domingo, agosto 30

mais discões

No mês passado tive o prazer enorme de conhecer a cantora Elisa Paraíso e o violonista Thiago Nunnes, de Belo Horizonte. Gravei com eles e com meu ídalo Toninho Ferragutti o programa Sr. Brasil, que foi ao ar há duas semanas. Pois bem, ela tem dois CDs lançados, o maravilhoso Da Maior Importância e o novíssimo O Nordeste de Lua, um belo tributo a Gonzagão. Amei o trabalho deles, não deixem de conhecer. De seu primeiro disco (adorei a regravação):

Da Maior Importância
(Caetano Veloso)

Foi um pequeno momento, um jeito
Uma coisa assim
Era um movimento que aí você não pôde mais
Gostar de mim direito
Teria sido na praia, medo
Vai ser um erro, uma palavra
A palavra errada
Nada, nada
Basta quase nada
E eu já quase não gosto
E já nem gosto do modo que de repente
Você foi olhada por nós

Porque eu sou tímido e teve um negócio
De você perguntar o meu signo quando não havia
Signo nenhum
Escorpião, sagitário, não sei que lá
Ficou um papo de otário, um papo
Ia sendo bom
É tão difícil, tão simples
Difícil, tão fácil
De repente ser uma coisa tão grande
Da maior importância
Deve haver uma transa qualquer
Pra você e pra mim
Entre nós

E você jogando fora, agora
Vá embora, vá!
Há de haver um jeito qualquer, uma hora!
Há sempre um homem
Para uma mulher
Há dez mulheres para cada um
Uma mulher é sempre uma mulher etc. e tal
E assim como existe disco voador
E o escuro do futuro
Pode haver o que está dependendo
De um pequeno momento puro de amor

Mas você não teve pique e agora
Não sou eu quem vai
Lhe dizer que fique
Você não teve pique
E agora não sou eu quem vai
Lhe dizer que fique
Mas você
Não teve pique
E agora
Não sou eu quem vai
Lhe dizer que fique.


Mulher do Norte
(Makely Ka e Kristoff Silva)

Jamais se submeta a mim
Pois posso lhe escravizar
Não é porque eu seja ruim
É como sei amar

Você não deve permitir
Não deve nunca se entregar
Sempre se atreva a resistir
Sem recuar

Pois eu vou tentar
Vou lhe confundir
Vou fugir
Retornar
Vou me transformar
Me reconciliar

Até você reconhecer
No meu somente o seu prazer
Quando você se perguntar por si e se desconhecer
Não tente me dizer
Isso é com você
Seja forte como um mulher do norte tem que ser
Para sobreviver.

Mané Fogueteiro
(Braguinha)

Mané fogueteiro era o rei das crianças
Na vila distante de Três Corações
Em dia de festa fazia rodinhas
Soltava foguete, soltava balões
Mané Fogueteiro gostava da Rosa
Cabocla mais linda este mundo não tem
Porém o pior é que o Zé Boticário
Gostava um bocado da Rosa também

Um dia encontraram Mané Fogueteiro
De olhos vidrados, de bruços no chão
Um tiro certeiro varava-lhe o peito
De volta da festa do Juca Romão
E como os que morrem de tiro conservam
A última cena nos olhos sem luz
Um claro foguete de lágrimas frias
Alguém viu brilhando em seus olhos azuis.
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Com a especialíssima participação do Guinga, no violão e na voz. Guinga é apaixonado por essas músicas lindas das décadas de 30, 40... Essa gravação me lembrou o dia em que ele foi ao Ó do Borogodó e cantou horas com a gente ali, coisa simplesmente inesquecível. Dá pra ver aqui, aqui e aqui.



Recentemente conheci um excelente flautista/saxofonista canadense chamado Tom Keenlyside. Tenho ouvido muito dois de seus CDs, Altered Laws - Metaphora (com quarteto) e Synergy, em duo com o pianista Miles Black. Ambos muito bonitos.
Na foto, Tom dando uma canja na roda de choro do Izaías do Bandolim com o próprio e os violonistas Giba e Israel.

