quarta-feira, dezembro 30

Discos quase novos

Meus poucos mas fiéis leitores... Este deve ser provavelmente o último post do ano. Pois bem, venho aqui comentar sobre novos e velhos discos:

* Daniel Migliavacca - Bandolim - o excelente bandolinista e compositor curitibano lança seu primeiro CD (eu tive a honra de gravar numa faixa, A Ginga do Mané), com vários lindos choros de sua autoria e de Dominguinhos, Jacob do Bandolim, Rogério Souza, Claudio Menandro e Zequinha de Abreu. Um disco muito bonito, com a nata dos chorões curitibanos como Vina Lacerda, Iê do Pandeiro, André Prodóssimo, Julião Boemio, João Egashira, Vinícius Chamorro, Fabiano Silveira, Claudio Menandro, dentre outros. Participam também do CD Rogério Caetano, Toninho Carrasqueira, Pedro Amorim, Rogério Souza, Alessandro Penezzi, Milton de Mori, Ronaldo Saggiorato, Ricardo Herz, dentre outros.

* Girassonhos - Roda de Histórias - Disco infantil lançado pela Pôr do Som/Atração já há sete anos. Com histórias, músicas, vários instrumentistas ótimos e um encarte belíssimo. Adorei esse disco, recomendo.

* Outro bonito lançamento da Pôr do Som/Atração é o disco do homem das cordas Marquinho Mendonça, Tempo Templo. Dono de extremo bom gosto, Marquinho sempre está rodeado dos melhores instrumentistas: Osvaldinho da Cuíca, Dinho Nascimento, Bocato, Edu Ribeiro, Filó Machado, Proveta, Vitor Alcântara, Zé Menezes, dentre outros. Conheçam um pouco de seu trabalho em sua página no MySpace.

* Ana Fridman, Notas de um Sem Tempo - novo CD da pianista com onze músicas de sua autoria, e músicos feras como meu parceiro querido Vitor Lopes (gaita), Sérgio Reze (bateria), Caíto Marcondes (percussão), Marcelo Pretto (voz), etc.

* Ganhei do meu amigo Beto Mendonça um CD do compositor Rabicho, Levando um Samba. Muito legal, grandes músicos presentes: Douglas Alonso, Juliana Amaral, Consuelo de Paula, Edmilson Capelupi, Guinga, Renato Braz, e muitos outros ótimos instrumentistas.

* Um dos lançamentos mais bonitos do ano, Litoral e Interior, do grande compositor e cantor mineiro Sergio Santos.



Sergio é um craque, um tremendo músico. São 13 belas composições, algumas com letra de um dos maiores poetas do Brasil, nosso amado Paulo César Pinheiro. Ouçam algumas na página do Sérgio no MySpace. O disco, lançado pela Biscoito Fino, tem um encarte generoso com fotos maravilhosas. E a participação de feras como Mônica Salmaso, Teco Cardoso, Marcos Suzano, André Mehmari, etc. Impecável.

* Ganhei um disco (pirata, mas não menos maravilhoso) pelo qual estou apaixonada. Trata-se da trilha sonora do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet. A música é do Yann Tiersen. Ganhei o filme também, da minha amada amiga Stela Handa. É dos meus prediletos, sem sombra de dúvida. Me vi ali todo o tempo.

* Madrugada é o nome do CD do seresteiro santista Jorge Maciel, dono de uma voz forte e marcante. Gravei com ele o programa do Rolando Boldrim, Sr. Brasil, dá pra ver aqui e aqui. No CD, que tem direção musical do mestre do violão de 7 cordas: Luizinho, tem várias serestas. Jorge colocou letra no choro Minhas Mãos, Meu Cavaquinho, de Waldir Azevedo. E gravou uma das músicas mais lindas do nosso cancioneiro, Obra-Prima, de Lúcio Cardim (já postada aqui num passado remoto) e este clássico, gravado originalmente pela Divina, Elizeth Cardoso, e regravada por Waleska, Maria Bethânia, Ana de Hollanda, Paulo Gracindo:

Meiga Presença
(Paulo Valdez/Octávio de Moraes)

Quem, ao meu lado, esses passos caminhou?
Esse beijo em meu rosto, quem beijou?
A mão que afaga a minha mão
Este sorriso que não vejo
De onde vem?
Quem foi que me voltou?
Vem, de outro tempo bem longe
Que esqueci
A ternura que nunca mereci
Quem foste tu, presença e pranto
Eu nunca fui amada tanto
Estás aqui
Momento antigo
Estás comigo
Se não te importa ser lembrado
Se não te importa ser amado
Amor amigo
Fica ao meu lado
Sempre...

