sexta-feira, julho 13

Nossa História

Yehuda Amichai

Na história de nosso amor, um foi sempre
Uma tribo nômade
Outro uma nação em seu próprio solo.
Quando trocamos de lugar, tudo tinha acabado.
O tempo passará por nós, como paisagens
Passam por trás de atores parados
Em suas marcas
Quando se roda um filme.
As palavras
Passarão por nossos lábios, até as lágrimas
Passarão por nossos olhos.
O tempo passará
Por cada um em seu lugar.
E na geografia do resto de nossas vidas,
Quem será uma ilha e quem uma península.
Ficará claro pra cada um de nós
No resto de nossas vidas
Em noites de amor com outros.

(tradução de Millôr Fernandes)
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Recebi este poema lindo do meu querido amigo carioca Helion Póvoa.

E estou na "fase" Carlos Pena Filho

Soneto Superficial e Esguio Como Madame

Madame, em vosso claro olhar, e leve,
navegam coloridas geografias,
azul de litoral, paredes frias,
vontade de fazer o que não deve
ser feito, por ser coisa de outros dias
vivida num instante muito breve,
quando extraímos sal, areia e neve
de vossas mãos, singularmente esguias.

Que eternos somos, dúvida não tenho,
nem posso abandonar minha planície
sem saber se em vós há o que em vós venho

buscar. E embora em nós tudo nos chame,
jamais navegarei a superfície
de vosso claro e leve olhar, Madame.
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A Solidão e Sua Porta

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha)
Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

Arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida

Com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório.
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Desmantelo Azul

Então pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas
depois vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas
Para extinguir de nós o azul ausente
e aprisionar o azul nas coisas gratas
Enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas

E afogados em nós nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço

E perdidos no azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.
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É com tristeza que soube outro dia do falecimento de um amigo querido que conheci na noite, o Armandão, ou o Armando dos Bichinhos, como era conhecido. Foram exatos 20 anos de encontros quase que diários nos bares da vida, em especial no Bom Motivo, onde o conheci, e no Ó do Borogodó, onde o encontrava, no mínimo, três vezes por semana. Sem sombra de dúvida eu era uma de suas fiéis clientes: comprei centenas de bichinhos, para minha coleção, que é grande, e pra presentear amigos. Meu querido Fernando, do Só Dói, parceiro de tantas aventuras nesses vinte anos, escreveu um lindo texto, que pode ser lido aqui, uma belíssima e justa homenagem ao Armandão.
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E graças a outro amigo querido, o Bruno Ribeiro, descobri outro dia que a gravação que fiz com o Paulo César Pinheiro, sua esposa, a excelente cavaquinista Luciana Rabello e seus filhos Aninha e Julião, pro programa Sr. Brasil, foi publicada no YouTube.
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Pra não perder o costume, quero comentar aqui sobre um disco - que há anos eu desejava e que ganhei dos meus amores Fer e Ste - o ótimo Vida de Compositor, do cavaquinista, cantor e compositor Wanderley Monteiro. Como esse disco está lindo. Bom, o Wanderley é um mestre. A primeira vez que ouvi falar nele foi quando o conheci, em 1996, na casa da Beth Carvalho. Ela gravou o samba Vida de Compositor, do Wanderley em parceria com Álvaro Maciel, no disco Brasileira da Gema. E fez uma festa em sua casa pra todos os compositores do disco. E foi lá que eu o conheci, me apaixonei imediatamente por esse samba, obra-prima. A Beth gravou outro grande sucesso do Wanderley no Pagode de Mesa 2, Água de Chuva no Mar, em 2000, e regravou esse tremendo sucesso no disco dele. Outros sambas que eu amo que estão presentes nesse CD são Quem Dera Coração, na voz da Iracema Monteiro (que eu também adoroo) e Não Vou me Iludir, só pra citar algumas. Vale elogiar o trabalho do produtor e músico Paulão 7 Cordas, e de todos os músicos do disco. DISCAÇO!

