Alguns disquinhos etc. e tal
* Lucinha Bastos Canta a Amazônia II (gravado ao vivo em 2000): bonito CD da cantora paraense, traz músicas de Nilson Chaves, Vital Lima, Maria Lídia, Ruy Barata, Paulo André, etc. Algumas das que eu mais gosto:
Não Vou Sair
(Celso Viáfora)
A geração da gente
Não teve muita chance
De se afirmar, de arrasar, de ser feliz
Sem nada pela frente, pintou aquele lance
De se mudar, de se mandar desse país
E aí você partiu pro Canadá
Mas eu fiquei no "já vou já"
Pois quando tava me arrumando pra ir
Bati com os olhos no luar
E a lua foi bater no mar
E eu fui que fui ficando
Distante tantas milhas
São tristes os invernos
Não vou sair, tá mau aqui
Mas vai mudar
Os velhos de Brasília
Não podem ser eternos
Pior que foi, pior que tá não vai ficar
Não vou sair, melhor você voltar pra cá
Não vou deixar esse lugar
Pois quando tava me arrumando pra ir
Bati com os olhos no luar
A lua foi bater no mar
E eu fui que fui ficando...
_____________________________________
Flor do destino
(Nilson Chaves e Vital Lima)
Te amei assim como água de chuva
Que vai penetrando pra dentro do mundo
Te bebi assim como poço de rua
Que eu olhava dentro mas não via o fundo
Tu me deste um sonho
Eu te trouxe um gosto de tucumã
Tu me deste um beijo
E a gente se amou até de manhã
Veio o sol batendo
E nos despertou
Da gente virando terra, mato
Galho e flor
Água de riacho é clara e limpinha
Mas às vezes turva com a chuva violenta
Teu amor é um papagaio que "xina"
Dentro do silêncio da tarde cinzenta
E o amor é um rio, profundo rio
De muitos sinais
Onde os barcos passam
Conforme o vento deseja e faz
Ai, que inda me lembro
Disso que ficou
Da gente virando terra, mato
Galho e flor...
_____________________________
Foi Assim
Foi assim
Como um resto de sol no mar
Como a brisa na préamar
Nós chegamos ao fim
Foi assim
Quando a flor ao luar se deu
Quando o mundo era quase meu
Tu te fostes de mim
Volta meu bem, murmurei
Volta meu bem, repeti
Não há canção nos teus olhos
Nem amanhã nesse adeus
Horas, dias, meses se passando
E nesse passar, uma ilusão guardei
Ver-te novamente na varanda
A voz sumida em quase pranto
A me dizer, meu bem, voltei
Hoje esta ilusão se fez em nada
E a te beijar, outra mulher eu vi
Vi no seu olhar envenenado
O mesmo olhar do meu passado
E soube então, que te perdi
Pauapixuna
Uma cantiga de amor se mexendo
Uma tapuia no porto a cantar
Um pedacinho de lua nascendo
Uma cachaça de papo pro ar
Um não sei que de saudade doendo
Uma saudade sem tempo ou lugar
Uma saudade querendo, querendo
Querendo ir e querendo ficar
Uma leira, uma esteira
uma beira de rio
um cavalo no pasto
uma égua no cio
um princípio de noite
um caminho vazio
uma leira, uma esteira
uma beira de rio
E no silêncio uma folha caída
uma batida de remo a passar
um candeeiro de manga comprida
um cheiro bom de peixada no ar
Uma pimenta no prato espremida
outra lambada depois do jantar
uma viola de corda curtida
nesta sofrida sofrência de amar
E o vento espalhado na capoeira
a lua na cuia do bamburral
a vaca mugindo lá na porteira
e o macho fungando cá no curral
O tempo tem tempo de tempo ser
o tempo tem tempo de tempo dar
ao tempo da noite que vai correr
o tempo do dia que vai chegar.
