cem anos de Carmen Miranda

Maria do Carmo Miranda da Cunha, cantora. Nasceu em 9/2/1909, em Marco de Canaveses, Portugal, e morreu em 5/8/1955, em Beverly Hills, Hollywood, E.U.A., de ataque cardíaco.

Seu pai, José Maria Pinto da Cunha, deixou Portugal em 1910 para tentar a vida no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, e montou uma barbearia; Sua mãe, Maria Emília Miranda da Cunha, só veio ao Brasil quando o marido estava estabelecido. Trouxe com ela as duas filhas pequenas do casal, Olinda (1907 ~ 1931) e Maria do Carmo, então com um pouco mais de um ano de idade. O casal teve mais quatro filhos, todos cariocas: Amaro, Cecília, Aurora e Oscar.



Maria do Carmo passou a ser chamada por Carmen pela família quando ainda era adolescente, por influência da ópera Carmen, de Bizet. Desde criança a menina tinha propensão para cantar. Mas queria ser freira, e só não realizou seu sonho por interferência do pai. Estudou num colégio de freiras mas não chegou a completar o curso ginasial porque, aos 14 anos, precisou interromper os estudos para trabalhar e ajudar no sustento da casa. Foi balconista numa loja de gravatas e aprendiz de chapelaria numa loja de chapéus femininos. Era muito criativa e excelente vendedora. Em 1925, passando por graves problemas financeiros, S. José e D. Maria Emília resolveram abrir uma pensão em sua própria casa para tentar aumentar a renda da família e para que todos os filhos pudessem trabalhar. Olinda, sua irmã mais velha, era costureira e ensinava o ofício a Carmen, que aprendia rapidamente e logo passou a fazer suas próprias roupas. Olinda era considerada a mais bonita de todas as irmãs, e cantava muito bem. Mas morreu jovem, aos 23 anos, vítima da tuberculose. Todos os seis irmãos tiveram propensão à música, herdada da mãe, D. Maria Emília, que também cantava muito bem.



Vários compositores almoçavam na pensão, entre eles Pixinguinha e seu grupo, e Carmen foi ficando popular como cantora: cantava em festas, reuniões e festivais. Tinha uma interpretação diferente, um quase imperceptível sotaque português que fazia mais graciosa sua apresentação. Seu repertório era composto basicamente de tangos. Em 1928 Carmen conheceu o compositor e violonista baiano Josué de Barros, que, impressionado com o seu talento, iniciou a jovem no meio artístico. O compositor, igualmente talentoso, tinha o mérito de ter "introduzido a M.P.B. na Europa, antes da Primeira Guerra Mundial. Contudo, numa declaração de modéstia, Josué declarou em 1955 que a sua biografia podia ser escrita com três palavras: 'eu descobri Carmen'". (1) A partir daí Josué passou a acompanhá-la em recitais, ensinou-lhe músicas populares, e, contra a vontade do pai, que não queria ver a filha "metida com essa coisa de música", levou Carmen à Rádio Sociedade e depois a outras emissoras. (Logo seu José Maria foi vencido pelo sucesso da filha). Decidido a investir na cantora, Josué conseguiu com que ela gravasse um disco na gravadora Brunswick, com as músicas Não vá simbora e Se o samba é moda, ambas de Josué. O disco demorou a sair e surgiu uma nova oportunidade, a de fazer um teste na RCA Victor. Foi aceita imediatamente e em seguida gravou o seu segundo disco, com as músicas Triste jandaia e Dona Balbina, também de Josué de Barros. Como o primeiro disco ainda não havia sido lançado, os dois saíram simultaneamente, em janeiro de 1930. O seu primeiro grande sucesso veio nesse mesmo ano, a marcha Ta-hi!, de Joubert de Carvalho. Desde então sua vida mudou completamente. Em menos de seis meses já era considerada a maior cantora popular brasileira. Passou a ser requisitada em festas e festivais promovidos por jornais e teatros, para cantar ou apenas comparecer, sua presença já era motivo de destaque.

Caricatura de Luiz Fernandes, década de 40

Em 1931 excursionou para a Argentina junto com os cantores Francisco Alves, Mário Reis e o bandolinista Luperce Miranda, obtendo o primeiro êxito no exterior. Foi para esse país como cantora mais oito vezes (de 1933 a 1938). No ano seguinte participou de vários shows para promover músicas carnavalescas e fez uma grande excursão pelo nordeste do Brasil.

