sábado, julho 26

Elba Ramalho

Durante boa parte da minha adolescência ouvi, toquei e cantei músicas do repertório da Elba Ramalho. Bons tempos em que eu tocava violão dia e noite. Grande intérprete da música brasileira, sua obra é riquíssima: no repertório (Elba gravou samba, choro, marcha, caboclinho, frevo, baião, xote, coco, tudo), nos instrumentistas, nos arranjos... Descobri que tenho quase todos os seus discos (lps). Da era do CD pra cá só tenho um... :-(
Fizemos um show com o superinstrumentista Toninho Ferragutti no Espírito Santo. E tocamos muitos forrós, então resolvi relembrar alguns clássicos da Elba... que delícia! Logo no primeiro disco (Ave de Prata, 1979) Elba arrasou cantando sucessos que perduram até hoje como Canta Coração (Geraldo Azevedo e CArlos Fernando), Não Sonho Mais (do Chico Buarque), Ave de Prata (do Zé Ramalho), Kukukaya (da Cátia de França), Bodocongó (Humberto Teixeira e Cícero Nunes), etc. Os instrumentistas desse primeiro LP são um time de primeiríssima: Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Chico Batera, Wagner Tiso, Sivuca, Robertinho Silva, Lulu dos Santos (na guitarra, olha que interessante ;-) dentre outros. Desse disco destaco o choro Cartão Postal. Olha o timaço: Dino 7 Cordas, Joel Nascimento, Jorginho, Netinho (no clarinete), etc:

Cartão Postal
(David Tygel e Cacaso)

Eu sou manhoso
Eu sou brasileiro
Finjo que vou
Mas não vou
Minha janela é moldura
Do luar do sertão
A verde mata
Nos olhos verdes da mulata
Nos olhos verdes da mulata
Sou brasileiro manhoso
E por isso
Dentro da noite em meu quarto
Fico cismando
Na beira de um rio
Na imensa solidão
De latidos de araras
Lívido
Lívido
De medo e de amor.

Seu segundo LP (Capim do Vale, 1980) também é memorável. E também tem Dino, Jackson, Sivuca, Canhoto, Meira, Franklin da Flauta, Zé Menezes arrasando na viola de dez cordas em O Violeiro (do maravilhoso Elomar)... Destaque pras minhas prediletas:

Légua Tirana
(Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

Oh que estrada mais comprida
Oh que légua tão tirana
Ai se eu tivesse asas
Inda hoje eu via Ana

Quando o sol tostou as folhas
E bebeu o riachão
Fui inté o Juazeiro
Pra fazer minha oração

Tô voltando estropiado
Mais alegre o coração
Padim Ciço ouviu minha prece
Fez chover no meu sertão

Oh que estrada mais comprida
Oh que légua tão tirana
Ai se eu tivesse asas
Inda hoje eu via Ana

Varei mais de vinte serras
De alpercata e pé no chão
Mesmo assim como inda farta
Pra chegar no meu rincão

Trago um terço pra das Dores
Pra Reimundo um violão
E pra ela, e pra ela
Trago eu e o coração.

Porto da Saudade
(Alceu Valença)

Faz tanto tempo, tempo é rua soledade
Leia saudade quando escrevo solidão
Quis o destino tortuoso dos ciganos
E as aventuras dos pneus de um caminhão
Que atravessava o riacho de salobro
Deixando marcas desenhadas pelo chão
O vento vinha e varria a minha volta
A ventania e o tempo não têm compaixão

Oh mana deixa eu ir
Oh mana eu vou só
Oh mana deixa eu ir
Pro sertão de Caicó

Faz tanto tempo, tempo é porto da saudade
Praias do Rio de Janeiro no verão
Quero o destino das águas dos oceanos
Me evaporando pra eu chover no Riachão
Mergulharia no riacho de salobro
Lavando a culpa como se eu fosse cristão
O vento vinha e varria à minha volta
A ventania e o tempo não têm compaixão.

