quinta-feira, abril 26

Dia Nacional do Choro e outras cositas mas!

Dia 23 de abril, aniversário de Pixinguinha (e do meu amado Geraldo Pereira e meu grande amigo e clarinetista Stanley). Dia Nacional do Choro. Fizemos uma roda linda no Ó do Borogodó, com a presença de vários amigos músicos, como Alexandre Arruda, Zé Barbeiro, Thiago França, Waltinho, Alexandre Moura, Danilo Brito, Bira, Henrique, João Poleto, Ives, Murilo, Chicão, Arismar do Espírito Santo, Gian, Samba, Ricardo Valverde, Johny, Léo do Bandolim, Tati, Thomas, Marcelo, dentre outros.

A melhor emissora do país, a TV Cultura, vai exibir um documentário sobre Pixinguinha sexta, 27/4, às 20 h. O Choro Rasgado participou interpretando 6 músicas, não deixem de ver. E na terça gravamos o programa Sr. Brasil (será reprisado domingo, 29/4, 10 h). Nesse mesmo programa gravei uma música, ao lado dos violonistas Luisinho 7 Cordas e Edson José Alves, com o Zé Renato. Hoje, quinta, às 23h40, será transmitido um documentário de choro gravado no ano passado (a parte 2. A parte 1 foi quinta passada e a parte 3, a última, será na quinta que vem). Tem chorões de SP, Rio, Brasília e Recife.

O Choro Rasgado vai se apresentar, na próxima terça, feriado, 1/5, no Sesc Vila Mariana, ao lado de D. Inah, Arismar do Espírito Santo e Dominguinhos. Uma honra!

Bom, tenho ouvido muitos discos, dentre eles quero comentar sobre o CD da cantora Mariana de Moraes, Se é Pecado Sambar (Lua Discos), que tem um repertório muito bonito. Além da música título, Agora é Cinza, Estrada do Sol e Medo de Amar (do Vinícius, avô de Mariana), que eu já publiquei aqui no blog, destaco algumas músicas que eu amo:

Pra Fugir da Saudade
(Elton Medeiros – Paulinho da Viola)

Saudade
Você fez da minha vida
Uma rua sem saída
Por onde andou minha solidão
E hoje
Quando tudo é esquecimento
Uma flor sobrevive ao tempo
E se desfolha em meu coração
Para aliviar o meu sofrimento

Rompe em silêncio meu canto de felicidade
Dentro de um samba eu desfaço o que ela me fez
Quero abrigar, no entanto
Mais uma flor que renasce
Para fugir da saudade e sorrir outra vez.
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Gravada por Paulinho, Elton Medeiros, Galo Preto, etc.

Deus no Céu, Ela na Terra
(Wílson Batista e Marino Pinto)

Eu sei
Que outra no meu lar
Não vai viver bem
Só ela
Conhece os meus defeitos
E as virtudes também
Por isso já mandei construir
Uma casinha na serra
Pra ela
É Deus no céu e eu na terra

Não existe ninguém perfeito
Quando se tem amizade
Desaparece o defeito
Eu finjo não saber que ela erra
Pra poder dizer:
Deus no céu e ela na terra.
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Gravação original de Carlos Galhardo.

Meu Samba, meu Lamento
(Paulo César Pinheiro e Maurício Carrilho)

Vai, vai, meu samba, meu lamento
Diz que o juramento
Que eu fiz pra ela se acabou
Diz que foi um pé de vento
Foi um sentimento que sem dó me carregou
Violento igual rajada
E eu não pude fazer nada
Ele chegou varrendo tudo
Que foi encontrando pelo meu caminho
Eu fui no rodamoinho desse novo amor

Eu nem sei se vou ser feliz
Mas vai, meu samba, diz
Que o vento da paixão mudou meu norte
Vai porque é preciso abrir meu coração
Diz que eu só quero lhe pedir perdão
Que isso é mais forte...
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Dupla campeã! Samba belíssimo.

Ah, sim. E recebi um presente a semana passada do querido Salvador Falcão: a gravação de 40 anos, na voz de Emílio Santiago (linda, linda, linda). Ouvi mil vezes, obrigada.

Boa semana a todos e até breve!

terça-feira, abril 17

40 Anos

(Altay Veloso/Paulo César Feital)

São 40 anos de aventura
Desde que mãe teve a doçura
De dar a luz pra esse seu nego
E a vida cheia de candura
Botou canção nesses meus dedos
E me entregou uma partitura
Pra eu tocar o meu enredo
Sei que às vezes quase desatino
Mas esse é o meu jeito latino
Meio Zumbi, Peri, D. Pedro
Me emociona um violino
Mas também já chorei de medo
Como chorei ouvindo o Hino
Quando morreu Tancredo

Dos 40 anos de aventuras
Só 20 são de ditadura
E eu dormi, peguei no sono,
E acordei no abandono
E o país tava sem dono
E nós fora da lei

