Há muito tempo que quero fazer um post dedicado às músicas que falam de pandeiro. Vou começar com esta raridade, presente no CD João de Barro, da Revivendo (n. 119):
Lataria(Almirante e João de Barro)
- Cumé pessoal? Vamos fazer uma batucada?
- Vambora!
- Mas cadê pandeiro?
- Pandeiro nada! Lata véia taí à beça, pessoal!
- Isto mesmo! Vamos fazer um batuque de lata véia!
- Vambora!
- Decide na lata, pessoal!
Já que não temos pandeiro
Pra fazer nossa batucada
Todo mundo vai batendo
Na lata velha e toda enferrujada
Pra poder formar meu samba
Para entrar na batucada
Fabriquei o meu pandeiro
De lata de goiabada
Sai do meio do brinquedo
Não se meta, Dona Irene!
Porque fiz o meu pandeiro
De lata de querosene
Ando bem desinfetado
Só porque, minha menina,
O meu tamborim foi feito
De lata de creolina
Escuta bem, minha gente
Repara bem pelo som
E depois vocês me digam
Se meu instrumento é bom
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Esta marchinha foi gravada na Parlophon pelo Bando de Tangarás em 1931. O Bando de Tangarás surgiu no Rio de Janeiro, em 1929. Seus integrantes eram Almirante (pandeiro e vocal), Braguinha (violão e vocal), Henrique Brito (violão), Noel Rosa (violão) e Alvinho (violão e vocal).
Inspirados nos conjuntos regionais de enorme sucesso na época como Os Turunas Pernambucanos e Os Turunas da Mauricéia, em 1928, os alunos do Colégio Batista, na Tijuca, entre eles Braguinha, Alvinho e Henrique Brito, formaram o conjunto amador intitulado Flor do Tempo, que, apesar de carioca, divulgaria igualmente cocos e emboladas. Mais tarde, o cantor Almirante ingressou no grupo. Faziam pequenas apresentações em espetáculos amadoristas, festivais beneficentes e festas familiares. A convite do governador do Espírito Santo, o conjunto chegou a apresentar-se em Vitória.
Convidados a gravar um disco na Odeon, no ano seguinte admitem então um outro bom violonista de Vila Isabel, Noel Rosa, o mais jovem, e formam um novo conjunto, o Bando de Tangarás. O nome foi inspirado na lenda dos tangarás, pássaros “cantadores” e “dançarinos” que, sempre em grupo de cinco, quatro formando roda e o quinto no centro (personificado no conjunto por Almirante), saltitando, cantam e dançam alegremente (1). Braguinha sugeriu então que cada um dos integrantes adotasse um pseudônimo com nome de pássaro, assim ele virou João de Barro, nome com o qual é conhecido até hoje.
Em 1930, o grupo admitiu novos instrumentistas, os violonistas Manoel de Lino e Sérgio Brito e os ritmistas Abelardo Braga e Daniel Simões. Ainda em 1930, cantando quatro músicas, participaram do filme Coisas Nossas, de Wallace Downey. O grupo se dissolveu em 1933 e seus integrantes prosseguiram com carreiras individuais.
1. MÁXIMO, João e DIDIER, Carlos. Noel Rosa – Uma biografia. Brasília, Linha Gráfica, 1990, p. 103.