O Violeiro
(Elomar)

Vou cantar num canto de primeiro
As coisas lá da minha mudernagem
Que me fizeram errante violeiro
Eu falo sério e não é vadiagem
E pra você que agora está me ouvindo
Eu juro inté pelo santo menino
Virgem Maria que ouve o que eu digo
Se for mentira me mande um castigo

Ia pois pro cantador e violeiro
Só há três coisas nesse mundo vão
Amor, forria, viola, nunca dinheiro
Viola, forria, amor, dinheiro não

Cantador de trovas e martelos
De gabinetes, ligeira e mourão
Ai cantador corri o mundo inteiro
Já inté cantei nas portas de um castelo
De um rei que se chamava de João
Pode acreditar meu companheiro
A dispois de eu ter cantado o dia inteiro
O rei me disse fica
Eu disse não
Ia pois pro cantador e violeiro
Só há três coisas nesse mundo vão
Amor, forria, viola, nunca dinheiro
Viola, forria, amor, dinheiro não

Se eu tivesse de viver obrigado
Um dia e antes desse dia eu morro
Deus fez os homens e os bichos tudo forro
Já havia escrito no livro sagrado
Que a vida nessa terra é uma passagem
Cada um leva um fardo pesado
É o ensinamento que desde a mudernagem
Eu trago dentro do coração guardado
Ia pois pro cantador e violeiro
Só há três coisas nesse mundo vão
Amor, forria, viola, nunca dinheiro
Viola, forria, amor, dinheiro não

Tive muita dor de não ter nada
Pensando que esse mundo é tudo ter
Mas só depois de penar pelas estradas
Beleza na pobreza é que fui ver
Fui ver na procissão louvado seja
Mal assombro das casas abandonadas
Coro de cego nas portas das igrejas
E o ermo da solidão nas estradas
Ia pois pro cantador e violeiro
Só há três coisas nesse mundo vão
Amor, forria, viola, nunca dinheiro
Viola, forria, amor, dinheiro não

Pispiando tudo do começo
Eu vou mostrar como se faz um pachola
Ai, que enforca o pescoço da viola
E revira toda moda pelo avesso
Sem reparar sequer se é noite e dia
Vai hoje cantando o bem da forria
Sem um tostão na cuia o cantador
Canta até morrer o bem do amor
Ia pois pro cantador e violeiro
Só há três coisas nesse mundo vão
Amor, forria, viola, nunca dinheiro
Viola, forria, amor, dinheiro não.

Imbalança
(Luiz Gonzaga e Zé Dantas)

Olha a palha do coqueiro quando o vento dá
Olha o tombo da jangada nas ondas do mar
Pra você aguentar meu rojão
É preciso saber requebrar
Ter molejo nos pés e nas mãos
Ter no corpo o balanço do mar
Ser que nem carrapeta no chão
E virar folha seca no ar
Que é pra quando escutar meu baião
Imbalança, imbalança, imbalançar
Imbalança, imbalança, imbalançar
Imbalança, imbalança, imbalançar

Você tem que viver no sertão
Pra na rede aprender embalar
Aprender a bater no pilão
Na peneira aprender peneirar
Ver relampo no meio do trovão
Fazer cobra de fogo no ar
Que é pra quando escutar meu baião
Imbalança, imbalança, imbalançar
Imbalança, imbalança, imbalançar
Imbalança, imbalança, imbalançar.

Veja (Margarida)
(Vital Farias)

Veja você, arco-íris já mudou de cor
E uma rosa nunca mais desabrochou
E eu não quero ver você
Com esse gosto de sabão na boca
arco-íris já mudou de cor
E uma rosa nunca mais desabrochou
E eu não quero ver você
Eu não quero ver...