Quem se apaixonou por Che Guevara
Até levou tapa na cara,
Melhor é mudar de assunto
Vamos enterrar esse defunto
Melhor lembrar de Madalena
De Glauber Rocha no cinema
Das cores desse mundo
Jimmy, Janis, Joplin e John Lennon
Meu Deus, o mundo era pequeno
E eu curtia no sereno
Gonzaguinha e Nascimento
O novo renascimento
Que o galo cantava

“Ava Canoeiro”, “Travessia”
Zumbi no “Opinião” sorria,
De Elis surgia uma estrela
Comprei ingressos só pra vê-la
Levei a minha namorada
Com quem casei na “Disparada”
Só para não perdê-la

Lavei com meus prantos os desatinos
Pra conversar com meus meninos
Sobre heróis da liberdade
De Agostinho de Luanda
A Buarque de Holanda
Foram sóis na tempestade
Mesmo escondendo tristes fatos
Curti o tricampeonato
Meu Deus, também sou batuqueiro
Pois eu nasci em fevereiro
E o carnaval tá no meu sangue
Sou dos palácios, sou do mangue,
Enfim sou brasileiro

Sou Ayrton Senna, eu sou Hortência
Dou de lambuja a minha vidência
Não conheço maior fé
Que a de Chico Xavier
Que para Deus já é Pelé
Que é o nosso rei da bola

Quem tem Raoni, tem Amazônia
Se está sofrendo de insônia
É por que tem cabeça fraca
Ou está deitado eternamente
Em berço esplêndido, ou é babaca
Ou está mamando nessa vaca
O leite dos inocentes
Vamos ensaiar, oh... minha gente,
Botar nosso Brasil pra frente
laia, laia, laia, laia...
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Gostaria de publicar este samba no dia do meu aniversário de quarenta anos, mas não vai dar pra esperar (Tá muito longeeeee ;-).
Sou apaixonada por esta música, apesar de nunca ter ouvido uma de suas gravações (A Leny Andrade gravou, o grupo Tom da Terra também). Eu a conheci na voz e no violão de um dos grandes músicos da noite paulistana, o Maurício Lyra, no Villaggio Café. Um dos muitos músicos que conheço que não tiveram chance de registrar seu trabalho em CD. Ai, que Brasil injusto, tantos talentos por aí desperdiçados. Enfim, achei essa música na rede e não resisti...

domingo, abril 15

Vamos à feira?

Meus poucos e amados leitores, desculpem meu sumiço, mas a vida anda corrida e a tendinite, atacada. Muitas novidades, muitos shows, muitas aventuras! Roberto Silva, um dos meus grandes ídolos, cantou no Ó do Borogodó e eu não pude ver, fiquei arrasada. Soube que foi escandalosamente lindo. Por outro lado, minha querida amiga Teresa Salgueiro está aqui novamente e deu uma canja linda com a gente na terça, no Ó, e na sexta, no Magnólia. Obrigada, querida!!

O Choro Rasgado participou de um especial da TV Cultura em homenagem a Pixinguinha. Vai ao ar no dia 23/4, Dia Nacional do Choro e dia em que o mestre faria 110 anos (há controvérsias, eu sei, mas tô com preguiça de explicar!). Lindo, não deixem de assistir, foi muito emocionante. Gravamos também no Programa Sr. Brasil, do Rolando Boldrim, o melhor programa de música da TV brasileira. Deve ir ao ar daqui a uma ou duas semanas. Ah, sim, e já ia me esquecendo, gravei (nesse mesmo programa) com o Zé Renato, um dos meus ídolos, excelente cantor! Foi demais.

Li no Só Dói Quando eu Rio, blog do meu amigo querido Fernando Szegeri, que nosso competente prefeito agora inventou uma lei realmente muito útil, que vai revolucionar as feiras livres de São Paulo. O mais engraçado de tudo, dentre outras baboseiras, é que os feirantes não podem mais gritar. Não é incrível?

Eu, particularmente, tinha trauma de feira livre. Isso porque minha mãe me obrigada a ir com ela toda semana, com sacolinha em punho e carrinho, na feira da Pompéia, ali pertinho da nossa casa, eu odiava. Mas, recentemente, participei de um projeto aqui no Ceasa, onde toquei durante um mês numa das feiras que acontecem por lá. E amei, perdi toda essa má-impressão que eu tinha de feira livre. Muito pelo contrário. Lamento não ter uma feira aqui perto da minha casa. Bom, sendo assim, só nos resta cantar:

Menino das Laranjas
(Théo de Barros)

Menino que vai pra feira
Vender sua laranja até se acabar
Filho de mãe solteira
Cuja ignorância tem que sustentar

É madrugada, vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe arranja um outro pra laranja
E esse filho vai ter que apanhar

Compra laranja, laranja, laranja doutor
E ainda dou uma de quebra pro senhor

Lá no morro a gente acorda cedo
E é só trabalhar
Comida pouca e muita roupa
Que a cidade manda pra lavar
De madrugada, ele, menino
Acorda cedo tentando encontrar
Um pouco pra poder viver
Até crescer e a vida melhorar
Compra laranja doutor
Ainda dou uma de quebra pro senhor
Compra laranja doutor
Ainda dou uma de quebra pro senhor.
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Samba gravado por Elis Regina, recentemente regravado por Mariana Aydar, pode ser ouvido neste blog superlegal que descobri hoje, o Sebo Musical


