quinta-feira, agosto 24

Aldir Blanc

"Amigos: Estou enviando minha crônica em resposta ao senador ACM que me chamou de "canalha". Não foi possível publicá-la, mas faço questão que ela seja lida pelo maior número possível de pessoas. Por favor, colaborem. Abraços, Aldir Blanc".

Este foi o e-mail do Aldir pro Eduardo Goldenberg, que pediu para os amigos divulgarem a resposta de Aldir, o que faço com o maior prazer.

"BOLÔ-FEDEX

Leva, meu samba, meu mensageiro, esse recado...

O Sena-Sênior ACM, vulgo Malvadeza, me acusou de ser “um elemento lulista infiltrado” no JB. E concluiu seu arrazoado (?) me chamando de canalha.

Senadô-Skindô, por mais que eu viva nenhum elogio me trará orgulho maior do que ser chamado de canalha por V. Excrescência. Quem lê minha coluna sabe que o pau canta à direita, à esquerda e, claro, no centro, com igual prodigalidade.

Espero que a grande famiglia pefelista já tenha providenciado junta médica competente para lubrificar os parafusos do Cacicão. A julgar pelas suas mais recentes declarações, as encrencagens, desculpem, engrenagens, estão precisando de uma lubrificada urgente: ginkgo biloba, piracetan, talvez um viagrinha...

O senador, craque em prestidigitação, mais uma vez misturou as bolas: combatividade é muito diferente de baba paranóica escorrendo gravata parlamentável abaixo. A ojeriza é mútua. Estou farto de maquiavelhos de fraldão deitando regras. Toda essa mixórdia envolvendo valeriodutos, mensaleiros, sanguessugas e saúvas, começa com políticos da sua estirpe. O mecanismo é manjado. Se as denúncias favorecerem meu partido, palmas, vamos apurar. Agora, se a canoa virar, o denunciante passa a bandido e fim de papo, vai ser preciso buscar a propina em outro guichê.

A máscara-de-pau que descrevo acima é suprapartidária. Os que não a exibem são as exceções que confirmam as regras vigentes. Quando as regras rompem os diques e escorrem periferia abaixo, não há Lembo Pétala-Macia que evite derramamento de sangue - na maioria dos casos, inocente. Mas o meu negócio não é discurso, é galhofa. Já que falei em bolas misturadas...

Dizem que um velho político pefelista, preocupado com as más performances nos palanques, procurou um médico, antigo cupincha de castelo e carteado.

- Tô com um problema, num sabe? Bem na... plataforma de lançamento.
- Hein?
- Pois é. Gases. Uma coisa impressionante. Além das explosões e dos odores, tem hora que chego a levitar. Uma assessora já foi arremessada contra meu contador de caixa 2. Estão hospitalizados. Isso não pode continuar.

O amigo explicou que aquela não era a especialidade dele, mas que pensaria no assunto, conversaria com colegas renomados, faria até pesquisa na internet.

No comício seguinte, o esculápio apareceu com um vidro misterioso, sem rótulo, e entregou ao político:
- É pra...

Mas o tumulto, o puxa-saquismo, os vivas, a euforia bem remunerada impediram a necessária e urgente troca de informações. Cerca de meia hora depois, o SSJE (Secretário para Superfaturamento Junto a Empreiteiras) agarrou o ilustre médico pelo paletó.

- Corre que o Chefe tá pegando fogo nas... nas partes baixas.
- O quê?!?

O socorrista encontrou o parlamentável feito um bebê, sem calças, com uma brutal reação alérgica na proa da região pélvica.

- Mas... Eu mandei você beber a poção e você esfregou nos...
- No calor da luta política, eu confundi peido público com pêlo púbico.