Veja meu bem, gasolina vai subir de preço
E eu não quero nunca mais seu endereço
Ou é o começo do fim ou é o fim
Eu vou partir
Pra cidade garantida, proibida
Arranjar meio de vida, Margarida
Pra você gostar de mim
Essas feridas da vida, Margarida
Essas feridas da vida, amarga vida
Pra você gostar de mim.

No seu terceiro LP (ou quinto, estou na dúvida), Alegria, de 1982, Elba gravou Bate Coração, Marcha Regresso, Olhos Acesos, Menina do Lido (com Geraldo Azevedo), só pra citar minhas prediletas, e estas duas abaixo, que eu AMO.

Amor com Café
(Cecéu)

Se você quiser o meu amor
Tem que ser assim
Agarradinho, escondidinho
Bem bonitinho
Somente pra mim
E de manhã cedo
Fazer o café
Trazer na cama
Depois do café
A gente se ama
A gente se gama
Depois do café
Ficar o dia inteiro
Nesse dá-me, dá-me
Nesse toma, toma
Nesse pega, pega
Nesse coma, coma
Nessa brincadeira
Sem ninguém dar fé
Que o dia vai acabar
E a noite já vem
O nosso amor pegando fogo
Vamos se queimar
Levar a vida nesse jogo
Pra se ganhar
E muito mais se querer bem.

Sete Cantigas para Voar
(Vital Farias)

Cantiga de campo
De concentração
A gente bem sente com precisão
Mas recordo a tua imagem
Naquela viagem
Que fiz pro sertão
Eu que nasci na floresta
Canto e faço festa
No seu coração
Voa, voa azulão

Cantiga de roça
De um cego apaixonado
Cantiga de moça lá no cercado
Que canta a fauna e a flora
Ninguém ignora se ela quer brotar
Bota uma flor no cabelo
Com alegria e zelo
Para não secar
Voa, voa no ar

Cantiga de ninar a criança na rede
Mentira de água
É matar a sede
Diz pra mãe que fui pro açude
Fui pescar um peixe
Isso não fui não
Tava era cum namorado
Pra alegria e festa do meu coração
Voa, voa azulão

Cantiga de índio
Que perdeu sua taba
No peito esse incêndio
Seu não se apaga
Deixa o índio no seu canto
Que eu canto um acalanto
Faço outra canção
Deixe o peixe, deixe o rio
Que o rio é um fio de inspiração
Voa, voa azulão.

No LP Coração Brasileiro, de 1983, Elba também acertou nos convidados (Chico Buarque, Roupa Nova, Robertinho do Recife, Jorginho Silva, Hélio Delmiro, Sivuca, César Camargo Mariano, dentre outros) e no repertório:

Toque de Fole
(Bastinho Calixto/Ana Paula)

Toque sanfoneiro
Um forró bem animado
Com cadência de xaxado
Da poeira levantar
Toque sanfoneiro
As mulheres estão visando
O fole frouxo tocando
Castigando a nota lá
Toque sanfoneiro
Mostre que é velho macho
Capriche nos oito baixos
Até o dia clarear
Toque sanfoneiro
Toque porque
A gente quer se esbaldar
Toque sanfoneiro
Toque porque
A gente quer dançar

Dedo no couro é pandeirada
Mão na zabumba é zabumbada
E no triângulo é trianglada
Dedo no fole é forrozada.

Se eu Fosse o teu Patrão
(Chico Buarque, da peça “Ópera do Malandro”)

Eu te adivinhava
E te cobiçava
E te arrematava em leilão
Te ferrava a boca, morena
Se eu fosse o teu patrão
Ai, eu te cuidava
Como uma escrava
Ai, eu não te dava perdão
Te rasgava a roupa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu te encarcerava
Te acorrentava
Te atava ao pé do fogão
Não te dava sopa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu te encurralava
Te dominava
Te violava no chão
Te deixava rota, morena
Se eu fosse o teu patrão
Quando tu quebrava
E tu desmontava
E tu não prestava mais não
Eu comprava outra morena
Se eu fosse o teu patrão