___________________________________
Estas duas músicas de Ruy Guilherme Paranatinga Barata(1920-1990) e seu filho, Paulo André, ficaram famosas na voz de Fafá de Belém. A primeira foi tema da novela "Te contei?" e foi gravada ainda pelas cantoras Celeste e Maria Thereza. A segunda também foi gravada por Paulo André Barata e Leila Pinheiro. Também foi tema de novela.
* Sanfona e Realejo - Sivuca e Rildo Hora: Traz músicas dos dois compositores, além de alguns choros, como o belo Vale Tudo, de Jacob do BAndolim, dentre outras.
* Carlos Henry - Anjo Torto: Taí um lindo disco que não estourou (como quase tudo que é bom...). O Henry é uma grande figura, um amigo querido. Vocês podem ler uma crítica do CD aqui. O CD traz um time de feras: Edmilson Capelupi, Milton de Mori, Osvaldinho da Cuíca, Léa Freire, Arismar do Espírito Santo, Guello, Silvia Goes, Proveta, Eduardo Gudin, etc., além das maravilhosas cantoras Maria Martha e Clarisse, e meu amado MPB-4, justamente na faixa mais bonita do disco, a que dá nome ao CD, com a qual Henry participou do Festival da Cultura. É uma música muuuuuuuuuito bonita:
Anjo Torto
Nessa madrugada em que ninguém
Vem reclamar meu corpo
Eu fico aqui a esfriar e a esperar
Que um anjo mau e embriagado
Um velho anjo torto
Passe por aqui só por passar
E sem olhar meus papéis
Venha me identificar
Vá me tirando os anéis
Para que eu possa voar
Um anjo em pleno cio
Que descobriu o seu par
Beijando meu corpo frio
Até me ressuscitar.
* Alaíde Costa - Tudo que o Tempo me Deixou(Lua Music): belíssimo disco, com a qual a cantora comemora cinquenta anos de carreira. O CD tem a produção (e execução) do sofisticadíssimo Gilson Peranzzetta. Algumas das mais-mais:
Voz de Mulher
(Sueli Costa e Abel Silva)
Desde que nasci
A voz da mulher
Me embala
Me alegra
Me faz chorar
Me arrepia os cabelos
Me faz dançar
Me cala ressentimentos
Me ensina a amar
Uma mulher cantando nas Antilhas
Uma voz de mulher
Nos rádios do Brasil
Minha mãe que cantava
Lembrança tão bonita
E as negras americanas
Dos hinos e dos blues
Amor, amor
Me leva essa voz
Nas asas das canções
Eu quero ouvir
Por toda minha vida
Uma mulher cantando para mim.
__________________________________
Edson Cordeiro e Leila Pinheiro também gravaram esta pérola.
Conversa com o Coração
Coração, você vê
A tristeza já tinha ido embora
Mas ela volta agora
Pra te fazer sofrer
Coração, pode crer
Que ela não tem a força de outrora
Mas pela vida afora
Vai dominar você
Se chora, que pena
Não chorar, que frieza
Chora a dor que é pequena
Chora toda a tristeza
Que a dor nos condena
Chora, coração
Pra não morrer
Coração, não se dê
Não precisa chorar como outrora
Você bem rememora
Como ficou você
Chorar vale a pena
Não chorar, que tristeza
Chora que a dor amena
Pra conservá-la presa
Que a dor envenena
Chora, coração
Pra não morrer.
________________________________
Quase chorei de emoção quando ouvi essa música regravada pela Alaíde. Conheço essa canção há muitos anos e já não me lembrava mais dela. Foi gravada originalmente pelo MPB-4 (claro!), e foi a primeira música do Guinga gravada (em 73). Outra de morrer, de tão linda:
Coração sem Saída
(Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro)
Ah, por toda vida
A vida me ensinou
Ninguém deve chorar
Por mal de amor
Mas agora você foi embora
E sem querer a lágrima rolou
Não dava pra estancar a minha dor
Minha alma ficou tão doída
Que a tristeza resolveu chegar
Coração terminou sem saída
Porque a vida
Disse que um homem não chora
Acho que agora a vida se enganou
Pois em questão de amar
Nem tudo é flor
E é bom chorar o mal de amor.
