quinta-feira, fevereiro 9

Flor das Estradas

Há muito tempo que sou apaixonada pela família Caymmi. Aliás, que família, não? Dorival é um dos grandes compositores da história da música brasileira. E que voz, meu Deus. Que voz. Uma das músicas mais lindas do mundo é de sua autoria: Dora (aquela lá, rainha do frevo e do maracatu...). Se eu tivesse uma filha, certamente se chamaria Dora. Bom, e o que falar de seus filhos, Nana, Dori e Danilo? Um melhor do que o outro... Nana é uma das cantoras mais incríveis da MPB. Timbre único, bom gosto máximo, divina. Danilo e Dori também são da pesada. Fazia muito tempo que eu não ouvia um disco do Dori. Eis que no fim de semana passado ouvi seguidamente o LP Dori Caymmi - 1982, um dos mais lindos de sua carreira. Com apenas dez músicas, uma mais incrível do que a outra, oito em parceria com o "Deus das Letras" Paulo Cesar Pinheiro, uma do pai, Dorival, e uma apenas sua. Disco verdadeiramente espetacular. E não consigo parar de ouvir Flor das Estradas, vejam que coisa linda, aqui com Dori e Renato Braz.

Flor das Estradas
(Dori Caymmi e Paulo Cesar Pinheiro)

A luz que brotava da mata
No meio da noite parada
Não vinha da lua inquieta
Mas da inspiração do poeta
Cabelos de fogo de prata
Que em lágrimas de serenata
Formava um colar de sereno
Caindo no colo moreno
Da flor das estradas

A cor que raiava lá fora
Nos pórticos da madrugada
Não vinha da luz deslumbrante
Mas do alumbramento do amante
De mãos transbordantes de aurora
Que em sua paixão noite afora
Bebeu mel de leite e veneno
Na fonte do seio pequeno
Da moça encantada

O som que crescia na rua
Durante o esplendor da alvorada
Não vinha da luz nem da cor
Mas sim da alma do trovador
Bordada de estrela e de lua
A andar por aí toda nua
Cantando seu cântico ameno
Pra aquela que é dona do reino
Da passarinhada.