Pois eu te pagava direito
Soldo de cidadão
Punha uma medalha em teu peito
Se eu fosse o teu patrão
O tempo passava sereno
E sem reclamação
Tu nem reparava, moreno
Na tua maldição
E tu só pegava veneno
Beijando a minha mão
Ódio te brotava, moreno
Ódio do teu irmão
Teu filho pegava gangrena
Raiva, peste e sezão
Cólera na tua morena
E tu não chiava não
Eu te dava café pequeno
E manteiga no pão
Depois te afagava, moreno
Como se afaga um cão
Eu sempre te dava esperança
Dum futuro bão
Tu me idolatrava, criança
Se eu fosse o teu patrão
Mas se tu cuspisse no prato
Onde comeu feijão
Eu fechava o teu sindicato
Se eu fosse o teu patrão.

Roendo Unha
(Luiz Ramalho e Luiz Gonzaga)

Quando o Vinvin cantou
Corri pra ver você
Atrás da serra o sol
Tava pra se esconder
Quando você partiu
Eu não esqueço mais
Meu coração, amor, partiu atrás

Vivo com os olhos na ladeira
Quando vejo uma poeira
Eu penso logo que é você
Vivo de orelha levantada
Para o lado da estrada
Que atravessa o muçambê
Ora, já estou roendo unha
A saudade é testemunha
Do que agora vou dizer
Quando na janela eu me debruço
O meu cantar é um soluço
A galopar no maçapê.

Ai Que Saudade de Ocê
(Vital Farias)

Não se admire se um dia
Um beija-flor invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade de ocê

Se um dia ocê se lembrar
Escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio
Com frases dizendo assim:
"faz tempo que eu não te vejo
Quero matar meu desejo
Te mando um monte de beijo
Ai que saudade sem fim"

E se quiser recordar
Aquele nosso namoro
Quando eu ia viajar
Você caía no choro
Vou chorando pela estrada
Mas o que eu posso fazer?
Trabalhar é minha sina
Eu gosto mesmo é de ocê.

O LP Fogo na Mistura (Philips, 1985) tem alguns mestres da percussão (Gordinho, Trambique, Eliseu, Luna, Ovídio, Wilson Canegal), Dori Caymmi, Dominguinhos, Roberto Marques, entre outros, e dois clássicos:

De Volta pro Aconchego
(Dominguinhos e Nando Cordel)

Estou de volta pro meu aconchego
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo um sorriso sincero
Um abraço
Para aliviar meu cansaço
E toda essa minha vontade
Que bom
Poder estar contigo de novo
Roçando o teu corpo e beijando você
Pra mim tu és a estrela mais linda
Seus olhos me prendem, fascinam
A paz que eu gosto de ter
É duro ficar sem você
Vez em quando
Parece que falta um pedaço de mim
Me alegro na hora de regressar
Parece que eu vou mergulhar
Na felicidade sem fim.

Como se Fosse a Primavera (Canción)
(Pablo Milanez e Nicolas Guillén)

De que calada maneira
Você chega assim sorrindo
Como se fosse a primavera
Eu morrendo
E de que modo sutil
Me derramou na camisa
Todas as flores de abril

Quem lhe disse que eu era
Riso sempre e nunca pranto
Como se fosse a primavera
Não sou tanto
No entanto, que espiritual
Você me dar uma rosa
De seu rosal principal

Ide qué callada manera
Se me adentra usted sonriendo
Como se fuera
La primavera
Yo muriendo.

