domingo, maio 4

Umas e outras...

Hoje fui acordada às onze da madrugada por crianças gritando Palmeiras, por buzinas ensurdecedoras e fogos de artifício. Clima de Copa do Mundo nas ruas. Nunca vi isso... Futebol nunca me incomodou, mas confesso que é um assunto que começa a me irritar. Eu, que sempre morei perto do Palmeiras e praticamente nasci dentro do clube, ando estressada com toda essa paparicação em torno do futebol e afins... Ai, que preguiça! Meus amigos - do choro, do samba, das letras... todos, todos só falam em futebol. Que preguiça! Sem falar que o trânsito aqui no meu pedaço anda congestionadíssimo por conta dos jogos (e dos shows também que têm acontecido no clube). Impossível. Não posso mais passar na frente do Palmeiras porque está sempre parado ali, até porque fizeram um shopping (o Bourbon) ao lado do clube, coisa mais horrorosa que já vi em termos de arquitetura em toda a minha vida, e ali não se passa mais sem ficar pelo menos quinze minutos parado. Já que toquei nesse assunto, que tristeza ver no que está se transformando meu amado bairro (Pompéia) e adjacências. A Vila Romana, onde passei minha adolescência ao lado de meus amigos da escola, correndo pelas suas ruas arborizadas e desertas, repletas de casinhas e casarões charmosos, luta há anos contra a verticalização, mas as poucas casas que resistiram estão indo abaixo, dando lugar aos prédios altíssimos, chiquérrimos, alguns, horrorosos outros. Nesta foto é possível ver o Sesc, o Dic (loja de calçados já demolida que marcou minha infância), a minha casa onde morei quase sempre e a Vila Romana lá pra trás.



A Pompéia virou bairro chique... cada prédio que tem ali agora... dá até susto de ver. Idem as Perdizes (onde moro agora) e já estão atacando a Barra Funda... Tem casas lindas sendo demolidas. Onde será que isso vai parar?

Nesta foto aqui é possível ver a fábrica que deu espaço ao Sesc Pompéia (o prédio verde existe ainda hoje, fica na Clélia, na frente do Sesc quase). Minha ex-casa é na rua de trás, a casa coberta por aquela planta (unha de gato) em toda a sua fachada. É triste ver o que virou esse bairro hoje...



Nesta foto, então, dá até vontade de chorar... a fábrica que deu espaço ao Sesc Pompéia, a chácara que tinha ali (na Barão do Bananal) e no fundo a Av. Francisco Matarazzo, com suas fábricas que deram espaço aonde é hoje esse nojo desse Shopping Bourbon (que nem conheço ainda, não tive vontade). Bom, fico com os olhos marejados.



Melhor mesmo é escrever sobre música!

Praça 14 Bis

Um samba muito bom
Que me contagiou
Me ganhou
Bixiga amanheceu
Vai Vai já ensaiou
Clareou

Foi quando o farol fechou
Da praça
O samba me chamou
Se o samba vem do Rio
E da Bahia
O samba também vem
São Paulo sempre tem
Bixiga é o samba do lugar

Só que vem aqui dirá
Igual a mim
São Paulo é bom de amar
E assim o samba vem
Paulistamente eu vou cantar.
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Lindíssimo samba de Eduardo Gudin que estará no próximo CD da D. Inah.

Do Tatuapé, do Tucuruvi
(Henrique Vilar)

Eu nunca vi a Portela
Se eu sei que a Portela é bela
Foi de ouvir contar
Eu não conheço o Salgueiro
Se me sobrasse um dinheiro
Eu ia até gostar
A Beija-Flor, não duvido
De que ostente o colorido
De um colibri
A Imperatriz, nem se fala
Mas o samba que me embala é o daqui

Do Tatuapé, do Tucuruvi
Do chão do Carrão, do asfalto do Anhembi
Do Limão à Sé, da Sé ao Limão
Onde aprendi dedilhar meu violão

Não vi o mar nem o Cristo
Ninguém pode sem ter visto
Dar seu parecer
O meu olhar, meu tesouro
Viu tantas rosas de ouro ao entardecer
Não vi dançar o arvoredo
A lua nasce mais cedo no Peri-Peri
Que me perdoe o poeta
Mas o samba que me espeta é o daqui