Doce na Feira
(Jair do Cavaquinho e Altair Costa)

Vendendo doce na feira, ai, ai, ai
Eu vi aquela cabocla, ai, ai, ai
Que há tempos lá na Portela, ai, ai, ai
Andava de boca em boca

Fez ferir (sofrer) seus companheiros, ai, ai, ai
Com as infiéis conquistas, ai, ai, ai
Tanto fez, que tanto fez
Que acabou se apaixonando
Por um volúvel sambista

Assim (depois) que eu vi a cabocla, ai, ai, ai
Minha voz emudeceu, hum, hum, hum
Tinha no peito um retrato, ai, ai, ai
E o retrato era eu
Era eu, era eu, era eu, era eu
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Gravada por Jair do Cavaquinho em 2002 e regravada por Mônica Salmaso no excelente Iaiá, em 2004.

Feira de Mangaio
(Glorinha Gadelha/Sivuca)

Fumo de rolo, arreio e cangalha
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Bolo de milho, broa e cocada
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pé de moleque, alecrim, canela
Moleque sai daqui me deixa trabalhar
E o Zé saiu correndo pra feira de pássaros
E foi pássaro voando em todo lugar

Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaieiro ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra Maria do Joá

Cabresto de cavalo e rabichola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Farinha, rapadura e graviola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pavio de cadeeiro, panela de barro
Menino vou-me embora
Tenho que voltar
Xaxar o meu roçado
Que nem boide carro
Alpargata de arrasto não quer me levar

Porque tem um sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem Zefa de Purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar.
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Grande sucesso na voz de Clara Nunes, foi também gravada por Agepê, Amelinha, o próprio Sivuca, etc. Tenho minhas dúvidas em relação a algumas palavras na letra, mas não deu pra conferir.

Pastel de Feira
(Vicente Barreto e Celso Viáfora)

O prato é um saquinho de papel de pão
A ponta do dedo é o segredo pra se comer com a mão
Tá quente? Quebra no canto que esfria
(lembra que toda iguaria só com lentidão...)
Levou mais de quatro ganha um de troco
Segura, morena, pra não cair
Do lado tem sempre uma água de coco
e caldo de cana com abacaxi
Tem molho inglês e limão brasileiro
pra quem quiser mais tempero
de todo cheiro e sabor
Pimenta vermelha, pra pôr bem pouca
dessa que estala na boca
que nem um beijo de amor
Estica a lona, monta um balcão de madeira
acende o gás, ô...
Bota no tacho e puxa com uma escumadeira
É bom demais: traz o meu pastel de feira!
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Fim de feira
(Nei Lopes e Sereno)

Quem vai querer, quem vai querer
Custa só duzentos réis
Paga um leva dez
Paga um leva dez
Do lado tem mas não chega nem aos pés
Paga um leva dez
Paga um leva dez

A duzentos réis o cento
Tem mentira e ingratidão
De quebra tem fingimento
Quem comprar da minha mão
Veja como está bonita
É tudo fruta de estação
É tempo de hipocrisia, falsidade, traição
Esta foi minha colheita no canteiro da ilusão.

A duzentos réis o molhe
Quem comprar na minha mão
Leva uma dor mais azeda que um punhado de limão
Um amarrado de mágoa, um lote de solidão
Nessa xepa de saudade
O destino, meu patrão
Me mandou vender barato
Pra limpar meu coração.
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Samba gravado por Alcione no disco Vamos Arrepiar, RCA, 1982. Belíssimo disco, timaço de músicos como Dino 7 Cordas, Jorginho do Pandeiro, Rafael Rabello, o trio de ouro Luna, Eliseu e Marçal, Alceu Maia, etc.

Bolsinha da Feira
(Max Bulhões, Nelson Trigueiro e José de Almeida)

Nas quintas-feiras eu
Eu não sei por quê
Não, não
Meu coração fica contente como quê
Sou bem feliz quando ele passa
Dizendo assim pra mim
Com tanta graça
Ai, ai...
"-Minha morena faceira
Deixa a bolsinha da feira
Deixa que eu sou seu carregador!"

Eu agradeço com cortesia

"-Ah, hoje não
Fica pra outro dia!"
Ai, ai...
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Samba gravado por Linda Batista em 1943

Ela Vai à Feira
(Roberto Roberti e Almanyr Greco)

De manhã bem cedinho ela sai
Depois de fazer sua oração
De manhã bem cedinho ela sai
Depois de fazer sua oração
Vai à feira levando a cestinha de compras na mão
Tão faceira ela vai arrastando a sandália no chão

Me sinto bem, me sinto bem
Sempre que vejo a morena faceira
Quando ela vem, quando ela vem
Carregadinha de coisa da feira.
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Samba de 1941 gravado por Vassourinha.