O disco Elba (Philips, 1987) tem como destaque maior a participação especial de dois mestres: Dominguinhos e Armandinho, que arrasam, e traz no repertório um xote de Moacyr Luz (e Sergio Souto), Lembrando de Você, e um xote-canção (acabei de inventar esse novo gênero :) de Almir Guineto e Adalto Magalha, a bonita Corcel na Tempestade:

Hoje meu coração é só saudade
Vive a adversidade
A tristeza mora em mim
Eu que já senti felicidade
Vivo a dura realidade
Nosso amor chegou ao fim
Com você deixei a mocidade
No teu corpo a virgindade
O que é bom vive tão pouco
Deixo o meu corcel na tempestade
Galopando na saudade
Procurando por você
Deixo o meu corcel na tempestade
Ando doida de saudade
De saudade de você

Meu amor não me esqueça
Nunca esquecerei
Em muito sonho ainda
Eu te encontrarei.

Elba gravou ainda neste disco um bonito "pupurri" (odeio "pupurri") do Jackson do Pandeiro, que começa com esta ótima:

Sina de Cigarra
(Jackson do Pandeiro e Delmiro Ramos)

Nasci com uma sina de cigarra
Aonde eu chegar tem farra
Iê ieiei, nasci pra cantar
Eu cantarei

Vive o pedreiro do prumo
A abelha do sumo
O pescador do anzol
O campeão da taça
O camelô da praça
E eu canto forró.

Eu normalmente detesto disco gravado ao vivo, mas o Elba ao Vivo, de 1989, eu gostei. O repertório foi muito bem escolhido. Elba gravou a primeira parte de um samba que eu amo, que foi grande sucesso da dupla Dalva de Oliveira/Francisco Alves, o Brasil, de Benedito Lacerda e Aldo Cabral:

Brasil
És no teu berço dourado
O índio civilizado
E abençoado por Deus
Brasil
Gigante de um continente
És terra de toda gente
E orgulho dos filhos teus

Tudo em ti nos satisfaz
Liberdade, amor e paz
No progresso em que te agitas
Torrão de viva beleza
De fartura, de riqueza
E de mil coisas bonitas
E porque tu tens de tudo
Porque te conservas mudo
Na tua modéstia imerso
Brasil
Eu que te amo
Nesse samba te proclamo
Majestade do universo.

E ainda esta belíssima música do nosso gênio maior, Aldir Blanc:

Imaculada
(Ary Sperling e Aldir Blanc)

Meu castelo é a casa da fazenda
Onde teço minha lenda
Sei, meu príncipe virá
Esse sonho bom que me alimenta
A espera é menos lenta
Se o desejo delirar
Eu prefiro assim pois com essa esfera
Domo a fera que há em mim
É imaculada a semente do prazer
Rosa ardente, cor florescer
A criança deixa ao paraíso
Fadas, córregos, sorrisos
A pureza virginal
Planta no seu seio adolescente
A maçã e a serpente
Do pecado original
Quero ser mulher no lugar e hora
Que meu príncipe quiser
E assim conquistada pela espada do querer
Continua a ser imaculada.

O único CD que eu tenho da Elba, Baioque (BMG, 1997), é muito bonito. Repertório excelente. Tem Raul Seixas, Belchior, Zé Ramalho, Chico Buarque, etc. Minhas prediletas:

Relampiano
(Lenine e Paulinho Moska)

Tá relampiano, cadê neném?
Tá vendendo drops no sinal pra alguém
Tá relampiano, cadê neném?
Tá vendendo drops no sinal pra alguém
Tá vendendo drops no sinal, ninguém

Todo dia é dia, toda hora é hora
Neném não demora pra se levantar
Mãe lavando roupa, pai já foi embora
O caçula chora, mas há de se acostumar
Com vida lá de fora do barraco
Há que endurecer um coração tão fraco
Para vencer o medo do trovão
Sua vida aponta a contra-mão

Tudo é tão normal, todo tal e qual
Neném não tem hora para ir se deitar
Mãe passando roupa do pai de agora
De um outro caçula que ainda vai chegar
É mais uma boca dentro do barraco
Mais um quilo de farinha do mesmo saco
Para alimentar um novo João Ninguém
A cidade cresce junto com neném.