Aldir Blanc"

quarta-feira, agosto 23

Coisas 1

Logo Agora
(Jorge Aragão/Jotabê)

Agora, justamente agora
Agora que eu penso ir embora você me sorri
Me sorri
Passou a noite inteira
Com seu amor do lado
Fingiu um bocado
Mas hoje em dia os amores são assim
Ele foi embora
Nem faz uma hora
Pensando quem sabe nos beijos
Que você lhe deu
Tolo...
Pensou que beijar sua boca foi consolo
Despertou o instinto da fêmea
Que agora quer se deixar abater
Se sentir caçada, dominada até desfalecer
Agora eu entendo o sorriso
Ele é que não entendeu
Se não fez amor com você
Faço eu
Logo agora...
____________________________________________
Gravada lindamente por Emílio Santiago. Aprendi esta música lá por 1987, com meu amigo Valtinho, violonista do Bom Motivo Bar, na época. Hoje Valtinho toca todos os sábados no Bar do Cidão. É uma delícia escutá-lo, aprendi muitoooo com ele, dono de um repertório infinito.

Escrevi isso agora porque deu saudades, mas eu vim aqui mesmo é pra contar que fui pra Paraty, para participar da Flip (http://portalliteral.terra.com.br/Literal/calandra.nsf/0/F169BF0250561A61032571C4008124C5?opendocument&pub=T&proj=Literal&sec=Especial). Que evento lindo, puxa vida. Bem-organizado, barato, estimulante, enfim, minha tendinite me impede de contar os detalhes. Claro que a cidade já está pequena pra grandeza e importância do evento, mas isso não me incomodou em nada. Beijar e abraçar Adélia Prado, dentre outros ídolos, foi bastante compensador (http://www.estadao.com.br/arteelazer/letras/noticias/2006/ago/13/56.htm).

E ouvir Ferreira Gullar declarar que não quer ter razão, mas sim ser feliz, também foi inesquecível (http://www.estadao.com.br/arteelazer/letras/noticias/2006/ago/14/252.htm).

E amei conhecer autores maravilhosos como Toni Morrison, Reinaldo Moraes, André Sant'anna, Lourenço Mutarelli, André Laurentino. Admirei profundamente Christopher Hitchens, mesmo discordando de suas opiniões polêmicas, e soube que o Gabeira teve crises de estrelismo ao se recusar a autografar livros por conta do tamanho da fila (a mesma em que ficou Adélia Prado por mais de duas horas dando autógrafos).

Num dos eventos "off-flip" tive o prazer enorme de conhecer a "Ciranda de Paraty"... são senhores tocando violão, cavaquinho, viola, pandeiro (não como é tocado no samba e no choro, mas sim como é tocado na chula), cantando e dançando lindamente. Fiquei muito emocionada, que bom que eles mantiveram a tradição daquele gênero tão rico. E, na mesma noite, assisti o show do grupo Ciranda Elétrica. Trata-se da nova geração de músicos de Paraty, que acrescentam instrumentos como a guitarra, o baixo e a percussão à ciranda tradicional. Não faz muito meu gênero, mas achei fantástico os jovens recriarem a ciranda, atentos à tradição.

No mais, encontrei amigos queridíssimos e conheci pessoas muito interessantes. Dentre eles, minha amada Maria Martha, grande cantora, pessoa MARAVILHOSA, que arrancou lágrimas de meus olhos no domingo, quando fui escutá-la no agradável Margarida Café. Como essa mulher canta, meu Deus. Gostaria tanto de ver a Maria tendo o merecimento que merece! ai, que mundo injusto.

Bom, espero poder voltar no ano que vem.

Ah, sim, ia me esquecendo... Paraty continua uma cidade linda de morrer. Vi a lua nascer, cheia e alaranjada, na beira do rio, dois dias seguidos. Indescritível. No entanto, foi muito triste ver índios na rua como mendigos, vendendo seu belo artesanato, com suas crianças dormindo na calçada fria. Acho que a prefeitura de lá bem que poderia tomar uma atitude a esse respeito. É isso!

quarta-feira, agosto 9

saudade deles...