Sua estréia no cinema se deu em 1932 com o filme O Carnaval cantado no Rio, e no ano seguinte A voz do Carnaval, ambos de Adhemar Gonzaga. Atuou em outras produções, todas de Wallace Downey: Alô, alô, Brasil (1935); Estudantes (1935); Alô, alô, Carnaval (1936) e Banana da Terra (1939), seu último filme no Brasil, no qual interpretava O que é que a baiana tem? acompanhada pelo Bando da Lua. Foi nesse filme que criou o estilo que a consagrou no mundo inteiro: roupas de baiana, turbantes, balangandãs, sandálias plataforma, as conhecidas gesticulações dos braços e do corpo, o revirar de olhos, o sorriso contagiante, enfim, Carmen tinha muita bossa, simpatia e humor, o que aumentava seu prestígio. Em 1933 Aurora Miranda, sua irmã mais nova, passou a acompanhá-la como cantora em diversos shows.

Carmen foi cantora exclusiva de diversas rádios: Victor (em São Paulo), Mayrink Veiga (onde foi "a primeira cantora de rádio a merecer contrato, quando todos recebiam somente cachês")(2), Odeon e Tupi. Recebeu diversos slogans: "Cantora do it", "Embaixatriz do samba", "Ditadora risonha do samba" e, o mais significativo, "Pequena Notável", (pois era pequena mesmo, tinha 1,53 m de altura) sendo os dois últimos criados por César Ladeira, famoso radialista.

Em 1938 seu pai faleceu. Carmen ficou muito abalada e pensou até em abdicar de sua carreira, mas tinha vários contratos fechados. Até 1939, ano em que foi morar nos Estados Unidos, a Pequena Notável cantou em cinemas, cassinos, teatros, rádios e feiras, além das diversas excursões que fez a São Paulo e à Argentina. Quando estava em temporada no Cassino da Urca, foi contratada pelo empresário norte-americano Lee Schubert, que ficou impressionadíssimo com o seu talento, para ser uma das principais intérpretes na revista musical Street of Paris, na Broadway, ao lado de grandes nomes. Há diferentes versões para justificar sua ida aos Estados Unidos. Uns afirmam que Carmen foi para os E.U.A. para criar uma imagem positiva do Brasil no exterior, com patrocínio de Getúlio Vargas (que diziam ser seu amante) confirmando a política da boa vizinhança existente entre Roosevelt e Getúlio. Outros já afirmavam que a única razão de ter sido escolhida provinha de seu talento. "Três dias antes da sua partida, houve uma festa de despedida no auditório da Rádio Mayrink Veiga e César Ladeira celebrou o triunfo de Carmen com essas palavras: 'Contratada diretamente, sem nenhum empenho particular de quem quer que seja, apenas pelo valor pessoal, pelo valor indiscutível de sua arte incomparável, Carmen Miranda vai levar a música do Brasil em sua expressão mais encantadora para a Broadway'". (3) Lee Schubert não queria que Carmen levasse o Bando da Lua, mas a cantora exigiu que o grupo a acompanhasse e se comprometeu a pagar as despesas de três dos sete componentes do grupo. Carmen e o Bando da Lua seguiram para os E.U.A. em maio de 1939. A crítica aplaudiu fervorosamente a Pequena Notável e o Bando da Lua que, deslumbrados, descobriam um novo mundo bem distante do Brasil e se perguntavam como estariam fazendo tanto sucesso se ninguém entendia nada do que eles cantavam. Carmen criou uma linguagem universal, falava com seu corpo, suas mãos, seus olhos, seu sorriso. E recebeu seu slogan americano: "Brazilian Bombshell" (que pode ser traduzido como "A Explosão Brasileira").