Quando Chega o Verão
(Dominguinhos e Abel Silva)

Quando chega o verão
É um desassossego por dentro
Do coração
Quem ama sofre
Quem não ama sofre mais
Sofre a menina
Sofre o rapaz

Canário que muda a pena dói!
Amor que muda de penas dói!
E tome xote Mariquinha
E tome xote Sá Zefinha
E tome xote, ôi
E tome mais.

Ciranda da Rosa Vermelha

(Alceu Valença - Adapt. folclore)

Teu beijo doce
Tem sabor do mel da cana
Sou tua ama, tua escrava
Meu amor
Sou tua cana, teu engenho, teu moinho
Tu és feito um passarinho
Que se chama beija-flor

Sou rosa vermelha
Ai! Meu bem querer
Beija-flor sou tua rosa
E hei de amar-te até morrer

Quando tu voas
Pra beijar as outras flores
Eu sinto dores
Um ciúme e um calor
Que toma o peito, o meu corpo
E invade a alma
Só meu beija-flor acalma
Tua escrava, meu senhor
Que toma o peito, o meu corpo
E invade a alma
Só meu beija-flor acalma
Tua escrava, meu senhor

Sou rosa vermelha
Ai! Meu bem querer
Beija-flor sou tua rosa
E hei de amar-te até morrer.

Eu Também Quero Beijar

(Pepeu Gomes, Moraes Moreira e Fausto Nilo)

A flor do desejo e do maracujá
Eu também quero beijar
Haja fogo, haja guerra
Haja a guerra que há
Eu também quero beijar
Do Farol da Barra ao Jardim de Alá
Eu também quero beijar
Da pele morena daquela acolá
Eu também quero beijar

Beijo a flor
Mas a flor que eu desejo
Eu não posso beijar
Ai amor
Haja fogo, haja guerra
Haja a guerra que há
Teu cheiro
É o marinheiro
Do barco fantasma que vai me levar
Mundo inteiro
Haja fogo, haja guerra
Haja a guerra que há
Festejo.
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Tem outros discos ainda que eu gostaria de comentar mas vou deixar pra outra ocasião.
Abaixo, algumas fotos do nosso show em Mimoso do Sul, no Espírito Santo. Lugar belíssimo, com mais de 140 casas tombadas. Vejam que delícia...





Outra casa linda...


Aqui sou eu bancando a clarinetista (no fundo o público do nosso show de sábado)




Vista:




Cidade agradável demais da conta:



mais disquinhos

Sei que estou sempre atrasada, mas não quero deixar de comentar aqui alguns lançamentos que amei: o primeiro é o Grupo de choro Cochichando, formado pelos meus queridos amigos André Hosoi (bandolim e guitarra) Paulo Ramos (violão 7 cordas) João Poleto (sax e flauta) Ildo Silva (cavaquinho) e Ricardo Valverde (pandeiro e percussão). Fundado há seis anos, o grupo Cochichando lança seu primeiro CD, um dos ganhadores do Prêmio Ney Mesquita 2007, oferecido pela Cooperativa de Música do Estado de São Paulo.



Recheado de composições próprias e uma música de Pixinguinha (o Cochichando, claro!), os meninos gravaram ritmos diversos como baião, maxixe, samba e outras influências contemporâneas. Há composições do João Poleto (Chegando em Casa, Edelwise, Taxigirl em Manágua, Puladinho, Beliscando as Primas), do André Hosoi (Masushi, No Pagode de Jimmy Henrdrix, Baião de Areia e Ao Mestre João - dedicada ao nosso querido João Macacão) e uma do Paulinho Ramos, Dedeira com Chocolate. Na faixa Cochichando eles realizaram uma proeza: convidaram vários amigos músicos pra participar: Luisinho 7 cordas, Murilo Cabral, Henrique Araújo, Vitor Lopes, Amaral, Thiago França, Alexandre Ribeiro, Léo Rodrigues, Gian Correa, Samba e eu! Ficou demais. Não deixem de conhecer esse lindo CD.
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Outro disco que tive a honra de participar e que ameiiiiiiii foi o do meu queridíssimo amigo e talentoso baterista e pianista Alex Buck (Irmãos de Som, Fubá Music). Está lindíssimo. Aqui é possível ouvir trechos das músicas.