Do meu Tietê, do meu Catumbi
Da Luz, do Perus, da Vila Jacuí
Onde pus o pé, onde dei a mão
Onde a Dorinha roubou meu coração

Não vi o mar, vi a garoa
E vi minha gente boa nela padecer
Até que o samba começa
A dor se não cai tropeça até o amanhecer
Eu não nasci em Mangueira
Mamãe era benzedeira lá no Mandaqui
Não canto versos de afronta
É que o samba que me conta é o daqui

Do meu Canindé, do meu Caxingui
Impérios da Casa-verde e Cambuci
Lá da Lavapés, nossa tradição
Que a Mocidade-Alegre esquece não
Treme Tremembé sem deixar cair
Que um samba de Sapopemba vem aí
Vem que vem com fé
Vai-Vai vai me dar razão
Ao sacudir os quadris de uma nação.
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Outro belo samba sobre SP, este do estreante Henrique Vilar, presente no CD Coisas sem Grito.

Publico aqui pra começar bem a semana uma foto com minha querida (e linda) Iara.

4 Comments:

Blogger Szegeri said...

Robertita, Robertita... Só não vou dizer que essa reclamação contra o futebol parece papo da minha tataravó dizendo que é "por isso que o Brasil não vai pra frente", porque vc redimiu-se, ao final, publicando a foto da Mais Linda de Todas. Na minha modestíssima, quem não entendeu a dimensão trágica do futebol como uma das mais profundas expressões da alma brasileira, perdeu, sem dúvida, uma parte absolutamente fundamental da história toda. No mais, o Palestra está lá desde 1914. E o trânsito está parado há um mês e meio... A culpa é do futebol? Não podemos perder o foco da nossa crítica. A culpa da transformação de bairros tradicionais da cidade - e, por conseqüência, seu modo de vida - nesses horrorosos templos do modo de vida pequeno-burguês da classe média-alta paulistana inculta, estúpida e sem cara, é , de um lado, das relações capitalistas e sua face mais perversa na cidade (a especulação imobiliária); de outro, esse desprezo histórico dessa classezinha meio-endinheirada que espelha-se na elite-dona do Brasil em seu desprezo pelo povo brasileiro e suas formas de vida. Que tem medo da rua como espaço de mediação social.

maio 07, 2008 6:55 PM  
Blogger Unknown said...

Oi Roberta! Quanto ao futebol, dispenso comentários, mesmo porque sou corinthiana desde que me conheço por gente. Agora quanto à destruição dos bairros de SP, eu choro! Nasci e cresci na Mooca, outro bairro super antigo e cheio de coisas características. Quando vou visitar meus pais, me assusto com cada coisa horrorosa se erguendo, com as casas que não vejo mais. E a luta pra preservar o antigo Moinho Santo Antonio, que por enquanto permanece lá, mas não sei até quando. Isso sem falar no bairro que moro agora, o Paraíso, onde surgem castelos com nomes do tipo "Acrópoles" "Maison não sei o quê", cheio de engravatados nas portas, com seus rádios protegendo os moradores de sei lá o quê! Melhor mesmo falar sobre música...

maio 10, 2008 4:08 PM  
Blogger Eloá said...

Melhor não falar de futebol, pois eu gosto mesmo é do Corinthians...rsrs. Quando ao resto, concordo. O melhor de tudo foi reembrar o samba do Gudin e cantarolar paulistamente. Bjs. Eloá

fevereiro 05, 2011 11:54 AM  
Blogger Nick Gleiton said...

Ai que lindoo, imaginei mesmo que pompeia era do eito que você descreve com tudo aqui, as casas, fabricas a arvoes, lojas etc, também concordo sobre arquitetura do bourbon não gosto desse shooping, trabalho do Lado no McDonalds (Madrugada) e sempre que limpo fora de loja me pego respirando o ar antigo daquele lugar, como era ou como poderia ter sido sm aquele amutuado de predios modernos e sem tantos carros muito menos sem tanto "narizes impinados" as pessoas ali so se interessam nelas mesmas agora, nada de coisas boas da história do passado :( Mais eu gosto! :)

julho 01, 2012 9:56 PM  

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