Caricatura de Luiz Fernandes, década de 40

Em julho de 1940 a cantora veio ao Brasil para o casamento de sua irmã Aurora. Apesar da calorosa recepção em seu desembarque no porto, ao fazer um show beneficente no dia 15 de julho no Cassino da Urca, teve um choque com a frieza do público, que a julgou "americanizada". Profundamente abalada, Carmen cancelou todos os espetáculos e, execrada pela crítica, isolou-se por muitos dias em sua casa. Dois meses depois planejou uma reaparição no mesmo Cassino da Urca com um novo repertório do qual fazia parte o sucesso Disseram que voltei americanizada. Foi um estrondo, e a crítica voltou a elogiá-la. Mas a partir desse episódio a vida de Carmen mudou. Ficou extremamente traumatizada e passou a questionar sua carreira. Em outubro de 1940 Carmen e o Bando da Lua retornaram aos Estados Unidos com um novo contrato para uma série de filmes: Down Argentine Way (Serenata tropical), That night in Rio (Uma noite no Rio), Week-end in Havana (Aconteceu em Havana), Springtime in the Rockies (Minha secretária brasileira), The gang is all here (Entre a loura e a morena), Greenwich Village (Serenata boêmia), entre outros, num total de 19 em sua carreira, 5 no Brasil e 14 nos E.U.A..

Em 25 de março de 1941 Carmen foi convidada a deixar impressas a sua assinatura, as marcas de suas mãos e seus pés na calçada da fama. Só as grandes estrelas de Hollywood tinham esse privilégio: Carmen foi a única sul-americana a deixar suas marcas na famosa calçada.

Durante as filmagens de Copacabana, Carmen conheceu o norte-americano David Alfred Sebastian, montador de filmes nos estúdios da Columbia e com quem casou-se no dia 17 de março de 1947, numa cerimônia simples. A vida amorosa da Brazilian Bombshell nunca virou manchete. Seus romances foram sempre discretos, e nunca confirmados. Tudo indica que Carmen teve uma grande paixão quando jovem, o remador Mário Cunha. Seu envolvimento com Aloysio de Oliveira, do Bando da Lua, também foi muito íntimo, mas não sabemos se houve de fato um romance ou apenas uma grande amizade. Seu casamento, repentino, causou espanto em todo mundo. Mas Carmen dizia estar apaixonada. David passou a trabalhar como seu empresário e foi morar com ela, em sua casa, em Beverly Hills (Los Angeles), onde moravam também sua mãe, D. Maria Emília, Aurora e seu marido, Gabriel Richaid.

No ano seguinte ao de seu casamento Carmen engravidou. Ser mãe era um de seus maiores desejos. Seu casamento já não ia muito bem, e os diversos compromissos aliados a uma crise conjugal não permitiram que ela repousasse o necessário. Quando viajava para Nova York sentiu-se mal e teve um aborto natural. Sentindo-se muito culpada, a cantora aumentou suas atividades, entregou-se de corpo e alma ao trabalho, o que, aos poucos, foi deteriorando sua saúde física e mental. Teve inúmeras crises de depressão, sentia saudades do Brasil e tornou-se hipocondríaca. Tomava remédios para dormir, para acordar, misturados com álcool. Quando apresentou-se em Londres, ainda em 1948, teve síndrome de palco, e tinha que tomar tranqüilizantes para encarar o público. Em 1951 fez uma turnê no Havaí e em 1953 uma grande excursão pela Europa. Sua fama era tamanha que não podia sair à rua, e, na Itália, no final de uma apresentação, seus fãs tentaram arrancar-lhe as roupas, o que a deixou profundamente abalada. "Passava os dias chorando. Sentia-se muito solitária num país estrangeiro, cercada por uma mãe carinhosa porém reprovadora, e um marido gentil e paciente, porém culturalmente distante. Em seus momentos de fraqueza, Carmen sentia uma tremenda falta dos amigos brasileiros de sua juventude, seus parceiros de música e seu público. Tinha saudades do Rio de Janeiro. Faziam-lhe também muita falta sua irmã Aurora e seus sobrinhos. No início de 1952, devido a desentendimentos com David, os Richaid tinham partido de vez de Los Angeles. (...) Não havia remédio que curasse sua solidão e suas saudades." (4)



Em dezembro de 1954, longe do Brasil por catorze anos, a Pequena Notável retornou à sua terra natal para rever a família e descansar. Quatro meses depois regressou aos E.U.A., para reencontrar seu marido e reassumir seus compromissos como artista. Aceitou todas as propostas de trabalho, e, estafada, aos 46 anos, em 5 de agosto de 1955, após uma apresentação num programa de TV, teve um enfarte fulminante quando ia dormir. Estava sozinha, em seu quarto, e só foi encontrada no dia seguinte, por seu marido. Foi enterrada no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. O enterro foi acompanhado por mais de 500 mil pessoas cantando Ta-hi!, seu primeiro sucesso, e Adeus batucada.