Minha Nossa Senhora
(Fátima Guedes)
Que que é isso que se costura
Na minha alma
Doce sutura, futura calma
Que a prece alcança na paz de Deus
E até mesmo se há alguém
Que pense que a morte é um sonho
Melhor viver nessa vida um sonho
Que eu possa ver pelos olhos teus
Pois sabendo que um dia
É sempre chegada a hora
Eu peço a minha Nossa Senhora
Que estenda a mão sobre o meu país
Quem te implora é outra Maria
A Maria qualquer
A Maria aprediz
Eu também quero ser, que não quer?
Quero ser feliz.
____________________________________
* Cícero Fornari - Bebê com Lobo
Cantor e compositor de Campinas, que conheci no Sesc de lá, outro dia. Dono de bonita voz.
* Radamés Gnatalli e Camerata Carioca - Vivaldi e Pixinguinha (Funarte e Atração)
* Baiano e Os Novos Caetanos - Eu prefiro o Chico Anísio com compositor do que como humorista...
Folia de Rei
(Chico Anísio e Arnaud Rodrigues)
Ai, andar, andei
Ai, como eu andei
E aprendi a nova lei
Alegria em nome da rainha
E folia em nome de rei
Ai, no mar marujei
Ai, eu naveguei
E aprendi a nova lei
Se é de terra que fique na areia
Que o mar bravo só respeita rei
Ai, voar, voei
Ai, como eu voei
E aprendi a nova lei
Alegria em nome das estrelas
E folia em nome de rei
Ai, eu partirei
Ai, eu voltarei
Vou confirmar a nova lei
Alegria em nome de Cristo
Porque Cristo foi o Rei dos reis.
__________________________________________
Esta é do meu saudoso tempo de Bom Motivo...
Ontem fui ao show dos meus queridos amigos Beth Carvalho, Quinteto em Branco e Preto, Carlinhos 7 Cordas, participação do grande Nicolas Krassik, que está tocando cada vez mais bonito, e do gato do Diogo Nogueira, que também arrasou! Que prazer poder estar ao lado dessas pessoas maravilhosas! Descobri que no site da Beth tem vários de seus sucessos com cifras. Então este tem sido meu divertimento: estudar cavaquinho ao som de Beth Carvalho, que eu amo.
Cavaquinho Camarada
Ruy Quaresma
Eu tenho um cavaquinho camarada
É ele que harmoniza a batucada
Eu tenho um cavaquinho companheiro
Irmão do tamborim e do pandeiro
Eu tenho um cavaquinho muito amigo
Que diz tudo que eu não digo
Toda vez que eu vou tocar
E sempre quando eu toco no seu braço
Eu me sinto num abraço
Que eu não sei explicar
E quando a lua é triste
E a noite é morta
Um vazio bate à porta
Vem me encher de solidão
E nessas horas quando a vida é fria
Eu me escondo na poesia
E por trás de um violão
Mas quando o amor me mata de tristeza
Eu me sento nessa mesa
Só aqui que eu sei morrer
No compasso delirante de um chorinho
Só você meu cavaquinho
Que é capaz de me entender.
________________________________________
Do disco Mundo Melhor (RCA, 1976). Gravado também por Ruth Eli.
E hoje é aniversário do meu amigo Lineu César. Pra ele, uma música do seu cantor predileto, Orlando Silva:
Atire a Primeira Pedra
(Ataulfo Alves e Mário Lago, 1943)
Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor
Eu sei que vão censurar o meu proceder
Eu sei, mulher
Que você mesma vai dizer
Que eu voltei pra me humilhar
É, mas não faz mal
Você pode até sorrir
Perdão foi feito pra gente pedir.
