segunda-feira, janeiro 28

Chico Hipocondria

(Luis Fernando Gonçalves/Aécio Flávio)
gravado por Leny Andrade

Chico Hipocondria
Era encucado e sismado que sofria
De arritmia, cardiopatia, pneumonia
Que tinha o sangue ruim

Tinha mania, tinha fobia
Unha encravada e um calo que doía
E tinha um dedo da mão que não mexia
De nevralgia, tinha anemia
Um olho ardia e tinha azia

E um belo dia
Sua mulher se internou pra ter um filho
Que correria, que gritaria, uma histeria
Quando nasceu o neném
O pobre Chico se contorcia
Com dor de parto também.
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Me identifiquei demais com essa música... :-(

sexta-feira, janeiro 25

Trilha sonora dos últimos meses

Tenho ouvido muitos discos que amo, conhecido novos ótimos trabalhos e outros não tão bons assim... Cito aqui alguns discos que não tem saído da minha vitrola ;-)

* Nara Leão - Meu Primeiro Amor e Raridades.
Neste último disco tem uma marcha-rancho belíssima do Sidney Miller, que canta com a Nara:

Menina da Agulha

Que menina é aquela
Que vem de tão longe?
Tão longe
Tão triste e pensativa
Ela vem de onde
Que rosto é o rosto dela
Que sorriso esconde
Que sonho vem com ela
Menina, me responde

Eu ando por aqui
Por aqui assim
Assim
À procura de uma agulha
Que eu aqui perdi
Era agulha que bordava
Meus vestidos, meus encantos
Meus dias coloridos
Meu Deus… e foram tantos

Menina, vá pra casa
Vá dizer a seu pai
Seu pai
Que uma agulha que se perde
Não se acha mais
Eu achei, brinquei com ela
Espetei meu coração
Na dor foi-se o brinquedo
No amor fez-se a canção

Vem viver
Que a vida inteira roda
Roda uma estrada, um violão e um canto
Roda à procura eterna de um recanto
Onde outras rodas possam se encontrar
E cantar como eu cantava outrora
Quando ao meu canto respondia a aurora
Em versos claros como a luz do dia
Em que a poesia cantará o amor.

E mais uma do Sidney Miller:

Maria

Encontrei numa escola de samba Maria
Deixando cair na folia
Dizendo que era rainha do cordão
Desfilando com manto de ouro e coroa
Mandando sorrisos à toa
Pro povo aplaudir sua evolução

Quarta-feira voltou para casa
E a patroa não tinha mais samba
Pra ela, nem viu seu retrato
Na folha de jornal
E agora Maria escutando novela
Botando no fogo a panela
Espera chegar outro carnaval

Até quando, meu Deus, vai durar
A batida se toda alegria da vida
Maria espera plantada no portão
Afinal tudo o que ela reclama é sossego
Pra dar atenção ao seu nego,
Sambista sem fama, sem nome, sem tostão.

Outra marcha do mesmo disco

Cordão do Zepelin
(Sá, Rodrix e Guarabyra)

De Zepelin, só de Zepelin
A gente brinca os quatro dias sem parar
De Zepelin, só de Zepelin
A gente passa o Carnaval em pleno ar
Isabel me dê a mão
Vamos subir neste balão
A vista lá de cima dá vontade de voar
O Carnaval não tem começo nem tem fim
Pra quem ataca no cordão do Zepelin.

E ainda este disco brilhante traz três lindos sambas-enredo:

Nordeste: seu povo, seu canto e sua glória
(Wilson Diabo da Cuíca/Maneco/Heitor) - Império Serrano, 1971

Nordeste, o canto da tua gente
No Império está presente
Para se comunicar
No fandango irradias alegrias
Lendas, rezas, fantasias
Tudo isso faz lembrar
Dona Santa desfilou desde menina
O pierrô, a colombina
São eternos foliões
Pastorinhas, cirandeiras na cidade
Sai o bloco da saudade
Entram em cena os cordões

Eia, eia, eia, boiada
Eia, eia, o vaqueiro canta assim
Plantador colhe e semeia
Suplicando pra chover
Arrastão feliz na areia
As rendeiras a tecer
Olê olá olê olê
Quando a lua se alteia
Cantador canta vitória
Viola afinada ponteia
O canto de um povo em glória
(No nordeste)...

