terça-feira, abril 18

Drama de Angélica

Ouve meu cântico
Quase sem ritmo
Que a voz de um físico
Magro esquelético
Poesia épica
Em forma esdrúxula
Feita sem métrica
Com rima rápida

Amei Angélica
Mulher anêmica
De cores pálidas
E gestos tímidos
Era maligna
E tinha ímpetos
De fazer cócegas
No meu esôfago

Em noite frígida
Fomos ao Lírico
Ouvir o músico
Pianista célebre
Soprava o zéfiro
Ventinho úmido
Então Angélica
Ficou asmática

Fomos ao médico
De muita clínica
Com muita prática
E preço módico
Depois do inquérito
Descobre o clínco
O mal atávico
Mal sifilítico

Mandou-me célebre
Comprar noz vômica
E ácido cítrico
Para o seu fígado
O farmacêutico
Mocinho estúpido
Errou na fórmula
Fez de propósito

Não tendo escrúpulo
Deu-me sem rótulo
Ácido fênico
E ácido prússico
Corri mui lépido
Mais de um quilômetro
Num bonde elétrico
De força múltipla

O dia cálido
Deixou-me tépido
Achei Angélica
Já toda trêmula
A terapêutica
Dose alopática
Lhe dei em xícara
De ferro ágata

Tomou num folêgo
Triste e bucólica
Esta estrambólica
Droga fatídica
Caiu no esôfago
Deixou-a lívida
Dando-lhe cólica
E morte trágica

O pai de Angélica
Chefe do tráfego
Homem carnívoro
Ficou perplexo
Por ser estrábico
Usava óculos:
Um vidro côncavo
Outro convexo

Morreu Angélica
De um modo lúgubre
Moléstia crônica
Levou-a ao túmulo
Foi feita a autópsia
Todos os médicos
Foram unânimes
No diagnóstico

Fiz-lhe um sarcófago
Assaz artístico
Todo de mármore
Da cor do ébano
E sobre o túmulo
Uma estatística
Coisa metódica
Como Os Lusíadas

E numa lápide
Paralepípedo
Pus este dístico
Terno e simbólico:
"Cá jaz Angélica
Moça hiperbólica
Beleza helênica
Morreu de cólica!"
____________________________________
Esta valsa (de Alvarenga e M. G. Barreto), ou "canto tétrico", como foi clássificada, foi gravada por Alvarenga e Ranchinho.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Esta música é ótima, mas foi transcrita com uns errinhos. Lá vai a correção:

Ouve meu cântico
Quase sem ritmo
Que a voz de um tísico
Magro esquelético
Poesia épica
Em forma esdrúxula
Feita sem métrica
Com rima rápida

Amei Angélica
Mulher anêmica
De cores pálidas
E gestos tímidos
Era maligna
E tinha ímpetos
De fazer cócegas
No meu esôfago

Em noite frígida
Fomos ao Lírico
Ouvir o músico
Pianista célebre
Soprava o zéfiro
Ventinho úmido
Então Angélica
Ficou asmática

Fomos ao médico
De muita clínica
Com muita prática
E preço módico
Depois do inquérito
Descobre o clínco
Um mal atávico
Mal sifilítico

Mandou-me célebre
Comprar noz vômica
E ácido cítrico
Para o seu fígado
O farmacêutico
Mocinho estúpido
Errou na fórmula
Fez de propósito

Não tendo escrúpulo
Deu-me sem rótulo
Ácido fênico
E ácido prússico
Corri mui lépido
Mais de um quilômetro
Num bonde elétrico
De força múltipla

O dia cálido
Deixou-me tépido
Achei Angélica
Já toda trêmula
A terapêutica
Dose alopática
Lhe dei em xícara
De ferro ágata

Tomou num folêgo
Triste e bucólica
Esta estrambólica
Droga fatídica
Caiu no esôfago
Deixou-a lívida
Dando-lhe cólica
E morte trágica

O pai de Angélica
Chefe do tráfego
Homem carnívoro
Ficou perplexo
Por ser estrábico
Usava óculos:
Um vidro côncavo
Outro convexo

Morreu Angélica
De um modo lúgubre
Moléstia crônica
Levou-a ao túmulo
Foi feita a autópsia
Todos os médicos
Foram unânimes
No diagnóstico

Fiz-lhe um sarcófago
Assaz artístico
Todo de mármore
Da cor do ébano
E sobre o túmulo
Uma estatística
Coisa metódica
Como Os Lusíadas

E numa lápide
Paralepípedo
Pus este dístico
Terno e simbólico:
"Cá jaz Angélica
Moça hiperbólica
Beleza helênica
Morreu de cólica!"
____________________________________
Esta valsa (de Alvarenga e M. G. Barreto), ou "canto tétrico", como foi classificada, foi gravada por Alvarenga e Ranchinho.

outubro 05, 2007 4:40 PM  
Anonymous alberto jabur said...

ainda há um pequeno engano:
No terceiro verso da primeira estrofe, o correto e:

"NA VOZ DE UM TÍSICO..."

e não


"QUE A VOZ DE UM TÍSICO..."

No mais, ok.

maio 15, 2010 7:58 PM  

Postar um comentário

<< Home