___________________________________________
Aparentemente o samba foi criado com analogia às citações bíblicas quando, ao defender uma mulher "pecadora", Cristo proclama: "Pois quem se julgar sem pecado que atire a primeira pedra". Recebeu diversas regravações, dentre elas: Ataulfo Alves, Waldir Azevedo, Demônios da Garoa, Elza Soares, Marlene, Isaurinha Garcia e Noite Ilustrada, Radamés Gnattali, Itamar Assunção, Tadeu Franco, etc.
E pra minha amiga carioca Paula Maia, também um samba de presente de aniversário:
Alegria
Assis Valente e Durval Maia (Carnaval de 1938)
Alegria pra cantar a batucada
As morenas vão sambar
Quem samba tem alegria
Minha gente
Era triste, amargurada
Inventou a batucada
Pra deixar de padecer
Salve o prazer, salve o prazer
Da tristeza não quero saber
A tristeza me faz padecer
Vou deixar a cruel nostalgia
Vou fazer a batucada
De noite e de dia, vou cantar
Esperando a felicidade
Para ver se eu vou melhorar
Vou cantando, fingindo alegria
Para a humanidade
Não me ver chorar.
__________________________________________________
Gravada originalmente em 1937 na RCA por Orlando Silva, acompanhado pelos Diabos do Céu com orquestração de Pixinguinha, e lançada em discos 78 rpm. Outras gravações conhecidas são as de João Nogueira (1986), Tadeu Franco (1994), Vânia Abreu, Dendê Diet (1999), entre outras.
Esse samba se chamaria Vivo triste e tinha um primeiro verso (refrão ou coro) criado por um rapaz mineiro - Durval Maia - que contou sua história - por carta, de Belo Horizonte - desde o começo: "Em 1936 eu estava servindo no Rio, no Batalhão Escola da Vila Militar, e tinha um colega de caserna, Leandro Medeiros, que gostava de samba, mas era uma pessoa que tinha trato e nível educacional. Ele fazia uns sambas, eu tocava violão. Ficamos amigos. Por iniciativa de Leandro, que já era parceiro de Assis desde 1935, cheguei até o compositor, que tinha sala alugada na cidade e um palacete em Santa Teresa... Eu já tinha feito este samba, que se chamava Vivo triste, em que eu cantava minhas tristezas, a vida dura no quartel e o que me aguardava cá fora depois que nós saíssemos da caserna. O Assis gostou e me propôs mudar a letra e o título do samba, para incluir a música num filme que uma mulher - não lembro o nome - ia fazer que teria o nome de Alegria. Foi por isso que foi feito esse Alegria que o Orlando Silva depois gravou. O filme, nunca foi feito. A música foi registrada na Vitale em janeiro, com o nome de Vivo triste, e só foi gravada em junho de 37, tendo muito boa aceitação. Assis Valente era uma pessoa difícil de lidar, porque ora estava alegre e contando anedotas, ora estava triste e deprimido, sem causa ou razão aparente."1
A música deveria ter um ritmo tendendo a um samba-canção. Foi Pixinguinha que deu um andamento mais rápido, adequando-a melhor com o espírito hilariante da letra. Apesar de ter tentado, Assis não conseguiu ganhar nenhum prêmio no carnaval com Alegria, mas, assim mesmo, transformou-se em um absoluto sucesso de "meio de ano".
Como curiosidade, podemos certamente afirmar que este título Alegria não é nada original, pois só de folhear a Discografia Brasileira 78 rpm, 1902 ~ 1964, encontramos mais 11 músicas homônimas, entre valsas, dobrado, rancheira, moda de viola, marcha, frevo-canção e mazurca.
Em seu "long-play" Sinal fechado, de 1974, onde interpreta somente músicas de outros autores, Chico Buarque de Holanda abre o disco com o samba de Caetano Veloso Festa imodesta, que por sua vez é precedida por um trecho de Alegria (minha gente... salve o prazer!).
É isso aí! Salve o compositor popular!