E hoje faço um brinde em homenagem a dois amigos amados que partiram antes da hora e que não saem do meu coração: Fernando Toledo (na foto com Áurea Alves em 2004) e Ney Mesquita (na foto, à minha esq, no bar do Alemão em 03-04). Meu amigo Edu, como sempre, fez uma bela homenagem ao Fernando: http://butecodoedu.blogspot.com/2006/08/entrevista-fausto-wolff.html

E lá se foi mais um mestre:

O compositor e arranjador Moacir Santos morreu no domingo, em Los Angeles, na Califórnia (EUA), onde morava. Ele estava internado há dois dias, depois de ter sofrido um derrame. O corpo do músico será enterrado em Los Angeles. Ele deixa mulher, Cleonice Santos, e um filho, Moacir Santos Filho. O músico fez 80 anos, no último dia 26 de julho, dias depois de ter ganhado o Prêmio Shell de Música. Nos últimos anos, o cantor teve a sua obra relançada no Brasil com o álbum Ouro Negro. Este ano, lançou Choros & Alegrias. Parceiro de Vinícius de Moraes, o pernambucano Moacir Santos começou a tocar clarinete aos 11 anos. A carreira começou no sertão do estado em bandas. Nos anos 40, foi morar em São Paulo, onde foi contratado pela Rádio Nacional. Além de instrumentista, atuava também como maestro e arranjador. Foi professor de Roberto Menescal, Nara Leão e Sergio Mendes. É considerado um dos grandes mestres da renovação harmônica da MPB. Seu primeiro disco, Coisas, foi lançado em 1965 pelo selo Forma. Mais tarde fez trilhas para cinema, trabalho que o levou aos Estados Unidos. Entre suas composições mais célebres estão Nanã, Menino Travesso, Triste de Quem e Se Você Disser que Sim, todas com Vinicius de Moraes. O parceiro Vinícius o homenageou no Samba da Bênção (com Baden Powell): "Moacir Santos/ tu que não és um só, és tantos/ como este meu Brasil de todos os santos". http://www2.correioweb.com.br/cbonline/brasil/pri_bra_72.htm

Mais informações aqui: http://www.bmth.blogspot.com/

Demorou...

Sândoli é obrigado a deixar presidência da OMB
Agência Carta Maior
Carlos Gustavo Yoda

Passou despercebido pela mídia. Mas, Wilson Sândoli, depois de 42 anos presidindo a Ordem dos Músicos do Brasil, foi obrigado a deixar o cargo em julho. A juíza da 12ª Vara Cível Federal de São Paulo, Elizabeth Leão, determinou que Wilson Sândoli renunciasse a uma das presidências do Conselho Federal ou do Conselho Regional da mesma entidade. Sandôli optou por deixar o Conselho Nacional, cargo que ocupava desde uma intervenção após um golpe contra a então diretoria.Para a juíza, é ilegal a ocupação simultânea de cargo de presidente nos conselhos regional e federal. “O Conselho Federal é hierarquicamente superior ao Conselho Regional, cabendo ao primeiro, dentre outras atribuições, a fiscalização do funcionamento dos Conselhos Regionais, sendo óbvia, patente, a impossibilidade de cumulação de cargos de direção de dois órgãos”, afirmou.

A ação foi apresentada há três anos por um grupo de músicos, representado pelo advogado Marcel Nadal Michelman, contra a OMB e seus conselhos federal e regional em São Paulo. Além de questionar o acúmulo de cargos, os autores da ação pediam a suspensão da cobrança das anuidades da carteira de músico. Alegaram que a OMB estava inadimplente com suas obrigações legais de fiscalização da profissão. Também reclamaram de fraude em contratos internacionais em que a Ordem interveio. Afirmaram que havia simulação nos contratos fechados com músicos estrangeiros e acusavam a OMB de colocar no papel um valor menor do que o combinado.O processo foi acolhido em parte, apenas para determinar que Wilson Sandoli escolha qual cargo queira exercer. Caso ele descumprisse a sentença, a juíza autorizava a intervenção nos Conselhos Federal e Regional de São Paulo. Depois da saída de Wilson Sandoli, a OMB tem 90 dias para fazer as eleições.

