segunda-feira, novembro 6

Músicas que falam em pandeiro

Há muito tempo que quero fazer um post dedicado às músicas que falam de pandeiro. Vou começar com esta raridade, presente no CD João de Barro, da Revivendo (n. 119):

Lataria
(Almirante e João de Barro)

- Cumé pessoal? Vamos fazer uma batucada?
- Vambora!
- Mas cadê pandeiro?
- Pandeiro nada! Lata véia taí à beça, pessoal!
- Isto mesmo! Vamos fazer um batuque de lata véia!
- Vambora!
- Decide na lata, pessoal!

Já que não temos pandeiro
Pra fazer nossa batucada
Todo mundo vai batendo
Na lata velha e toda enferrujada

Pra poder formar meu samba
Para entrar na batucada
Fabriquei o meu pandeiro
De lata de goiabada

Sai do meio do brinquedo
Não se meta, Dona Irene!
Porque fiz o meu pandeiro
De lata de querosene

Ando bem desinfetado
Só porque, minha menina,
O meu tamborim foi feito
De lata de creolina

Escuta bem, minha gente
Repara bem pelo som
E depois vocês me digam
Se meu instrumento é bom
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Esta marchinha foi gravada na Parlophon pelo Bando de Tangarás em 1931. O Bando de Tangarás surgiu no Rio de Janeiro, em 1929. Seus integrantes eram Almirante (pandeiro e vocal), Braguinha (violão e vocal), Henrique Brito (violão), Noel Rosa (violão) e Alvinho (violão e vocal).

Inspirados nos conjuntos regionais de enorme sucesso na época como Os Turunas Pernambucanos e Os Turunas da Mauricéia, em 1928, os alunos do Colégio Batista, na Tijuca, entre eles Braguinha, Alvinho e Henrique Brito, formaram o conjunto amador intitulado Flor do Tempo, que, apesar de carioca, divulgaria igualmente cocos e emboladas. Mais tarde, o cantor Almirante ingressou no grupo. Faziam pequenas apresentações em espetáculos amadoristas, festivais beneficentes e festas familiares. A convite do governador do Espírito Santo, o conjunto chegou a apresentar-se em Vitória.

Convidados a gravar um disco na Odeon, no ano seguinte admitem então um outro bom violonista de Vila Isabel, Noel Rosa, o mais jovem, e formam um novo conjunto, o Bando de Tangarás. O nome foi inspirado na lenda dos tangarás, pássaros “cantadores” e “dançarinos” que, sempre em grupo de cinco, quatro formando roda e o quinto no centro (personificado no conjunto por Almirante), saltitando, cantam e dançam alegremente (1). Braguinha sugeriu então que cada um dos integrantes adotasse um pseudônimo com nome de pássaro, assim ele virou João de Barro, nome com o qual é conhecido até hoje.

Em 1930, o grupo admitiu novos instrumentistas, os violonistas Manoel de Lino e Sérgio Brito e os ritmistas Abelardo Braga e Daniel Simões. Ainda em 1930, cantando quatro músicas, participaram do filme Coisas Nossas, de Wallace Downey. O grupo se dissolveu em 1933 e seus integrantes prosseguiram com carreiras individuais.

1. MÁXIMO, João e DIDIER, Carlos. Noel Rosa – Uma biografia. Brasília, Linha Gráfica, 1990, p. 103.