terça-feira, setembro 5

Adélia Prado

Conheci essa escritora mineira maravilhosa na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Ela é apaixonante. Falou coisas lindas em sua palestra. E recitou esse poema, que fez todo mundo chorar.

As Mortes Sucessivas

Quando minha irmã morreu eu chorei muito
e me consolei depressa. Tinha um vestido novo
e moitas no quintal onde eu ia existir.
Quando minha mãe morreu
Me consolei mais lento.
Tinha uma perturbação recém-achada:
meus seios conformavam dois montículos
e eu fiquei muito nua,
cruzando os braços sobre eles é que eu chorava.
Quando meu pai morreu
Nunca mais me consolei.
Busquei retratos antigos, procurei conhecidos,
parentes, que me lembrassem sua fala,
seu modo de apertar os lábios e ter certeza.
Reproduzi o encolhido do seu corpo
em seu último sono e repeti as palavras
que ele disse quando toquei seus pés:
´deixa, tá bom assim´.
Quem me consolará desta lembrança?
Meus seios se cumpriram
e as moitas onde existo
são pura sarça ardente de memória.

Retirado do livro Bagagem, de Adélia Prado (Ed. Record)
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Neste mês li os livros O pelicano (RJ-1987), A faca no peito (Rocco-1988), Cacos para um vitral (Nova Fronteira - 1980), Quero minha mãe (Record) e Vida doida (Ed. Alegoria, 2006), que reúne alguns poemas.



Tirei essa foto quando peguei autógrafos. Não é linda?
Adélia comentou sobre a influência que teve na sua vida o livro Resposta a Jó, de Jung. Fiquei curiosa! Li O grito de Jó, de Luiz José Dietrich, e agora estou começando o do Jung. É muito interessante.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Quem escreve este blog? Sou portuguesa, um tanto brasileira de coração se me derem a licença, e tenho uma amiga paulista-carioca que esteve na Flip. Fiquei curiosa... Ademais, encontrei o blog buscando por uns sambas que são referidos mais atrás... Daqui fala Inês, jornalista, de Lisboa.

setembro 06, 2006 11:49 AM  
Blogger Unknown said...

Oi linda Roberta! Chegando em casa vou botar link para o teu blog no meu! Como pude esquecer do sempre bom Coisas Nossas? Um beijão!

setembro 06, 2006 1:52 PM  
Anonymous Anônimo said...

"Inês saiu dizendo que ia comprar pavio pro lampião..." (samba de Adoniran Barbosa)

Inês, eu sou a Roberta Cunha Valente, percussionista, pesquisadora e amante de música brasileira, formada em Letras. Me divido entre os livros, os discos, e outras coisitas más. Muito prazer ;-)

setembro 06, 2006 2:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Roberta, essa foto é a coisa mais linda!

setembro 27, 2006 9:00 PM  

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