1. GOMES, Dulcinéia Nunes & SILVA, Francisco Duarte. A jovialidade trágica de José de Assis Valente. Martins Fontes/Funarte. Rio de Janeiro, 1988, p. 85.
Não Vou Sair
(Celso Viáfora)
A geração da gente
Não teve muita chance
De se afirmar, de arrasar, de ser feliz
Sem nada pela frente, pintou aquele lance
De se mudar, de se mandar desse país
E aí você partiu pro Canadá
Mas eu fiquei no "já vou já"
Pois quando tava me arrumando pra ir
Bati com os olhos no luar
E a lua foi bater no mar
E eu fui que fui ficando
Distante tantas milhas
São tristes os invernos
Não vou sair, tá mau aqui
Mas vai mudar
Os velhos de Brasília
Não podem ser eternos
Pior que foi, pior que tá não vai ficar
Não vou sair, melhor você voltar pra cá
Não vou deixar esse lugar
Pois quando tava me arrumando pra ir
Bati com os olhos no luar
A lua foi bater no mar
E eu fui que fui ficando...
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Flor do destino
(Nilson Chaves e Vital Lima)
Te amei assim como água de chuva
Que vai penetrando pra dentro do mundo
Te bebi assim como poço de rua
Que eu olhava dentro mas não via o fundo
Tu me deste um sonho
Eu te trouxe um gosto de tucumã
Tu me deste um beijo
E a gente se amou até de manhã
Veio o sol batendo
E nos despertou
Da gente virando terra, mato
Galho e flor
Água de riacho é clara e limpinha
Mas às vezes turva com a chuva violenta
Teu amor é um papagaio que "xina"
Dentro do silêncio da tarde cinzenta
E o amor é um rio, profundo rio
De muitos sinais
Onde os barcos passam
Conforme o vento deseja e faz
Ai, que inda me lembro
Disso que ficou
Da gente virando terra, mato
Galho e flor...
_____________________________
Foi Assim
Foi assim
Como um resto de sol no mar
Como a brisa na préamar
Nós chegamos ao fim
Foi assim
Quando a flor ao luar se deu
Quando o mundo era quase meu
Tu te fostes de mim
Volta meu bem, murmurei
Volta meu bem, repeti
Não há canção nos teus olhos
Nem amanhã nesse adeus
Horas, dias, meses se passando
E nesse passar, uma ilusão guardei
Ver-te novamente na varanda
A voz sumida em quase pranto
A me dizer, meu bem, voltei
Hoje esta ilusão se fez em nada
E a te beijar, outra mulher eu vi
Vi no seu olhar envenenado
O mesmo olhar do meu passado
E soube então, que te perdi
Pauapixuna
Uma cantiga de amor se mexendo
Uma tapuia no porto a cantar
Um pedacinho de lua nascendo
Uma cachaça de papo pro ar
Um não sei que de saudade doendo
Uma saudade sem tempo ou lugar
Uma saudade querendo, querendo
Querendo ir e querendo ficar
Uma leira, uma esteira
uma beira de rio
um cavalo no pasto
uma égua no cio
um princípio de noite
um caminho vazio
uma leira, uma esteira
uma beira de rio
E no silêncio uma folha caída
uma batida de remo a passar
um candeeiro de manga comprida
um cheiro bom de peixada no ar
Uma pimenta no prato espremida
outra lambada depois do jantar
uma viola de corda curtida
nesta sofrida sofrência de amar
E o vento espalhado na capoeira
a lua na cuia do bamburral
a vaca mugindo lá na porteira
e o macho fungando cá no curral
O tempo tem tempo de tempo ser
o tempo tem tempo de tempo dar
ao tempo da noite que vai correr
o tempo do dia que vai chegar.
___________________________________
Estas duas músicas de Ruy Guilherme Paranatinga Barata(1920-1990) e seu filho, Paulo André, ficaram famosas na voz de Fafá de Belém. A primeira foi tema da novela "Te contei?" e foi gravada ainda pelas cantoras Celeste e Maria Thereza. A segunda também foi gravada por Paulo André Barata e Leila Pinheiro. Também foi tema de novela.