ALGUMA COISA ESTÁ FORA DA ORDEM

Mas foi uma vitória para quem há tempos espera alguma mudança na Ordem. O próprio ministro da Cultura, Gilberto Gil, falou que a OMB já incomodava desde a época da ditadura e que "não há lugar para ela hoje em dia". Gil chegou a afirmar em uma palestra há um mês que a OMB é "obsoleta" e "burocrática". O cantor e compositor ministro disse que a instituição deveria ser extinta, caso não reformule seus métodos e sua função na sociedade. Ele falou que a OMB já incomodava desde a época da ditadura e que "não há lugar para ela hoje em dia".Toda essa crise de representatividade ficou evidente há um mês, quando a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Ellen Gracie, arquivou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada pela Ordem dos Músicos do Brasil. A ação pedia a anulação da regra que proibiu os showmícios e eventos similares com a finalidade de promover candidatos políticos e as reuniões eleitorais (leia aqui).

A regra foi estabelecida na Lei 11300/06 que instituiu a minireforma para as eleições deste ano modificando a Lei 9504/97.O argumento da OMB era de que o dispositivo contraria o artigo 5º da Constituição Federal, que prevê a livre expressão de atividade artística e o de exercício de trabalho. Além disso, alega ofensa ao artigo 6º que assegura o trabalho como direito social do indivíduo.Em sua decisão, a ministra Ellen Gracie observou que, de acordo com decisão anterior do Plenário do STF, os conselhos e ordens profissionais não são entidades de classe e por isso não detêm a legitimidade para propor ações diretas de inconstitucionalidade. A exceção é o caso do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil que “por sua particular trajetória na defesa da sociedade e da ordem jurídica, foi incluída pelo constituinte no rol do artigo 103 da Constituição, ou seja, por outras motivações que não dizem respeito à sua natureza jurídica”.

FORA DE ORDEM

O Fórum Nacional Permanente de Músicos, que nasceu no FSM de 2005, tem tornado o debate público e articulado com a Frente Parlamentar de Cultura apoio para aprovar no Congresso as modificações necessárias para a democratização da Ordem. Hoje está em trâmite, com chances de ser aprovado ainda este ano, o projeto de lei 2838, de 1989. O projeto amplia a participação dos músicos na entidade (leia aqui).O projeto modificaria, por exemplo, o mandato dos conselhos para dois anos. Hoje, os mandatos são de três anos, sendo renovados anualmente a partir do quarto ano da primeira gestão. A estrutura é questionada pelos músicos, porque acaba favorecendo a permanência das mesmas pessoas por muitos anos.Du Oliveira, músico goiano membro do Fórum, afirma que a entidade demonstrou toda a sua fraqueza em não conseguir levar a ação adiante devido ao desgaste e falta de participação com a classe ao longo dos anos. “A Ordem não é realmente uma entidade representativa. Nunca ofereceu nenhum benefício ao músico. Não defende os interesses da classe. Ela só serve para reprimir os que não pagam suas taxas”, pontua.

A TRAJETÓRIA DE SÂNDOLI

A Ordem dos Músicos do Brasil nasceu em 1960, por Juscelino Kubitschek, no mesmo ano da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O primeiro presidente foi perseguido politicamente. Wilson Sândoli, delatou seu único antecessor como comunista. Sândoli assumiu a Ordem, então, como interventor, em 1964. Apenas no mês passado foi obrigado a abandonar o Conselho Nacional, mas continua na presidência da regional.Hoje, no quadro dirigente, não há nomes expressivos sob o ponto de vista artístico. Ao ser criada, em 1960, os conselhos regionais e federal eram compostos pela fina-flor da música, gente como Heitor Villa-Lobos, Radamés Gnatalli e Francisco Mignone.