Nesse mesmo ano foi inaugurado o primeiro Museu Carmen Miranda. O segundo, em 1976. "A memória de Carmen Miranda é mantida viva por admiradores em dezoito fãs-clubes no Brasil e outros nos Estados Unidos, Austrália, Cuba, França, África do Sul, Inglaterra, Itália e Índia. (...) Carmen virou mito. Foi muitas vezes redescoberta na América, Europa e Ásia. E, como ondas, mais e mais imitações de Carmen Miranda surgem no palco, na televisão, em filmes e até em histórias de quadrinhos em países onde ela pouco se apresentou ou onde nunca cantou." (5) D. Maria, sua mãe, voltou para o Rio e viveu na casa que era de Carmen até sua morte, em 1971. David Sebastian, seu marido, que só veio conhecer o Brasil no dia do enterro de Carmen, voltou para os Estados Unidos para retomar seu trabalho como empresário e, pouco tempo depois, casou-se com uma amiga do casal que, ironicamente, chamava-se Carmen. Ficou explícito que David como empresário explorou sua esposa, e a fez sofrer muito com sua indiferença pelo Brasil. É provável que a cantora quisesse voltar ao Rio de Janeiro definitivamente, mas não foi apoiada por seu marido.

Em 20 anos de carreira deixou sua voz registrada em 279 gravações no Brasil e mais 34 nos E.U.A., num total de 313 gravações.

Alguns de seus principais sucessos:

* Absolutamente, Joubert de Carvalho e Olegário Mariano, 1931
* Adeus batucada, Synval Silva, 1935
* Alô?...Alô?..., André Filho, 1933
* Balancê, João de Barro e Alberto Ribeiro, 1936
* Boneca de piche, Ary Barroso e Luiz Iglezias, 1930
* Burucuntum, Sinhô, 1930
* Cachorro vira-lata, Alberto Ribeiro, 1937
* Camisa listada, Assis Valente, 1937
* Cantores do rádio, Lamartine Babo, João de Barro e Alberto Ribeiro, 1936
* Chattanooga choo choo, Haarry Warren, Mack Gordon e versão brasileira de Aloísio de Oliveira, 1942
* Chegou a hora da fogueira, Lamartine Babo, 1933
* Chica chica boom chic, Harry Warren e Mack Gordon , 1941
* Como "vaes" você, Ary Barroso, 1936
* Disseram que voltei americanizada, Vicente Paiva e Luiz Peixoto, 1940
* Diz que tem, Vicente Paiva e Aníbal Cruz, 1940
* E o mundo não se acabou, Assis Valente, 1938
* Eu dei, Ary Barroso, 1937
* Good-bye, boy, Assis Valente, 1933
* Isto é lá com Santo Antonio, Lamartine Babo, em dueto com Mário Reis, 1934
* Minha embaixada chegou, Assis Valente, 1934
* Moleque indigesto, Lamartine Babo, 1934
* Na batucada da vida, Ary Barroso e Luiz Peixoto, 1934
* No tabuleiro da baiana, Ary Barroso, 1936
* O dengo que a nega tem, Dorival Caymmi, 1940
* O que é que a baiana tem?, Dorival Caymmi, 1939
* O tic-tac do meu coração, Alcir Pires Vermelho e Walfrido Silva, 1935
* Querido Adão, Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago, 1935
* Sonho de papel, Alberto Ribeiro, 1935
* Ta-hi!, Joubert de Carvalho, 1930
* Uva de caminhão, Assis Valente, 1939

(1). GIL-MONTERO, Martha. Carmen Miranda - A Pequena Notável. São Paulo, Record, 1989, p. 29.
(2). CARDOSO JÚNIOR, Abel. Carmen Miranda - A cantora do Brasil. São Paulo, Edição particular do autor, 1978, p.23.
(3). GIL-MONTERO, Martha. Carmen Miranda - A Pequena Notável. São Paulo, Record, 1989, p. 80.
(4). Idem, p. 243
(5). Idem, p. 295

domingo, fevereiro 8

Mais Curitiba, novos discos

Como disse no post abaixo, voltei de Curitiba após quinze dias de grandes emoções. Fui, ao lado de meus companheiros de Choro Rasgado Alessandro Penezzi (violão) e Rodrigo Y Castro (flauta) dar oficina de pandeiro. Grandes amigos e músicos também estavam lá dando oficina e/ou participando do circuito off, ou seja, tocando em vários bares e teatros de Curitiba: Milton de Mori, Rogério Caetano, Léa Freire, Michel Leme, Juliana Amaral, Márcio Bahia, Thiago do Espírito Santo, Alessandro kramer, Gabriel Grossi, Ivan Vilela, Laércio de Freitas, Heloísa Fernandes, Tibo Delor, Ricardo Herz, Vinícius Dorin, Antonio Saraiva, Marco Lobo, Marília Giller, Lia Marchi, Gabriel Levy, Daniel D´Alcântara, André Marques, Ithamara Koorax, etc.