* Sanfona e Realejo - Sivuca e Rildo Hora: Traz músicas dos dois compositores, além de alguns choros, como o belo Vale Tudo, de Jacob do BAndolim, dentre outras.
* Carlos Henry - Anjo Torto: Taí um lindo disco que não estourou (como quase tudo que é bom...). O Henry é uma grande figura, um amigo querido. Vocês podem ler uma crítica do CD aqui. O CD traz um time de feras: Edmilson Capelupi, Milton de Mori, Osvaldinho da Cuíca, Léa Freire, Arismar do Espírito Santo, Guello, Silvia Goes, Proveta, Eduardo Gudin, etc., além das maravilhosas cantoras Maria Martha e Clarisse, e meu amado MPB-4, justamente na faixa mais bonita do disco, a que dá nome ao CD, com a qual Henry participou do Festival da Cultura. É uma música muuuuuuuuuito bonita:
Anjo Torto
Nessa madrugada em que ninguém
Vem reclamar meu corpo
Eu fico aqui a esfriar e a esperar
Que um anjo mau e embriagado
Um velho anjo torto
Passe por aqui só por passar
E sem olhar meus papéis
Venha me identificar
Vá me tirando os anéis
Para que eu possa voar
Um anjo em pleno cio
Que descobriu o seu par
Beijando meu corpo frio
Até me ressuscitar.
* Alaíde Costa - Tudo que o Tempo me Deixou(Lua Music): belíssimo disco, com a qual a cantora comemora cinquenta anos de carreira. O CD tem a produção (e execução) do sofisticadíssimo Gilson Peranzzetta. Algumas das mais-mais:
Voz de Mulher
(Sueli Costa e Abel Silva)
Desde que nasci
A voz da mulher
Me embala
Me alegra
Me faz chorar
Me arrepia os cabelos
Me faz dançar
Me cala ressentimentos
Me ensina a amar
Uma mulher cantando nas Antilhas
Uma voz de mulher
Nos rádios do Brasil
Minha mãe que cantava
Lembrança tão bonita
E as negras americanas
Dos hinos e dos blues
Amor, amor
Me leva essa voz
Nas asas das canções
Eu quero ouvir
Por toda minha vida
Uma mulher cantando para mim.
__________________________________
Edson Cordeiro e Leila Pinheiro também gravaram esta pérola.
Conversa com o Coração
Coração, você vê
A tristeza já tinha ido embora
Mas ela volta agora
Pra te fazer sofrer
Coração, pode crer
Que ela não tem a força de outrora
Mas pela vida afora
Vai dominar você
Se chora, que pena
Não chorar, que frieza
Chora a dor que é pequena
Chora toda a tristeza
Que a dor nos condena
Chora, coração
Pra não morrer
Coração, não se dê
Não precisa chorar como outrora
Você bem rememora
Como ficou você
Chorar vale a pena
Não chorar, que tristeza
Chora que a dor amena
Pra conservá-la presa
Que a dor envenena
Chora, coração
Pra não morrer.
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Quase chorei de emoção quando ouvi essa música regravada pela Alaíde. Conheço essa canção há muitos anos e já não me lembrava mais dela. Foi gravada originalmente pelo MPB-4 (claro!), e foi a primeira música do Guinga gravada (em 73). Outra de morrer, de tão linda:
Coração sem Saída
(Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro)
Ah, por toda vida
A vida me ensinou
Ninguém deve chorar
Por mal de amor
Mas agora você foi embora
E sem querer a lágrima rolou
Não dava pra estancar a minha dor
Minha alma ficou tão doída
Que a tristeza resolveu chegar
Coração terminou sem saída
Porque a vida
Disse que um homem não chora
Acho que agora a vida se enganou
Pois em questão de amar
Nem tudo é flor
E é bom chorar o mal de amor.