E um disco que não consigo parar de ouvir - Rancho Carnavalesco Flor do Sereno, lançado pela Acari. Eu adoro marcha-rancho, sou realmente suspeita. Mas o disco tem um timaço de músicos e compositores, arranjos refinados e lindas composições, lindas, lindas. Simplesmente impecável.
Duas das minhas prediletas:

Rancho Novo
(Maurício Carrilho e Paulo Cesar Pinheiro)

Rancho do dia
Rancho da noite
Ranchos já são antigos cordões
Mas os foliões não

As velhas canções são lindas
As novas serão bem-vindas
Até me comovo de ver sangue novo
Fazer nosso povo cantar

Rancho das nunvens
Rancho das flores
Rachos virão
Como os Rouxinóis
Calar sua voz não

Que a marcha de amor
Não finda
Tem gente que faz ainda
E ainda é pequeno
Mas tem rancho novo
É o Flor do Sereno
Cantando pro povo
E em paz.
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Flor da Serenata

(Maurício Carrilho e Paulo Cesar Pinheiro)

Não posso ver um rancho desfilar
Que eu vou atrás
Lembro dos velhos carnavais
A Flor do Resedá, do Ameno
Não morreu pra gente
Só virou Flor do Sereno
E eu vou seguindo os seus metais
E eu vou sonhando...
Até parece que voltaram os tempos
Esses tempos que não voltam mais

Flor do Sereno foi plantada
Pela madrugada
No jardim do coração
Flor do Sereno é flor da serenata
É azul, é verde e prata
No cetim do pavilhão
E a lua provoca amores casuais
Na rua, que os ranchos são sentimentais
E oferta Flor do Sereno a todos os casais
Que vão brincando em paz.
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Outros discos deliciosos:

* Ernesto Nazareth por Ronaldo do Bandolim - O grande bandolinista apresenta neste CD quinze músicas desconhecidas do pianista Ernesto Nazareth. Lindo.


* Linha d´água, de Ana Luiza e Luis Felipe Gama - divino! Na página deles no MySpace dá pra ouvir algumas das lindas músicas deste disco. Eles regravaram uma música que eu amo, do Renato Teixeira, que participa da faixa, Amora:

Depois da curva da estrada
Tem um pé de araçá
Sinto vir água nos olhos
Toda vez que passo lá

Sinto o coração flechado
Cercado de solidão
Penso que deve ser doce
A fruta do coração

Vou contar para o seu pai
Que você namora
Vou contar pra sua mãe
Que você me ignora

Vou pintar a minha boca
Do vermelho da amora
Que nasce lá no quintal
Da casa onde você mora.

* Lúdico Navegante, do cantor, violonista e compositor Fabio Cadore - Dono de linda voz, Fabio Cadore é acompanhado em seu primeiro disco por feras como Fabio Torres, Josué dos Santos, Cleber Campos, Rubinho Antunes, etc.


* Saudosismo, de Elaine Guimarães e André Bedurê (gravadora Pôr do Som) - traz músicas de Nelson Cavaquinho, Cartola, Caymmi, etc. Das novas gostei da Vampiro Tupiniquim, da cantora Andréia Dias:

O tempo todo eu fico pensando
O que fazer agora, como e quando começar
A vida inteira vou me perguntando
Quando esta paranóia vai se acabar

Não tenho pressa pra comer o banquete
Se você preferir, passe na frente
Estou cansada de papo furado
Todo mundo tem complexo de Presidente

E uma inclinação…
Astrólogo de plantão
Psicólogo de botequim
Treinador da Seleção
Vampiro Tupiniquim.

* Cara do Brasil, de Celso Viáfora - Adoro esse disco, gosto muito da voz do Viáfora, suas músicas... Este cd só tem fera, só pra citar alguns: Proveta, Guello, Edu Ribeiro, Arismar do Espírito Santo, Juçara Marçal, etcs mil. Várias parcerias de Celso com Vicente Barreto, uma parceria com Guinga:

Di Menor
(Guinga e Celso Viáfora)

Sábado de noite, nenhum canto pra ir
Soube dum forró
Bem perto daqui
Disse: só vai ter balzaca e velho blasé
Tô numa pior
Fui pra conhecer

Logo na calçada deu pra ver que eu errei
A moçadinha não tinha mais que dezesseis
Sei... Sei...
Onde foi que eu parei?
Aquela gatinha tá me olhando por quê?
Não tirou nem o RG
Pode crer...