Márcio Bahia e Roberta

Tive o prazer de conhecer (e tocar com) um ídolo antigo, o brilhante clarinetista italiano Gabrielle Mirabassi, que também estava dando oficina.

Juliana Amaral, Ricardo Herz, Gabrielle Mirabassi, Thiago do Espírito Santo, Rodrigo Y Castro, Roberta Valente e Milton de Mori (foto de Luiz Cequinel)

Esta foi a 27ª edição da Oficina de Música de Curitiba. O evento, promovido todos os anos pela Fundação Cultural de Curitiba e com o patrocínio do HSBC, transforma a cidade na capital da música e num dos principais pólos de formação musical do Brasil. Durante 22 dias (neste ano foi de 7 a 28 de janeiro) uma extensa programação de concertos e recitais toma conta de praças, teatros e espaços culturais, enquanto mais de 1.300 alunos participam de 101 cursos de instrumento, prática de conjunto, canto e coral.

As aulas acontecem no Colégio Estadual do Paraná (que é enorme e incrível). Os cursos, concertos e shows se dividem entre música antiga, erudita, popular brasileira, eletrônica, e também blues. Além de atuar como professores, os músicos fazem concertos e se juntam em duos, trios e grupos, exclusivamente para os concertos e shows da Oficina, o que garante sempre apresentações únicas e inéditas.

Meus alunos Tito Barrera, Edson, Luan, Renata e Lenne


Willian, Roberta, Ericson e Fernando
Foto de Roberta Bittencourt

Renata, Carol, Roberta, Hermano e Ericson
Enfim, foram quinze dias de trabalho intenso e muitos bons encontros. Tive quase cinquenta alunos, todos maravilhosos, e foi realmente um presente poder participar dessa iniciativa incrível, desde já agradeço aos organizadores responsáveis por tudo, Janete Andrade, Glauco Solter e Sergio Albach que, com muito amor e empenho fazem de tudo pra que os professores sejam tratados com o máximo carinho e respeito.

Roberta e Janete

Roberta e América

Participei de três shows lá, o belíssimo concerto da flautista Léa Freire e da pianista Heloísa Fernandes, com os convidados Tibo Delor, Gabrielle Mirabassi e eu:

Um show do Choro Rasgado (com Rogério Caetano no lugar do zé barbeiro, que não pôde ir, e Milton de Mori de convidado especial):

(foto da Carol)

E organizei ao lado do Choro Rasgado a Noite do Choro, que foi um espetáculo também belíssimo:



(fotos de Luiz Cenequiel)

Fui a vários shows, rodas de samba, de choro, fandango, grito de carnaval, jazz, etc.

No grito de Carnaval: Edson, Roberta, Mariano, Roberta, Willian, Bárbara, Hermano
No samba da Maytê: Leandro, Mariano, Roberta, Vina e Edson
Show Zé e Silvério: Sergio Albach, Mirabassi, zé da Velha, Roberta, Anildo Guedes, Silvério Pontes e Léa Freire
Voltei com novas idéias, cheia de esperança e com a mala recheada de novidades musicais. Conheci muitos músicos maravilhosos, me aproximei de outros que eu já era fã há muito e cá estou.

Em tempo de Argentina, em tempo de América Latina e em tempo de Myspace, como vcs podem ver abaixo. Alguns discos:

* Willy Gonzalez Cuarteto - Agua. Willy Gonzalez (baixo de seis cordas e composições), e seu grupo, Pepe Luna (violão), Hernán Crespo (acordeon) e Mario Gusso (bateria e percussão) estavam dando oficina em Curitiba também. O disco é lindo e eles são demais! O Mario Gusso, percussionista, é uma fera! Toca um cajon que fiquei mesmo impressionadíssima.

