domingo, fevereiro 8

Mais Curitiba, novos discos

Como disse no post abaixo, voltei de Curitiba após quinze dias de grandes emoções. Fui, ao lado de meus companheiros de Choro Rasgado Alessandro Penezzi (violão) e Rodrigo Y Castro (flauta) dar oficina de pandeiro. Grandes amigos e músicos também estavam lá dando oficina e/ou participando do circuito off, ou seja, tocando em vários bares e teatros de Curitiba: Milton de Mori, Rogério Caetano, Léa Freire, Michel Leme, Juliana Amaral, Márcio Bahia, Thiago do Espírito Santo, Alessandro kramer, Gabriel Grossi, Ivan Vilela, Laércio de Freitas, Heloísa Fernandes, Tibo Delor, Ricardo Herz, Vinícius Dorin, Antonio Saraiva, Marco Lobo, Marília Giller, Lia Marchi, Gabriel Levy, Daniel D´Alcântara, André Marques, Ithamara Koorax, etc.

Márcio Bahia e Roberta

Tive o prazer de conhecer (e tocar com) um ídolo antigo, o brilhante clarinetista italiano Gabrielle Mirabassi, que também estava dando oficina.

Juliana Amaral, Ricardo Herz, Gabrielle Mirabassi, Thiago do Espírito Santo, Rodrigo Y Castro, Roberta Valente e Milton de Mori (foto de Luiz Cequinel)

Esta foi a 27ª edição da Oficina de Música de Curitiba. O evento, promovido todos os anos pela Fundação Cultural de Curitiba e com o patrocínio do HSBC, transforma a cidade na capital da música e num dos principais pólos de formação musical do Brasil. Durante 22 dias (neste ano foi de 7 a 28 de janeiro) uma extensa programação de concertos e recitais toma conta de praças, teatros e espaços culturais, enquanto mais de 1.300 alunos participam de 101 cursos de instrumento, prática de conjunto, canto e coral.

As aulas acontecem no Colégio Estadual do Paraná (que é enorme e incrível). Os cursos, concertos e shows se dividem entre música antiga, erudita, popular brasileira, eletrônica, e também blues. Além de atuar como professores, os músicos fazem concertos e se juntam em duos, trios e grupos, exclusivamente para os concertos e shows da Oficina, o que garante sempre apresentações únicas e inéditas.

Meus alunos Tito Barrera, Edson, Luan, Renata e Lenne


Willian, Roberta, Ericson e Fernando
Foto de Roberta Bittencourt

Renata, Carol, Roberta, Hermano e Ericson
Enfim, foram quinze dias de trabalho intenso e muitos bons encontros. Tive quase cinquenta alunos, todos maravilhosos, e foi realmente um presente poder participar dessa iniciativa incrível, desde já agradeço aos organizadores responsáveis por tudo, Janete Andrade, Glauco Solter e Sergio Albach que, com muito amor e empenho fazem de tudo pra que os professores sejam tratados com o máximo carinho e respeito.

Roberta e Janete

Roberta e América

Participei de três shows lá, o belíssimo concerto da flautista Léa Freire e da pianista Heloísa Fernandes, com os convidados Tibo Delor, Gabrielle Mirabassi e eu:

Um show do Choro Rasgado (com Rogério Caetano no lugar do zé barbeiro, que não pôde ir, e Milton de Mori de convidado especial):

(foto da Carol)

E organizei ao lado do Choro Rasgado a Noite do Choro, que foi um espetáculo também belíssimo:



(fotos de Luiz Cenequiel)

Fui a vários shows, rodas de samba, de choro, fandango, grito de carnaval, jazz, etc.

No grito de Carnaval: Edson, Roberta, Mariano, Roberta, Willian, Bárbara, Hermano
No samba da Maytê: Leandro, Mariano, Roberta, Vina e Edson
Show Zé e Silvério: Sergio Albach, Mirabassi, zé da Velha, Roberta, Anildo Guedes, Silvério Pontes e Léa Freire
Voltei com novas idéias, cheia de esperança e com a mala recheada de novidades musicais. Conheci muitos músicos maravilhosos, me aproximei de outros que eu já era fã há muito e cá estou.

Em tempo de Argentina, em tempo de América Latina e em tempo de Myspace, como vcs podem ver abaixo. Alguns discos:

* Willy Gonzalez Cuarteto - Agua. Willy Gonzalez (baixo de seis cordas e composições), e seu grupo, Pepe Luna (violão), Hernán Crespo (acordeon) e Mario Gusso (bateria e percussão) estavam dando oficina em Curitiba também. O disco é lindo e eles são demais! O Mario Gusso, percussionista, é uma fera! Toca um cajon que fiquei mesmo impressionadíssima.