Sublime Pergaminho
(Zeca Melodia/Nilton Russo/Carlinhos Madrugada) - Unidos de Lucas, 1968

Quando o navio negreiro
Transportava os negros africanos
Para o rincão brasileiro
Iludidos
Com quinquilharias
Os negros não sabiam
Ser apenas sedução
Pra serem armazenados
E vendidos como escravos
Na mais cruel traição

Formavam irmandades
Em grande união
Daí nasceram festejos
Que alimentavam o desejo
Da libertação
Era grande o suplício
Pagavam com sacrifício
A insubordinação

E de repente
Uma lei surgiu
E os filhos dos escravos
Não seriam mais escravos
No Brasil

Mais tarde raiou a liberdade
Àqueles que completassem
Sessenta anos de idade
Ó sublime pergaminho
Libertação geral
A princesa chorou ao receber
A rosa de ouro papal
Uma chuva de flores cobriu o salão
E o negro jornalista
De joelhos beijou a sua mão
Uma voz na varanda do paço ecoou:
"Meu Deus, meu Deus
Está extinta a escravidão".

O Mundo Fantástico do Uirapuru
(Tatu/Nezinho/Campo) - Mocidade Independente de Padre Miguel, 1975

Sonhei, sonhei, sonhei
Com a floresta encantada
E seu pequenino rei
Vi o sol, os rios e as matas
Vi sonoras cascatas
Espelhando o céu azul
E ao longe eu ouvia
Em som de magia
O canto do uirapuru
Lendário pássaro cantor
Quando canta o seu amor
Todos param pra escutar

E quem ouvir o seu cantar
Abraça a sorte, afasta o azar

E no auge do meu sonho
O uirapuru surgiu
Na imensidão da floresta
Enriquecendo o folclore do Brasil
Eu acordei com seu canto original
Radiante de alegria porque era carnaval.

Outros discos deliciosos:

* Grupo Cochichando - Dos meus queridos amigos João Poleto, Paulinho Ramos, Ricardo Valverde, Ildo Silva e André Hosoi. Lindo CD com choros autorais (do João, do Paulinho e do André) e um Cochichando que dura dez minutos (com participação de vários amigos chorões daqui de SP, eu inclusive ;-) Recomendadíssimo!
* Transcontinental - Lindo disco instrumental do violinista e bandolinista americano Ted Falcon e do gaitista braziliense Pablo Fagundes. Também tive a honra de participar desse CD, ao lado deles e do Alessandro Penezzi no violão.
* Clarice Assad - Invitation
* Josildo Sá & Paulo Moura - Samba de Latada
* Marcelo Vianna - Cai Dentro (tributo a Baden e Paulo César Pinheiro): traz músicas lindas, dentre elas algumas que eu adoro:

Paciência

Viu, se viu
Todo fim de um falso amor é a solidão
Quem deixou ruínas em meu coração
Leva o mal de sua própria ingratidão
Vai, que agora que tudo vai bem
Pois bem
Se quiser me rebater
É claro que eu não vou correr
Foi um caso sem maiores proporções
Que só por mim teve seus momentos bons
E só em mim permaneceu
Sei lá
Eu sei lá se é necessário lhe dizer
Pois agora nada tem nenhum valor
E minha paciência terminou.

Mesa Redonda

Quem quer mesmo a paixão
Não deixa a solidão voltar
Porque assim certamente vai chorar

Eu sempre disse pra você
Nem todo pecado tem perdão
Tem coisa que não dá pra esquecer
Acho que acertei mais uma vez
Você fez o que fez
Ainda tentou me esconder
Ora veja você
Eu falei, eu tentei
Insisti, avisei, repeti
E cansei de dizer
Parece que nada adiantou
E quando vê tudo apertar
Você manda me chamar
Mas não vou, não vou, não dá, não vou

Tá acabada essa parada
E agora é cada qual no seu lugar
Não tem nada se a jogada dela
É ver a lua em vez de um lar
Quem quer mesmo a paixão
Não deixa a solidão voltar
Porque assim certamente vai chorar
É, quando alguém magoa um coração
Não se alimenta mais essa ilusão
Eu até que não sou de negar meu perdão
Mas uma ingratidão não consigo entender
Eu não.