Minha Nossa Senhora
(Fátima Guedes)
Que que é isso que se costura
Na minha alma
Doce sutura, futura calma
Que a prece alcança na paz de Deus
E até mesmo se há alguém
Que pense que a morte é um sonho
Melhor viver nessa vida um sonho
Que eu possa ver pelos olhos teus
Pois sabendo que um dia
É sempre chegada a hora
Eu peço a minha Nossa Senhora
Que estenda a mão sobre o meu país
Quem te implora é outra Maria
A Maria qualquer
A Maria aprediz
Eu também quero ser, que não quer?
Quero ser feliz.
____________________________________
* Cícero Fornari - Bebê com Lobo
Cantor e compositor de Campinas, que conheci no Sesc de lá, outro dia. Dono de bonita voz.
* Radamés Gnatalli e Camerata Carioca - Vivaldi e Pixinguinha (Funarte e Atração)
* Baiano e Os Novos Caetanos - Eu prefiro o Chico Anísio com compositor do que como humorista...
Folia de Rei
(Chico Anísio e Arnaud Rodrigues)
Ai, andar, andei
Ai, como eu andei
E aprendi a nova lei
Alegria em nome da rainha
E folia em nome de rei
Ai, no mar marujei
Ai, eu naveguei
E aprendi a nova lei
Se é de terra que fique na areia
Que o mar bravo só respeita rei
Ai, voar, voei
Ai, como eu voei
E aprendi a nova lei
Alegria em nome das estrelas
E folia em nome de rei
Ai, eu partirei
Ai, eu voltarei
Vou confirmar a nova lei
Alegria em nome de Cristo
Porque Cristo foi o Rei dos reis.
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Esta é do meu saudoso tempo de Bom Motivo...
Ontem fui ao show dos meus queridos amigos Beth Carvalho, Quinteto em Branco e Preto, Carlinhos 7 Cordas, participação do grande Nicolas Krassik, que está tocando cada vez mais bonito, e do gato do Diogo Nogueira, que também arrasou! Que prazer poder estar ao lado dessas pessoas maravilhosas! Descobri que no site da Beth tem vários de seus sucessos com cifras. Então este tem sido meu divertimento: estudar cavaquinho ao som de Beth Carvalho, que eu amo.
Cavaquinho Camarada
Ruy Quaresma
Eu tenho um cavaquinho camarada
É ele que harmoniza a batucada
Eu tenho um cavaquinho companheiro
Irmão do tamborim e do pandeiro
Eu tenho um cavaquinho muito amigo
Que diz tudo que eu não digo
Toda vez que eu vou tocar
E sempre quando eu toco no seu braço
Eu me sinto num abraço
Que eu não sei explicar
E quando a lua é triste
E a noite é morta
Um vazio bate à porta
Vem me encher de solidão
E nessas horas quando a vida é fria
Eu me escondo na poesia
E por trás de um violão
Mas quando o amor me mata de tristeza
Eu me sento nessa mesa
Só aqui que eu sei morrer
No compasso delirante de um chorinho
Só você meu cavaquinho
Que é capaz de me entender.
________________________________________
Do disco Mundo Melhor (RCA, 1976). Gravado também por Ruth Eli.
E hoje é aniversário do meu amigo Lineu César. Pra ele, uma música do seu cantor predileto, Orlando Silva:
Atire a Primeira Pedra
(Ataulfo Alves e Mário Lago, 1943)
Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor
Eu sei que vão censurar o meu proceder
Eu sei, mulher
Que você mesma vai dizer
Que eu voltei pra me humilhar
É, mas não faz mal
Você pode até sorrir
Perdão foi feito pra gente pedir.
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Aparentemente o samba foi criado com analogia às citações bíblicas quando, ao defender uma mulher "pecadora", Cristo proclama: "Pois quem se julgar sem pecado que atire a primeira pedra". Recebeu diversas regravações, dentre elas: Ataulfo Alves, Waldir Azevedo, Demônios da Garoa, Elza Soares, Marlene, Isaurinha Garcia e Noite Ilustrada, Radamés Gnattali, Itamar Assunção, Tadeu Franco, etc.