Willy Gonzalez, Roberta, Penezzi e Juliana Amaral

Hernán Crespo, Roberta e Pepe Luna

* E o violonista Pepe Luna está pra lançar seu CD autoral, me deu uma cópia e achei o disco sublime. Amei mesmo!

* Outro músico maravilhoso que conheci lá (ele faz parte do grupo América Contemporânea, que cito abaixo) é o violonista e compositor venezuelano Aquiles Báez. Infelizmente não tenho seu CD, mas minha amiga querida Léa Freire me emprestou o dela - é demais... tem um encarte que é simplesmente fantástico. As músicas do Aquiles são bem bonitas, trata-se de um grande compositor.

Ivan Vilela, Lia Marchi, Aquiles Báez, Mariana Baraj, Roberta e Alessandro Penezzi

* Mariana Baraj - Deslumbre (2005) e Margarita e Azucena (2007) - Conheci Mariana Baraj no show do excelente grupo América Contemporânea, ela participou como convidada especial. Fiquei impressionadíssima ao assisti-la tocando vários instrumentos de percussão e cantando, ela é uma fera! Seu CD Margarita e Azucena é lindo, com músicas de Violeta Parra, de Silvio Rodriguez, etc. Tem algumas participações especiais, dentre elas a de uma cantora que eu adoro e tive o prazer de conhecer aqui em SP quando ela esteve se apresentando por aqui como convidada do Arismar do Espírito Santo: Liliana Herrera.

* ChaoCoco! - é o grupo de um dos meus alunos, Martín Rur, ele fez aula de pandeiro mas seu instrumento principal é o clarinete. Ele toca lindamente clarinete e sax. Bonito CD, com um encarte caprichado. Aliás, todos os cds dos amigos argentinos trazem encartes belíssimos. Aqui no Brasil os encartes de CD estão sumindo, que bom que em outros países isso parece não acontecer.

* Noël - Trata-se de um espetáculo que virou CD, como pode ser lido aqui. Um tributo superbacana ao mestre Noel Rosa, gravado pelo clarinetista Sergio Albach, o percussionista e flautista Gabriel Schwartz, o violonista Ale Age, o pianista Marcelo Torrone, e o cantor Marcio Juliano. O repertório é de primeira, nada óbvio como muita gente por aí insiste em gravar. Nota dez.

* Lá em Curitiba ainda encontrei minha amiga querida e cantora divina Izabel Padovani, que acabou de lançar seu novo disco - Mosaicos. Claro que, como os demais cds, está lindo. A Bel é uma das minhas cantoras prediletas, ela tem extremo bom gosto e uma voz incrível. Já escrevi sobre ela aqui outras vezes. Pois bem, nesse disco tem só compositores contemporâneos, transcrevo abaixo a letra das minhas prediletas:

Capital
(Guinga e Simone Guimarães)

Devagarinho vão deixando a estação coisa e tal
Segue Nenzinho, Bá e Joca o varão do casal
Vai ter de tudo novo lá na capital precisam ver
As coisas lindas que me contam de lá é o que há
Deve ser mesmo muito bom viajar pra um lugar
E em todo canto ver a fresta do mar arejar
Quando chegarem ai meu deus!
Como vai ser na capital?
Será que canta o urutau pica-pau sabiá...
Será que encontram algum mato
pra lenhar capinar?
Quantos docinhos Bá vai poder fazer?
Será que alguém pode querer comprar?
Tem antes que experimentar
O varãozinho foi pro vestibular se casou
Bá e Nenzinho fazem o que pintar prum doutor
Lobotomia não é mesmo o forte do nosso casal
Onde houver desfeita partem prum pau federal
Arrumam "zica" em fila de hospital "carnaval"
Esse direito é constitucional
Perante deus todos somos iguais
E assim ninguém maltrata mais
Tem um relógio do tamanho do sol
É um monumento à central do Brasil
Quando ela chama as flores tem que acordar
Tudo amanhecer Joca despertar
O cobrador tem uma kombi infernal
Com um cheirinho doido de camarão
E palmilhando os trilhos da capital
Sinto léguas de sertão
Quem sabe um dia Joca volta pra cá num carrão
E um tsunami traz um pouco de mar pro sertão
Vai ter de tudo pra vender
lá na estação como vai ter!
De tapioca até de frutos do mar medalhão
De carne-seca body de carcará num tufão
E a profecia do mar virar sertão
Sai dos humildes altares pro céu
E sobra bispo no tropéu
Eu tenho andado com medo de pensar no Nenzinho
É tiroteio no meio desse mar de caminho
Nesse papel pode o céu
do meu sertão virar só cinzas
Pode o cordel desmanchar que já se sente na pele
E a ciranda cansar mesmo antes que se revele
E a missa só começou depois tem mais
Melhor rezar já que quem foi não quer voltar.