Vida de Compositor
(Wanderley Monteiro e Álvaro Maciel)

Caiu, meu samba-enredo caiu
Caiu por terra meu coração
Nada de mágoa, ressentimento
Tudo em prol da agremiação
Linda melodia, linda poesia
Não achei defeito algum
Mas samba-enredo
Só ganha um

Um samba é um pedaço de nós
Inspirado, feito com amor
Caiu, vou consolar o parceiro
Primeiro vou consolar minha dor
Essa é a vida de compositor.
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Água de Chuva no Mar
(Wanderley Monteiro)

O meu coração hoje tem paz
Decepção ficou pra trás
Eu encontrei um grande amor
Felicidade enfim chegou
Como um brilho do luar
Em sintonia com o mar
Nessa viagem de esplendor
Meu sonho se realizou

A gente se fala no olhar
É água de chuva no mar
Caminha pro mesmo lugar
Sem pressa, sem medo de errar
É tão bonito
É tão bonito o nosso amor
A gente tem tanto querer
Faz até a terra tremer
A luz que reluz meu viver
O sol do meu amanhecer é você.
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Não Vou me Iludir
(Wanderley Monteiro e Álvaro Maciel)

Sei que posso suportar
E essa dor pode até passar
Mas eu não vou me iludir
Ser feliz é impossível
Um grande amor
Quando vai não vai à toa assim
Sem deixar uma ferida
Um vazio ruim

Como posso ser feliz
Se nem a dor passou
Como posso ser feliz
Se o corte não cicatrizou
Ai, ai, meu Deus
E esse tempo que não passa?
Ai, meu Deus
Sufoca que nem fumaça
E coloca uma mordaça
Calando meu coração
Ai, meu Deus
Nem um passeio na praça
Ai, meu Deus
Nem um gole de cachaça
Me devolve aquela graça
Que eu tinha no coração.
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Quem Dera, Coração
(Wanderley Monteiro)

Quem dera, coração
Que o azul do céu descesse à Terra
Trazendo união
E com amor vencesse a guerra

E a desilusão
Fosse levada pra bem longe
Local aonde a dor se esconde
Pra não ferir nem magoar o que é seu

Quem dera, coração
Que no soar de uma alvorada
Ela acorde iluminada
E reconheça sua ingratidão

Eu só queria coração
Ouvir seu reconhecimento que errou
O amor não morre em momentos, não senhor
Quando se tem uma paixão
Não pode ser em vão

Que bom seria se este amor
De um lindo campo fosse a mais bela flor
Pra colorir todo o meu amanhecer
Para que só me enxergasse com você.
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Vale lembrar que dia 07/07/07, sábado passado, completei longos e cansados 37 anos. Nunca contei aqui que nasci no dia 07/07/70, no quarto 707, sétimo andar? Pois é! Acho que é por isso que sou assim ;-)

Será que esta música que eu adorooooo, gravada pelo Renato Braz, foi feita pra mim? Brincadeiras à parte, a simbologia desse número é riquíssima.

7 x 7
(Guinga e Aldir Blanc)

Sete mares, sete léguas
Sete palmos, sete quedas
Sete estrelas formam a Ursa
Sete encruzilhadas
Sete veis sim
Sete veis não

Sete cores do arco-íris
Sete arcanjos, sete virgens
Sete notas na viola
Sete grãos de trigo
Sete veis céu
Sete veis chão

Sete noites que me fecho
Sete dias que me abro
Sete velas brancas
Sete candelabros
Sete foram as paixões
Sete ilusões

Sete selos, sete portas
Na hora sete vem Eva
Tenho sete namorados
Sete voltas na coleira do cão
Sete orações

Sete é o quatro da terra
Como três, luz, filho e rei
Homem de sete instrumentos
No sétimo eu descansei

Sete apóstolos pescando
No evangelho de João
Um Jesus Cristo sete vezes
Dos seus sonhos a questão

Pelos sete ferimentos
Em teu sutil coração
Eu setenta vezes sete
Preciso pedir perdão.