O idealizador da OMB foi o paraibano José de Lima Siqueira que, ao falecer, na cidade do Rio de Janeiro, em 1985, além de óperas, cantatas e concertos, deixou um currículo de agitador cultural. Compositor, regente, professor e musicólogo, Siqueira criou e dirigiu três orquestras - a Sinfônica Brasileira, a Sinfônica do Rio de Janeiro e a Sinfônica Nacional.Por outro lado, todo o poderio político de Sândoli é inversamente proporcional ao de sua carreira artística. Ele atuou como crooner de algumas casas noturnas no Centro de São Paulo, entre os anos 50 e 60. O presidente da OMB diz ter gravado um disco em toda a vida, que nunca ninguém sabe qual é, conforme reportagens publicadas na grande imprensa.A OMB possui cerca de 50 mil inscritos em todo o país. Desses, pouco mais de 8 mil estão em dia com as anuidades. Em fevereiro de 2000, o departamento jurídico do Conselho Regional de São Paulo emitiu uma carta cobrando os inadimplentes e informando que aqueles que não quitassem seus débitos ficariam automaticamente suspensos do exercício profissional.

O SILÊNCIO DE SÂNDOLI

Depois da publicação da reportagem “Músicos estão próximos de conseguir mudanças na OMB” (leia aqui), de maio deste ano, a reportagem tentou localizar Wilson Sândoli a responder às acusações do Fórum dos Músicos e questionamentos de alguns músicos acerca da OMB enviadas à Carta Maior. A secretária do então presidente pediu para que as perguntas fossem encaminhadas por e-mail que elas seriam respondidas.Já se passaram mais de dois meses que as perguntas foram encaminhadas. Nenhuma resposta. Toda semana a reportagem liga cobrando. “Ele vai responder”, diz a voz do outro lado.

Sândoli caiu em partes. Ainda preside o Sindicato Paulista e o Conselho Regional. Vitória tímida, mas importantíssima para alimentar a luta por democracia dentro da entidade. Mas depois de 42 anos, ficam as perguntas:

- Ao que se deve permanência tão longa do Senhor a frente do Conselho Federal dos Músicos (mais de 40 anos)?

- Sendo o Conselho Federal dos Músicos composto de 9 membros e de igual número de suplentes, eleitos por escrutínio secreto e maioria absoluta em 0assembléia dos delegados dos Conselhos Regionais, o senhor não acha que a utilização da chamada diretoria provisória nos regionais (Art. 5 da Lei n° 3.857: “São atribuições do Conselho Federal: e promover quaisquer diligências ou verificações, relativas ao funcionamento dos Conselhos Regionais dos Músicos, e adotar, quando necessárias, providencias convenientes a bem da sua eficiência e regularidade, inclusive a designação da diretoria provisória”; prejudicou a renovação efetiva do Conselho Federal, já que quanto mais conselhos regionais sob intervenção maior as chances de permanecer no comando do Órgão?

- Temos informação de que alguns Conselhos Regionais sofreram intervenção simplesmente por discordarem da atuação do senhor. Com a designação de diretoria provisória (sem eleição obviamente dos músicos) o que se fala é que os conselhos não indicavam delegados para a eleição do Conselho Federal, e isso teria facilitado sua permanência à frente da OMB todos esses anos. Era realmente uma estratégia? O que o senhor tem a dizer sobre isso?

- Considerando que um Músico Profissional de nível médio pode ser contratado entre 18 e 24 anos pra ser sargento músico dos Fuzileiros Navais e ganhar salário inicial de R$ 1.500,00 e de outro lado a Universidade Federal pode contratar músicos-técnicos de nível superior (para Sinfônica) por R$ 900,00, a OMB ou o sindicato tem algum estudo ou proposta de um piso Salarial?