* Outro CD da parceria Pôr do Som/Atração, do grupo A Quatro Vozes, Felicidade Guerreira.

* Um CD mais pop, do músico Moisés Santana, Verso Alegoria. Tem samba, choro, baião, pop, coco, celebridade:


Tem Celebridade

(Moisés Santana)

No princípio era o verbo
Do pó se fez a criatura
O homem foi fazendo feitos
Foi criando, foi pintando
Foi escrevendo, foi cantando
Alguns ficaram célebre
Não eram maioria
Com talento, com malícia
Rita Lee, Bruce Lee
Givenchy, Pitanguy
Mas no meio desse tempo
Alguma coisa se perdeu

pelo que passa na TV
Pelo que mostra a revista
O que diz o colunista
O que escreve o jornal
Pra celebridade ser
Não precisa esforço
Basta uma plástica no rosto
Um personal stylist
Qualquer boato e muita cara-de-pau

Tem celebridade dando em pé
Mas essa fruta vem sem o caroço
Modelos fabricados em série
Escolha tem pra qualquer gosto
Nem Freud explica tanto alvoroço
Pra ficar famoso
Pra ser conhecido
Para ser alguém
Igualzinho a outro alguém.

* Bendita Companhia - Disco de Tatiana Cobbett e Marcoliva, com grandes músicos, vários de Florianópolis.



Neste site é possível baixar o disco inteiro, ver fotos do show de lançamento aqui em SP, as biografias, etc. Tive a honra de participar desse show e também da gravação do programa Ensaio, na TV Cultura, com eles. Adorei.

* Eva Gomyde e Carlos Roberto Oliveira - PIano Duo. Estes dois grandes pianistas e compositores têm um CD lindo gravado pela Maritaca. No site da gravadora dá pra ouvir alguns trechos e ver todos os detalhes, como o repertório, recheado de pérolas deles dois, de Dom Salvador, Gismonti, etc.



Tive a honra de participar de alguns shows do PianoDuo, que delícia. Além de virtuoses, eles são pessoas simplesmente encantadoras. Eles gravaram também um DVD, dá pra ver maiores detalhes no site do Duo. A Eva gravou um CD solo também muito bonito, Plural. No repertório, além de belas composições dela, algumas músicas que eu amo: Melancia (do Rique Pantoja), Onde Está Você (Oscar Castro Neves e Fiorini) e Dunas (Rosas Passos e Fernando de Oliveira), na voz de Cristina Campos, numa gravação antológica:

Mês de março em Salvador
O verão está no fim
Todo o mato está em flor
E eu me sinto num jardim

Quem sair do Abaeté
Rumo às praias do Flamengo
Não de carro mas a pé
Pelas dunas, mato adentro

Há de ver belezas tais
Que mal dá pra descrever
Tem orquídeas, gravatás
Água limpa de beber

Cavalinhas e teiús
Borboletas e besouros
Tem lagartos verdazuis
E raposas cor de ouro

Sem falar nos passarinhos
Centopéias e lacraus
Nas jibóias e nos ninhos
De urubus e bacuraus

Vejo orquídeas cor-de-rosa
Entre flores amarelas
Dançam cores vão-se as horas
Entre manchas de aquarela

Desce a tarde vem na brisa
Um cheirinho de alecrim
Canta um grilo
Sinto a vida
Tudo está dentro de mim

Mês de março em Salvador
O verão está no fim
Todo o mato está em flor
E eu me sinto num jardim.

* Outro disco muito bonito: Dós Rios, do pianista e compositor argentino Andrés Beeuwsaert. Ouçam algumas músicas em sua página no MySpace.

Ele é um dos integrantes do Aca Seca Trio, grupo que vem se descatando cada vez mais na cena musical argentina, brasileira, européia... um grupo incrível que, por sinal, acaba de lançar seu segundo CD. Vejam no MySpace deles (Ouçam Paloma, que música hermosa, e Carcará... ai, amo!).

Bom, pra variar faltam muitos discos e eu não aguento mais digitar. Acho que vou ter que voltar aqui amanhã...

sexta-feira, dezembro 25

Pra Dizer Adeus

(Edu Lobo/Torquato Neto)

Adeus
Vou pra não voltar
E onde quer que eu vá
Sei que vou sozinho
Tão sozinho, amor
Nem é bom pensar
Que eu não volto mais
Desse meu caminho
Ah, pena eu não saber
Como te contar
Que o amor foi tanto
E no entanto eu queria dizer
Vem
Eu só sei dizer
Vem
Nem que seja só
Pra dizer adeus.

segunda-feira, dezembro 14

Viva o Tulípio!!!!!!!