* Ney Mesquita e Lincoln Antônio - Quintal - do meu querido cantor Ney Mesquita e do pianista Lincoln, indispensável.
* Berço do Samba de São Mateus - disco também antológico. Vou escrever sobre ele depois.
* Moyseis Marques - Primeiro disco de um grande e jovem intérprete carioca. Vou escrever com calma depois.
* Maurício Pereira - Pra Marte
* Ed Gagliardi - Circle of Choro vol. 5 - violonista de 7 cordas amigo meu que está lançando uma série de discos de choro com suas composições em Londres
* Redandá - Candomblé Angola - Da coleção da Barca, lindo, lindo.
* Rafael Velloso - Sax Chorando - bonito CD do saxofonista carioca Rafael, com quem fiz show no Ó do Borogodó outro dia. Traz várias músicas do mestre Luiz Americano.
* Claudionor Germano - Capiba, 25 anos de frevo
* Patato - The Legend of Cuban Percussion (disco fantástico!)
* Grupo Mente Clara - Do meu amigo César, grande saxofonista, também vale a pena conferir.
* Grupo Batuque na Cozinha
* Vários discos da "minha" gravadora, a Maritaca, todos excelentes:
- Theo de Barros
- Bocato e Léa Freire - vols. 1 e 2
- Nenê - Porto dos Casais
- Zéli - em Movimento (lindíssimo disco)
- Bonsai - Desdobraduras
- Trio Corrente
- Léa Freire - Cartas Brasileiras - (cd belíssimo, obrigatório!)
* Giana Viscardi - 4321
* Beth Carvalho - Programa Ensaio
* Guilherme de Brito - Samba Guardado
* Casuarina
* Elizeth Cardoso - Uma Rosa para Pixinguinha
* Izabel Padovani e Ronaldo Saggiorato - Tons (amo, amo, amo esses dois)
* Aldir Blanc - Vida Noturna (nem vou comentar)
* Chico Buarque - Pelas Tabelas
* Isaurinha Garcia - Programa Ensaio
* Paulinho da Viola - Prisma Luminoso
* Tim Maia - Racional
* Cartola - Programa Ensaio
* Ney Matogrosso - Pescador de Pérolas
* Nana Caymmi - Nâna
* Cartola - (II, da gravadora Marcus Pereira)
* Renato Anesi - Dez Anos Depois
* Elizeth Cardoso - Mulata Maior
* Guilherme de Brito e Trio Madeira Brasil - A Flor e o Espinho
* Chico César - De Uns Tempos pra Cá
* Karina Ninni - Pelo Retrovisor - Diretamente do Pará...
* Orquestra Tabajara - Anos Dourados, Chorinho
* João Nogueira - Os grandes da MPB. Traz, dentre outros grandes sambas, o belíssimo Retrato de Saudade, dos gênios Raphael Rabelo e Paulo César Pinheiro:

"Essa dor que enche meu peito de ansiedade é de amor
É uma herança, um resto de lembrança
Um laço de saudade
Essa dor é o retrato sem cor da minha mocidade
É minha ausência de paz
Minha falta que faz minha cara-metade
Essa dor é uma aparência de serenidade sem valor
É um castigo, um sofrimento antigo, uma fatalidade
É o fardo de um sonhador
Mas não guardo nenhum rancor
E aprendi a poder conviver com essa dor.

Essa dor que sem eu perceber me invade a me expor
É um desgosto, um risco a mais no rosto
Em plena flor da idade
Essa dor é o que me restou de uma velha amizade
É uma sombra no ar sempre a me acompanhar
Pelo chão da cidade
Essa dor é uma carência de felicidade que acabou
É um espinho cravado em meu caminho atrás de eternidade
É um lamento desolador que eu já nem tento mais me opor
Porque agora eu já sei: vou morrer com essa dor."
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Termino com esta bela imagem do meu paraíso predileto, Cajaíba