Willy Gonzalez, Roberta, Penezzi e Juliana Amaral

Hernán Crespo, Roberta e Pepe Luna

* E o violonista Pepe Luna está pra lançar seu CD autoral, me deu uma cópia e achei o disco sublime. Amei mesmo!

* Outro músico maravilhoso que conheci lá (ele faz parte do grupo América Contemporânea, que cito abaixo) é o violonista e compositor venezuelano Aquiles Báez. Infelizmente não tenho seu CD, mas minha amiga querida Léa Freire me emprestou o dela - é demais... tem um encarte que é simplesmente fantástico. As músicas do Aquiles são bem bonitas, trata-se de um grande compositor.

Ivan Vilela, Lia Marchi, Aquiles Báez, Mariana Baraj, Roberta e Alessandro Penezzi

* Mariana Baraj - Deslumbre (2005) e Margarita e Azucena (2007) - Conheci Mariana Baraj no show do excelente grupo América Contemporânea, ela participou como convidada especial. Fiquei impressionadíssima ao assisti-la tocando vários instrumentos de percussão e cantando, ela é uma fera! Seu CD Margarita e Azucena é lindo, com músicas de Violeta Parra, de Silvio Rodriguez, etc. Tem algumas participações especiais, dentre elas a de uma cantora que eu adoro e tive o prazer de conhecer aqui em SP quando ela esteve se apresentando por aqui como convidada do Arismar do Espírito Santo: Liliana Herrera.

* ChaoCoco! - é o grupo de um dos meus alunos, Martín Rur, ele fez aula de pandeiro mas seu instrumento principal é o clarinete. Ele toca lindamente clarinete e sax. Bonito CD, com um encarte caprichado. Aliás, todos os cds dos amigos argentinos trazem encartes belíssimos. Aqui no Brasil os encartes de CD estão sumindo, que bom que em outros países isso parece não acontecer.

* Noël - Trata-se de um espetáculo que virou CD, como pode ser lido aqui. Um tributo superbacana ao mestre Noel Rosa, gravado pelo clarinetista Sergio Albach, o percussionista e flautista Gabriel Schwartz, o violonista Ale Age, o pianista Marcelo Torrone, e o cantor Marcio Juliano. O repertório é de primeira, nada óbvio como muita gente por aí insiste em gravar. Nota dez.

* Lá em Curitiba ainda encontrei minha amiga querida e cantora divina Izabel Padovani, que acabou de lançar seu novo disco - Mosaicos. Claro que, como os demais cds, está lindo. A Bel é uma das minhas cantoras prediletas, ela tem extremo bom gosto e uma voz incrível. Já escrevi sobre ela aqui outras vezes. Pois bem, nesse disco tem só compositores contemporâneos, transcrevo abaixo a letra das minhas prediletas:

Capital
(Guinga e Simone Guimarães)

Devagarinho vão deixando a estação coisa e tal
Segue Nenzinho, Bá e Joca o varão do casal
Vai ter de tudo novo lá na capital precisam ver
As coisas lindas que me contam de lá é o que há
Deve ser mesmo muito bom viajar pra um lugar
E em todo canto ver a fresta do mar arejar
Quando chegarem ai meu deus!
Como vai ser na capital?
Será que canta o urutau pica-pau sabiá...
Será que encontram algum mato
pra lenhar capinar?
Quantos docinhos Bá vai poder fazer?
Será que alguém pode querer comprar?
Tem antes que experimentar
O varãozinho foi pro vestibular se casou
Bá e Nenzinho fazem o que pintar prum doutor
Lobotomia não é mesmo o forte do nosso casal
Onde houver desfeita partem prum pau federal
Arrumam "zica" em fila de hospital "carnaval"
Esse direito é constitucional
Perante deus todos somos iguais
E assim ninguém maltrata mais
Tem um relógio do tamanho do sol
É um monumento à central do Brasil
Quando ela chama as flores tem que acordar
Tudo amanhecer Joca despertar
O cobrador tem uma kombi infernal
Com um cheirinho doido de camarão
E palmilhando os trilhos da capital
Sinto léguas de sertão
Quem sabe um dia Joca volta pra cá num carrão
E um tsunami traz um pouco de mar pro sertão
Vai ter de tudo pra vender
lá na estação como vai ter!
De tapioca até de frutos do mar medalhão
De carne-seca body de carcará num tufão
E a profecia do mar virar sertão
Sai dos humildes altares pro céu
E sobra bispo no tropéu
Eu tenho andado com medo de pensar no Nenzinho
É tiroteio no meio desse mar de caminho
Nesse papel pode o céu
do meu sertão virar só cinzas
Pode o cordel desmanchar que já se sente na pele
E a ciranda cansar mesmo antes que se revele
E a missa só começou depois tem mais
Melhor rezar já que quem foi não quer voltar.