Hoje e quarta-feira, 16/12, lançamento do livro do Tulípio!

sexta-feira, dezembro 11

Noel Rosa e Ney Mesquita

No dia 11 de dezembro nasceram esses dois gênios da música. Noel Rosa, um dos maiores nomes da música brasileira de todos os tempos. Ney Mesquita, um dos grandes cantores que SP já teve. Como bem costuma dizer Rolando Boldrin, Ney Mesquita partiu antes do combinado. Noel também. Pois bem. Deixo aqui minha modesta homenagem cheia de saudade.



Noel de Medeiros Rosa, cantor, compositor, bandolinista e violonista. Nasceu em 11/12/1910, Rio de Janeiro, RJ e faleceu em 04/05/1937, Rio de Janeiro, RJ.

O pai, Manuel Garcia de Medeiros Rosa, era comerciante, e a mãe, Martha de Medeiros Rosa, professora. O único irmão, Hélio de Medeiros Rosa, era 4 anos mais novo.

Proveniente de uma família de classe média baixa, Noel carregaria pelo resto de sua vida as marcas de um parto forçado que lhe causara fratura e afundamento do maxilar inferior, além de ligeira paralisia facial no lado direito do rosto. Foi operado aos 6 anos e, aos 12, colocou uma prótese.

De 1913 a 1928 Noel estudou no tradicional colégio São Bento. Nessa época, por mau gosto dos colegas, recebeu o apelido de "queixinho".

Aos 13 anos aprendeu a tocar bandolim de ouvido, com a mãe, fato marcante em sua vida, pois a partir daí, percebera que a sua grande habilidade instrumental tornava-o importante diante de outras pessoas. Do bandolim para o violão, foi um passo. Em 1925, dominava completamente o instrumento, participando ativamente das serenatas do bairro.

Enquanto Noel ensaiava os primeiros acordes musicais, estava em voga a música nordestina e os conjuntos sertanejos. O garoto logo se interessou pelas canções, toadas e emboladas da época. Acompanhando a novidade, um grupo de estudantes do Colégio Batista e mais alguns moradores do bairro de Vila Isabel formaram um conjunto musical, denominado "Flor do Tempo". Reformulado para gravar em 1929, o grupo passou a se chamar "Bando de Tangarás". Alguns de seus componentes se tornariam mais tarde grandes expoentes de nossa música: João de Barro, Almirante, e Noel, que já era um bom violonista.

Ainda em 1929, compôs as suas primeiras músicas. Dentre elas a embolada Minha viola e a toada Festa no céu. Em 1930, conheceu seu primeiro grande sucesso Com que roupa, apresentado em espetáculos do Cinema Eldorado. Já se podia notar sua veia humorística e irônica, além da crônica da vida carioca, marcante em toda a sua obra. Em 1931 ainda compunha músicas sertanejas como Mardade de cabocla e Sinhá Ritinha, optando depois definitivamente pelo samba. Em apenas 8 anos de atividade compôs 259 músicas e teve mais de 50 parceiros.

Em 1931 entrou para a faculdade de Medicina, sem, no entanto, abandonar o violão e a boemia. O samba falou mais alto pois largou o curso meses depois.

A partir de 1933 travou a famosa polêmica musical com o compositor Wilson Batista.

Nesse mesmo ano conheceu sua futura esposa, Lindaura, que quase lhe deu um filho: ao cair de uma goiabeira no quintal de sua casa, Lindaura perdeu o bebê

Apesar de fortes problemas pulmonares, Noel não largava a bebida e, com bom humor e ironia, formulou uma teoria a respeito do consumo de cerveja gelada. Segundo ele, a temperatura fria da cerveja acabava paralisando os micróbios, livrando-o da tosse. Com isso, ia ludibriando os amigos e a si mesmo.

Por essa ocasião Noel precisou transferir-se para Belo Horizonte devido à lesão pulmonar que o acometera subitamente. A capital mineira tornara-se o local ideal para o tratamento prolongado. Lá não havia bares, nem botequins ou as estações de rádio que Noel freqüentava tanto.