- Se os músicos práticos representam porcentagem expressiva do quadro de associados na OMB e não têm direito a voto, se não se tem controle sobre as delegacias que funcionam em residencias particulares nas cidades do interior (caso comprovado do Rio de Janeiro), como alegar legitimidade eleitoral e política, se um percentual presumido de no mínimo 50% ou mais da classe não pode votar. E os votos do interior vem de delegados "indicados" e sem o menor controle?

- Por que convidada a participar da câmara setorial do Ministério da Cultura em julho de 2005 onde estiveram presentes representantes do ECAD, ABPD, ABMI, ABEM, ABM, Sindicato do Rio, e 12 representantes de Fóruns dos estados além de representantes do MinC e do MTE, a OMB não encaminhou representante na reunião que discutiu a regulamentação e trabalho do Músico Brasileiro? Não reconhece o Ministério da Cultura e o Ministério do Trabalho e Emprego como órgãos oficiais de implementação de políticas públicas na área da música?

- Onde foi empregado a porcentagem devida à OMB do dinheiro dos contratos dos shows de artistas estrangeiros que se apresentaram por aqui nesses mais de quarenta anos do(s) seu(s) mandato(s)?

- No ano passado o antecipamento das eleições gerou uma grande polêmica. Para que elas fossem antecipadas não seria necessário a alteração do código eleitoral pelo conselho?

- Na sua avaliação, qual é a função da Ordem dos Músicos do Brasil?

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=11892&editoria_id=12

domingo, agosto 6

A implosão da mentira













(Affonso Romano de Sant'Anna)

Fragmento 1

Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.
Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.

Fragmento 2

Evidente/mente a crer
nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo
permanente.
Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.
Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o sangue quente. Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre.
Mentem fabulosa/mente
como o caçador que quer passar
gato por lebre.
E nessa trilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.
E assim cada qual
mente industrial?mente,
mente partidária?mente,
mente incivil?mente,
mente tropical?mente,
mente incontinente?mente,
mente hereditária?mente,
mente, mente, mente.
E de tanto mentir tão brava/mente
constroem um país
de mentira
—diária/mente.

Fragmento 3

Mentem no passado. E no presente
passam a mentira a limpo. E no futuro
mentem novamente.
Mentem fazendo o sol girar
em torno à terra medieval/mente.
Por isto, desta vez, não é Galileu
quem mente.
mas o tribunal que o julga
herege/mente.
Mentem como se Colombo partindo
do Ocidente para o Oriente
pudesse descobrir de mentira
um continente.
Mentem desde Cabral, em calmaria,
viajando pelo avesso, iludindo a corrente
em curso, transformando a história do país
num acidente de percurso.

Fragmento 4

Tanta mentira assim industriada
me faz partir para o deserto
penitente/mente, ou me exilar
com Mozart musical/mente em harpas
e oboés, como um solista vegetal
que absorve a vida indiferente.
Penso nos animais que nunca mentem.
mesmo se têm um caçador à sua frente.
Penso nos pássaros
cuja verdade do canto nos toca
matinalmente.
Penso nas flores
cuja verdade das cores escorre no mel
silvestremente.
Penso no sol que morre diariamente
jorrando luz, embora
tenha a noite pela frente.

Fragmento 5

Página branca onde escrevo. Único espaço
de verdade que me resta. Onde transcrevo
o arroubo, a esperança, e onde tarde
ou cedo deposito meu espanto e medo.
Para tanta mentira só mesmo um poema
explosivo-conotativo
onde o advérbio e o adjetivo não mentem
ao substantivo
e a rima rebenta a frase
numa explosão da verdade.
E a mentira repulsiva
se não explode pra fora
pra dentro explode
implosiva.
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A noite escura e mais eu é o nome do belo livro de contos de Lygia Fagundes Telles, que li esta semana. Também li O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway, numa tacada só. Gostei muito. Ler é a única coisa que me dá prazer agora que estou, já há dias, com o braço engessado (por conta da maldita e incurável tendinite).