Do compositor
(Eduardo Klébis)

Compor é como impor comportamento ao porvir
É premeditar o precioso no aprendiz
É revendo o verso revirar ou vir a ser
E dar ouvidos ao que não se diz
Compor é pressupor
Compor tem todo dispor
Todo um universo verdadeiro e virtual
É representando misturar-se ao irreal
E ser rei morno em noite de natal
Fazer um samba é ir na corda bamba do som
É compartilhar o paradeiro do sutil
Pra fazer um samba há que se ter inspiração
Abrindo os olhos ao que não se viu
Sambar é soçobrar ao som de cem tamborins
É violentar o violão num vendaval
É traçando a linha entre a tensão e o ritual
Criar o bem na lei do marginal.

Deixando o pago

(Vitor Ramil e João da Cunha Vargas)

Alcei a perna no pingo
E saí sem rumo certo
Olhei o pampa deserto
E o céu fincado no chão
Troquei as rédeas de mão
Mudei o pala de braço
E vi a lua no espaço
Clareando todo o rincão
E a trotezito no mais
Fui aumentando a distância
Deixar o rancho da infância
Coberto pela neblina
Nunca pensei que minha sina
Fosse andar longe do pago
E trago na boca o amargo
Dum doce beijo de china
Sempre gostei da morena
É a minha cor predileta
Da carreira em cancha reta
Dum truco numa carona
Dum churrasco de mamona
Na sombra do arvoredo
Onde se oculta o segredo
Num teclado de cordeona
Cruzo a última cancela
Do campo pro corredor
E sinto um perfume de flor
Que brotou na primavera
A noite linda que era
Banhada pelo luar
Tive ganas de chorar
Ao ver meu rancho tapera
Como é linda a liberdade
Sobre o lombo do cavalo
E ouvir o canto do galo
Anunciando a madrugada
Dormir na beira da estrada
Num sono largo e sereno
E ver que o mundo é pequeno
E que a vida não vale nada
O pingo tranqueava largo
Na direção de um bolicho
Onde se ouvia o cochicho
De uma cordeona acordada
Era linda a madrugada
A estrela dalva saía
No rastro das três marias
Na volta grande da estrada
Era um baile um casamento
Quem sabe-algum batizado
Eu não era convidado
Mas tava ali de cruzada
Bolicho em beira de estrada
Sempre tem um índio vago
Cachaça pra tomar um trago
Carpeta pra uma carteada
Falam muito no destino
Até nem sei se acredito
Eu fui criado solito
Mas sempre bem prevenido
Índio do queixo torcido
Que se amansou na experiência
Eu vou voltar pra querência
Lugar onde fui parido.

* Faltam muitos cds ainda pra finalizar minha viagem à Curitiba, mas hoje não dá mais. Termino aqui com um CD que ganhei antes de viajar, do Duo Moviola - O Retrato do Artista Quando Pede - Kiko Dinucci e Douglas Germano. Dois talentosos compositores e músicos que eu amo. Adorei o CD, destaco a minha música predileta:

O Retrato do Artista Quando Pede
(Kiko Dinucci e Douglas Germano)

Pra sobreviver de arte em São Paulo
Tenta o Sesc, tenta o Sesc
Mas se o programador
Não for com a tua cara
Esquece, esquece

Pra sobreviver de arte em São Paulo
Tenta o Pac, tenta o Pac
Mas se acaso, no projeto
Faltar Cep
Se estrepe, se estrepe

Você gasta o que não tem no xerocão
E a tiazinha sempre diz
Que tá faltando
Um carimbinho de uma data esquecida
Assinatura com firma reconhecida

Pra sobreviver de arte em São Paulo
Lei Mendonça, Lei Mendonça
Mas se não tiver contra-partida social
Babáu, a água bebe a onça

Pra sobreviver de arte em São Paulo
Vai e tenta a Rouanet
E se o empresário fala
Em custo/benefício
Manda ele se pentear.

E assim desejo uma boa semana a todos!