Do compositor
(Eduardo Klébis)

Compor é como impor comportamento ao porvir
É premeditar o precioso no aprendiz
É revendo o verso revirar ou vir a ser
E dar ouvidos ao que não se diz
Compor é pressupor
Compor tem todo dispor
Todo um universo verdadeiro e virtual
É representando misturar-se ao irreal
E ser rei morno em noite de natal
Fazer um samba é ir na corda bamba do som
É compartilhar o paradeiro do sutil
Pra fazer um samba há que se ter inspiração
Abrindo os olhos ao que não se viu
Sambar é soçobrar ao som de cem tamborins
É violentar o violão num vendaval
É traçando a linha entre a tensão e o ritual
Criar o bem na lei do marginal.

Deixando o pago

(Vitor Ramil e João da Cunha Vargas)

Alcei a perna no pingo
E saí sem rumo certo
Olhei o pampa deserto
E o céu fincado no chão
Troquei as rédeas de mão
Mudei o pala de braço
E vi a lua no espaço
Clareando todo o rincão
E a trotezito no mais
Fui aumentando a distância
Deixar o rancho da infância
Coberto pela neblina
Nunca pensei que minha sina
Fosse andar longe do pago
E trago na boca o amargo
Dum doce beijo de china
Sempre gostei da morena
É a minha cor predileta
Da carreira em cancha reta
Dum truco numa carona
Dum churrasco de mamona
Na sombra do arvoredo
Onde se oculta o segredo
Num teclado de cordeona
Cruzo a última cancela
Do campo pro corredor
E sinto um perfume de flor
Que brotou na primavera
A noite linda que era
Banhada pelo luar
Tive ganas de chorar
Ao ver meu rancho tapera
Como é linda a liberdade
Sobre o lombo do cavalo
E ouvir o canto do galo
Anunciando a madrugada
Dormir na beira da estrada
Num sono largo e sereno
E ver que o mundo é pequeno
E que a vida não vale nada
O pingo tranqueava largo
Na direção de um bolicho
Onde se ouvia o cochicho
De uma cordeona acordada
Era linda a madrugada
A estrela dalva saía
No rastro das três marias
Na volta grande da estrada
Era um baile um casamento
Quem sabe-algum batizado
Eu não era convidado
Mas tava ali de cruzada
Bolicho em beira de estrada
Sempre tem um índio vago
Cachaça pra tomar um trago
Carpeta pra uma carteada
Falam muito no destino
Até nem sei se acredito
Eu fui criado solito
Mas sempre bem prevenido
Índio do queixo torcido
Que se amansou na experiência
Eu vou voltar pra querência
Lugar onde fui parido.

* Faltam muitos cds ainda pra finalizar minha viagem à Curitiba, mas hoje não dá mais. Termino aqui com um CD que ganhei antes de viajar, do Duo Moviola - O Retrato do Artista Quando Pede - Kiko Dinucci e Douglas Germano. Dois talentosos compositores e músicos que eu amo. Adorei o CD, destaco a minha música predileta:

O Retrato do Artista Quando Pede
(Kiko Dinucci e Douglas Germano)

Pra sobreviver de arte em São Paulo
Tenta o Sesc, tenta o Sesc
Mas se o programador
Não for com a tua cara
Esquece, esquece

Pra sobreviver de arte em São Paulo
Tenta o Pac, tenta o Pac
Mas se acaso, no projeto
Faltar Cep
Se estrepe, se estrepe

Você gasta o que não tem no xerocão
E a tiazinha sempre diz
Que tá faltando
Um carimbinho de uma data esquecida
Assinatura com firma reconhecida

Pra sobreviver de arte em São Paulo
Lei Mendonça, Lei Mendonça
Mas se não tiver contra-partida social
Babáu, a água bebe a onça

Pra sobreviver de arte em São Paulo
Vai e tenta a Rouanet
E se o empresário fala
Em custo/benefício
Manda ele se pentear.

E assim desejo uma boa semana a todos!

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Roberta, admiro a classe e a competência com que toca pandeiro. Sempre que estou em são paulo, passo no Ó do borogodó e a admiração vai crescendo. Li aqui que fizestes uma oficina de pandeiro, quem dera poder ter participado.
Sempre tive imensa vontade de aprender....mas sempre faltou a oportunidade ou alguém que pudesse me dar aulas.
Me avise quando houver outra, se eu estiver no Brasil,com certeza participarei.
Um abraço grande da admiradora
Carolina Ceneviva
ceneviva@yahoo.com

abril 09, 2009 5:20 PM  

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