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Outro CD bem bonito é do cavaquinista e compositor Assis Freire (Um Chorinho pra Você), paraibano que mora em Brasília já há muitos anos. Todas os choros são de autoria dele.
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Um CD que não é lançamento mas que só conheci agora é o do Grupo Comboio, do meu querido amigo Vinícius Barros, o Vinni.
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Quero comentar também sobre um novo lançamento do violonista e compositor Ed Gagliardi: ele já lançou cinco CDs de uma série chamada Circle of Choro, que está sendo distribuída na Inglaterra. São discos com suas composições e a participação de vários chorões aqui de SP. Infelizmente, não achei nenhum link dos cds pra pôr aqui. Quando eu tiver um scaner prometo divulgar a capa ;-)
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Mais um lançamento que adoreiiiiiii: do multiinstrumentista Arismar do Espírito Santo com o guitarrista uruguaio Leonardo Amuedo, Essa Maré. Trata-se de um tributo a Ivan Lins. (Rob Digital)



Mais:

* Sergio Coelho, Trombone.
* Scott Feiner, Pandeiro Jazz.
Conheci o Scott rapidamente no Bar Semente, no Rio, há alguns anos. Tive o prazer de reencontrá-lo há poucos meses aqui em Sampa, fui convidada por um amigo pra fazer a produção de um show do Scott aqui no Sesc Paulista, foi um show muito bonito, com uma excelente banda, vale a pena conhecer seu trabalho e também seu ótimo site. Scott está lançando já o segundo CD.
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Ah, sim, não posso deixar de falar de um saxofonista que descobri graças à minha querida amiga Mariza Ramos (superpesquisadora!): o Al Gallodoro. Eu achava que conhecia saxofonistas bons, mas olha, esse cara é um Deus. Impressionante mesmo, não deixem de ouvir Al Gallodoro.
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Outros CDs que estão no meu som:

* Novos Quilombos, do Ernesto Pires. Conheci o Ernesto no Bom Motivo em 1988, ele fazia o maior sucesso cantando no estilo voz/violão. Seu disco é muito bonito, tem sambas de sua autoria, do Wanderley Monteiro, do Wilson Moreira, etc.

* Rosa Emília, Baiana da Guanabara. Um tributo ao compositor Nelson Ângelo. Bonito CD (Lua Discos).

* Juliana Amaral, Águas Daqui (Lua Discos) - Primeiro CD da Juliana. Bem bonito, mas vou falar aqui do segundo, que foi lançado recentemente, se der ainda neste post.

* Zé Luiz, Do Império Serrano (Pôr do Som) - Bonito CD do grande compositor Zé LUiz. Encarte belíssimo, músicas lindas, músicos da pesada. Vale a pena.

Em breve volto com mais novidades (ou não! ;-)

sexta-feira, julho 18

Não é Assim

Paulinho da Viola

Não é assim que se faz
É melhor dizer a verdade
Tudo não passou de um sonho
Não quero viver enganado
Houve um tempo de ternura
Quando o nosso amor nasceu
Hoje eu vejo nos teus olhos
Que a flor do nosso amor morreu

Os teus olhos não escondem
Aquilo que eu não esperava
Usa de sinceridade, agora
Quero ouvir tuas palavras
O teu amor em minha vida
Foi mais uma ilusão
Que tentarei mais uma vez, na despedida
Apagar do meu coração.
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Terça-feira, junho/2008, no Ó do Borogodó. D. Inah, Carlinhos (tantã), Roberta Valente (pandeiro), Zé Barbeiro (violão), Fabrício Rosil (cavaco), Stanley Carvalho (clarinete).