Meu anjo da guarda se chegou pra dizer
“Ela é di menor
vê o que vai fazer”
Três da madrugada já não dá pra saber:
Ela é de menor
Eu sou de beber
Meu anjo com cara de quem pensa: “sujou...”
Chamei a gata pra dança e a criança topou
“Vou! Vou!”
Foi batendo um calor
Tirou a jaqueta e veio de bustier
O anjo desencanou:
“Vai ferver...”

Viu como não dá pra saber
O que é bom pra ferida?
Se entrasse numas, não tava ali
Feliz da vida
Foi aí que ela viu
O guri que chegou
E quando a pista se abriu
A minha gata gritou
Quer ver dançar forró?
Oi só o tio!
Tio é o fiofó da santa mãe que a pariu!

Auto-Retrato
(Celso Viáfora)

Tenho a Bahia pelo meu parceiro
Rio de Janeiro: o Salgueiro é de lá
O resto é tudo babaquice de bairrista
Eu sou paulista, meu
E vivo em todo lugar
Música, pra mim, é água
Meu Viagra milenar
Nasci com a banda militar na frente
No quarteirão de cima a Tiradentes
Onde rolava o carnaval da gente
E em casa um tio tocando Bach
Moro na maior cidade do Nordeste
O que é que há?

Falar no fole da sanfona agreste
O meu vizinho era o the best, dona
No macarrão dominical da nona
Ficava ouvindo ele tocar

O canto da lavadeira ouvi no Rio Paraná
A velha banda de retreta, puxa!
O som da música gaúcha, eta!
Fui a Belém pelo amigão porreta
Que me ensinou o siriá
Tudo que não tá no sangue
No suingue pode estar
Tá lá no frevo do Capiba
(Beba!)
Tá lá na banda de Ipanema
Viva!
Tá no forró da Paraíba
Eba!
Tá na maneira de escutar.

À Benção
(Celso Viáfora)

À benção o que bate lata no Pelô
À benção o que toca flauta no metrô
À benção o tamborim mirim da Beija-Flor
E o velho bombardino do interior
À benção quem primeiro batucou em algo oco por dentro
À benção quem primeiro tirou música do sopro do vento
À benção quem primeiro conseguiu resumir o sentimento
Na frase musical que pôs no ar
À benção o que salga o couro do tambor
À benção o que funde o ferro do agogô
À benção o operário que faz o motor
Que move a polia que gira o lixador
À benção o ajudante que afia a ponta do estilete
Para o artesão equilibrar o sopro de um clarinete
À benção o carpinteiro que montou a perna do cavalete
Aonde o luthier vai trabalhar

Ô... benção quem suou
Suou pro meu som soar.

* E já que estou falando de Celso Viáfora, vou publicar aqui duas das músicas que mais gosto dele, presentes no CD Palavra, bonitas no úrtimo.

Santo Expedito
(Celso Viáfora)

A vida me fez aprender a não ser infeliz
E isso já é uma forma de felicidade
Se o vento parar eu escuto o que o silêncio diz
Se a chuva apertar eu escuto a tempestade
Espero por aqui
o tempo bom chegar
Sem impedir
Sem empurrar
Não deixo de lutar
Pelo que sempre quis
E quem não quer viver feliz?

Dizer que a minha vida é uma beleza
Beleza, o quê? Beleza, nada...
É só que eu não me caso com a tristeza
Tristeza, não: prefiro a madrugada

Eu sou devoto de Santo Expedito
Quando ninguém crê eu acredito
Ninguém vai lá ver
Eu vou!

Crença

(Celso Viáfora)

A casa do Deus em que acredito
É onde mora Nossa Senhora
Maomé ora com Jesus Cristo
Ao som ancestral dos tambores
Do Congo, do Keto e de Angola
Moisés e Buda colhem flores
Tupã dança para o infinito

Tem Gandhi ensinando amar
Tem hippie fazendo amor
Tem teatro Nô e batuque
Quermesse, kizomba e quarup
Na casa de Deus em que acredito
Tem madres de Calcutá (o-iaiá)
Menininhas de Salvador (a-ioiô)
Martin Luther King e Carlitos
Partes do mesmo monolito
Da casa do Deus em que acredito.
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1 Comments:

Anonymous Pavan said...

Roberta, obrigado pela indicação lá na Agenda do Samba&Choro!
Já linkei seu blog lá no meu.
bjs
Pavan

setembro 04, 2009 1:13 PM  

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