A viagem à capital mineira surtiu efeito temporariamente; Noel havia engordado 5 quilos e apresentava sinais de melhora. Entretanto, a boemia falou mais alto. Não tardaria muito para que o compositor descobrisse os segredos da vida noturna da capital mineira, entregando-se novamente às cantorias e bebedeiras. Noel e a esposa estavam instalados na casa de tios que, ao descobrirem as saídas noturnas às escondidas de Noel, mandaram o casal de volta ao Rio.

Nos últimos meses de 1936, Noel não mais saía, preferindo evitar as pessoas, sobretudo as que o questionavam sobre o seu estado de saúde. A única pessoa que o poeta visitava era o sambista e compositor Cartola, lá no morro.

No início de 1937, numa outra tentativa de recuperação, Noel e Lindaura rumaram para Nova Friburgo, em busca do ar puro da montanha. Em vão, pois Noel se deprimia, sentindo falta da Vila Isabel.

Ao voltar para o Rio, a doença já havia o tomado por inteiro; sentia-se fraco, melancólico, apático. Alguns amigos sugeriram-lhe que passasse uns tempos na tranqüila cidade de Piraí (RJ). Mais uma vez, o casal partiu rapidamente, mas, certa noite, Noel sentiu-se muito mal, tendo que retornar às pressas para casa. Já se sabia que o poeta se encontrava em fase terminal. Na noite de 4 de maio deste mesmo ano, nos braços de Lindaura, em seu quarto no chalé, Noel veio a falecer de tuberculose aos 26 anos de idade. A notícia não pegou ninguém de sobressalto, pois, a essa altura, a sua morte já era dada como certa.

Principais sucessos :

* Adeus, Noel Rosa, Ismael Silva e Francisco Alves, 1931
* A.E.I.O.U.,Noel Rosa e Lamartine Babo, 1931
* Até amanhã, Noel Rosa, 1932
* Cem mil réis, Noel Rosa e Vadico, 1936
* Com que roupa?, Noel Rosa, 1929 Com que roupa com Noel Rosa (1930)
* Conversa de botequim, Noel Rosa e Vadico, 1935
* Coração, Noel Rosa, 1932
* Cor de cinza, Noel Rosa, 1933
* Dama do cabaré, Noel Rosa, 1934
* De babado, Noel Rosa e João Mina, 1936
* É bom parar, Noel Rosa e Rubens Soares, 1936
* Feitiço da Vila, Noel Rosa e Vadico, 1936
* Feitio de oração, Noel Rosa e Vadico, 1933
* Filosofia, Noel Rosa e André Filho, 1933
* Fita amarela, Noel Rosa, 1932
* Gago apaixonado, Noel Rosa, 1930
* João Ninguém, Noel Rosa, 1935
* Minha viola, Noel Rosa, 1929
* Não tem tradução, Noel Rosa, 1933
* O orvalho vem caindo, Noel Rosa e Kid Pepe, 1933
* O x do problema, Noel Rosa, 1936
* Palpite infeliz, Noel Rosa, 1935
* Para me livrar do mal, Noel Rosa e Ismael Silva, 1932
* Pastorinhas, Noel Rosa e João de Barro, 1934 Pastorinhas com Sílvio Caldas (1937)
* Pela décima vez, Noel Rosa, 1935
* Pierrô apaixonado, Noel Rosa e H. dos Prazeres, 1935 Pierrô apaixonado com Joel e Gaúcho (1935)
* Positivismo, Noel Rosa e Orestes Barbosa, 1933
* Pra que mentir, Noel Rosa e Vadico, 1937
* Provei, Noel Rosa e Vadico, 1936
* Quando o samba acabou, Noel Rosa, 1933
* Quem dá mais?, Noel Rosa, 1930
* Quem ri melhor, Noel Rosa, 1936
* São coisas nossas, Noel Rosa, 1936
* Tarzan, o filho do alfaiate, Noel Rosa, 1936
* Três apitos, Noel Rosa, 1933
* Último desejo, Noel Rosa, 1937 Último desejo com Arai de Almeida (1937)
* Você só...mente, Noel Rosa e Hélio Rosa, 1933



Lembrando que as músicas acima são apenas uma pequena mostra do fantástico repertório do compositor. O texto acima foi escrito por mim para ser publicado no site Ao Chiado Brasileiro. Tudo inspirado na obra-prima abaixo:






Viva Noel Rosa!


Procurei minhas fotos do Ney aqui no meu computador mas elas não resistiram ao último vírus. Vou escanear de novo e em breve publicá-las aqui.