E pra minha amiga carioca Paula Maia, também um samba de presente de aniversário:
Alegria
Assis Valente e Durval Maia (Carnaval de 1938)
Alegria pra cantar a batucada
As morenas vão sambar
Quem samba tem alegria
Minha gente
Era triste, amargurada
Inventou a batucada
Pra deixar de padecer
Salve o prazer, salve o prazer
Da tristeza não quero saber
A tristeza me faz padecer
Vou deixar a cruel nostalgia
Vou fazer a batucada
De noite e de dia, vou cantar
Esperando a felicidade
Para ver se eu vou melhorar
Vou cantando, fingindo alegria
Para a humanidade
Não me ver chorar.
__________________________________________________
Gravada originalmente em 1937 na RCA por Orlando Silva, acompanhado pelos Diabos do Céu com orquestração de Pixinguinha, e lançada em discos 78 rpm. Outras gravações conhecidas são as de João Nogueira (1986), Tadeu Franco (1994), Vânia Abreu, Dendê Diet (1999), entre outras.
Esse samba se chamaria Vivo triste e tinha um primeiro verso (refrão ou coro) criado por um rapaz mineiro - Durval Maia - que contou sua história - por carta, de Belo Horizonte - desde o começo: "Em 1936 eu estava servindo no Rio, no Batalhão Escola da Vila Militar, e tinha um colega de caserna, Leandro Medeiros, que gostava de samba, mas era uma pessoa que tinha trato e nível educacional. Ele fazia uns sambas, eu tocava violão. Ficamos amigos. Por iniciativa de Leandro, que já era parceiro de Assis desde 1935, cheguei até o compositor, que tinha sala alugada na cidade e um palacete em Santa Teresa... Eu já tinha feito este samba, que se chamava Vivo triste, em que eu cantava minhas tristezas, a vida dura no quartel e o que me aguardava cá fora depois que nós saíssemos da caserna. O Assis gostou e me propôs mudar a letra e o título do samba, para incluir a música num filme que uma mulher - não lembro o nome - ia fazer que teria o nome de Alegria. Foi por isso que foi feito esse Alegria que o Orlando Silva depois gravou. O filme, nunca foi feito. A música foi registrada na Vitale em janeiro, com o nome de Vivo triste, e só foi gravada em junho de 37, tendo muito boa aceitação. Assis Valente era uma pessoa difícil de lidar, porque ora estava alegre e contando anedotas, ora estava triste e deprimido, sem causa ou razão aparente."1
A música deveria ter um ritmo tendendo a um samba-canção. Foi Pixinguinha que deu um andamento mais rápido, adequando-a melhor com o espírito hilariante da letra. Apesar de ter tentado, Assis não conseguiu ganhar nenhum prêmio no carnaval com Alegria, mas, assim mesmo, transformou-se em um absoluto sucesso de "meio de ano".
Como curiosidade, podemos certamente afirmar que este título Alegria não é nada original, pois só de folhear a Discografia Brasileira 78 rpm, 1902 ~ 1964, encontramos mais 11 músicas homônimas, entre valsas, dobrado, rancheira, moda de viola, marcha, frevo-canção e mazurca.
Em seu "long-play" Sinal fechado, de 1974, onde interpreta somente músicas de outros autores, Chico Buarque de Holanda abre o disco com o samba de Caetano Veloso Festa imodesta, que por sua vez é precedida por um trecho de Alegria (minha gente... salve o prazer!).
É isso aí! Salve o compositor popular!
1. GOMES, Dulcinéia Nunes & SILVA, Francisco Duarte. A jovialidade trágica de José de Assis Valente. Martins Fontes/Funarte. Rio de Janeiro, 1988, p. 85.
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